quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"O Indesejado"

A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) decidiu atribuir a Medalha de Honra a título póstumo a Jorge de Sena. O poeta falecido em 1978 nos Estados Unidos e cujos restos mortais serão agora trasladados para o cemitério dos Prazeres na primeira quinzena de Setembro, sem dúvida "um dos maiores nomes da poesia portuguesa de todos os tempos e uma das figuras mais marcantes da nossa vida cultural do século XX", "vê" passado 21 anos(!!!) ser-lhe hipocritamente atribuida esta "honraria" - para ele, ou para a SPA?

Esta considera que "o regresso definitivo de Jorge de Sena a Portugal encerra um longo ciclo de desencontro e afastamento que tão profundamente marcou a sua vida e a sua obra, e que tão profundamente marcou a cultura portuguesa do século XX". Desencontros e afastamentos, na verdade foram bastantes, neste país já estamos habituados, não é fácil conviver com (os poucos) os "grandes" que misteriosamente por vezes surgem na cultura e sociedade portuguesa.


Relativamente à sua poesia, Jorge Sena afirmou um dia que ela representava "um desejo de independência partidária da poesia social, um desejo de comprometimento humano da poesia pura, um desejo de expressão lapidar, clássica, da libertação surrealista, um desejo de destruir pelo tumulto insólito das imagens qualquer disciplina ultrapassada e sobretudo um desejo de exprimir o que entende ser a dignidade humana - uma fidelidade integral à responsabilidade de estarmos no mundo". Saberão estes senhores, saberá Portugal, o que isto quer dizer?

Um Epílogo
Quando estes poemas parecerem velhos,

e for risível a esperança deles:

já foi atraiçoado então o mundo novo,

ansiosamente esperado e conseguido

- e são inevitáveis outros poemas novos,

sinal da nova gravidez da Vida

concebendo, alegre e aflita, mais um mundo novo,

só perfeito e belo aos olhos de seus pais.

.

E a Vida, prostituta ingénua,

terá, por momentos, olhos maternais.

........................Jorge de Sena, in 'Coroa da Terra'


http://cvc.instituto-camoes.pt/figuras/jdesena.html

http://www.astormentas.com/din/poemas.asp?autor=Jorge+de+Sena

http://www.jornaldepoesia.jor.br/sena.html

http://www.citador.pt/poemas.php?poemas=Jorge_Sena&op=7&author=1110

1 comentário:

Luís Costa disse...

Sem dúvida, um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos.

Um poeta de costas direitas .

Viva o Sena!


AS EVIDÊNCIAS

X

Rígidos seios de redondas, brancas,
frágeis e frescas inserções macias,
cinturas, coxas rodeando as ancas
em que se esconde o corredor dos dias;

torsos de finas, penugentas, frias,
enxutas linhas que nos rins se prendem,
sexos, testículos, que inertes pendem
de hirsutas liras, longas e vazias

da crepitante música tangida,
húmida e tersa na sangrenta lida
que a inflada ponta penetrante trila;

dedos e nádegas, e pernas, dentes.
Assim, no jeito infiel dos adolescentes,
a carne espera, incerta, mas tranquila.

27/ 2/ 1954