sábado, 24 de novembro de 2007

O tímpano e a pupila

Num dos pratos o mar, no outro um rio, agora
que o tempo se desossa,
que as pedras
que piso se me enterram na memória e os caminhos
se me aguçam na alma como lâminas, o pão
molhado nas feridas,
o pão
ele próprio já também uma ferida, agora
que o tempo, que já tanto
compararam a um rio, mais
não é do que uma leve exsudação nos muros,
nas mãos, agora
que o céu se encrespa e que pedaços
de mundo arremessados
com toda a força aos olhos revolteiam
na treva antes de se extinguirem,
mais magro do que a neve
caminho, a alma aberta como uma ferida,
ao longo da memória, onde se fundem
o tímpano e a pupila.

Luís Miguel Nava

3 comentários:

Camila... disse...

Olá João, tudo bem? Cheguei até aqui pela poesia de Nuno Judice, que eu adoro, e acabei descobrindo e relembrando tantas outras, igualmente belas.

Gostei muito das suas, que não conhecia.

Um abraço,
Camila

João Rasteiro disse...

É sempre uma grande satisfação "aparecer" por aqui alguém que se "surpreenda". É esse acontecimento que realmente motiva...
Assim, Camila, só desejo que apareça mais vezes.
Um beijinho,
joão rasteiro

Anónimo disse...

Olha que lindo as beijocas virtuais e as surpresas. Já parece um poema do maldicias. Olhe os plágios...