domingo, 22 de novembro de 2009

"A Poesia Portuguesa Hoje" - VI

Avançando com a publicação dos poetas (6º), pela ordem de inserção na revista, que incluí na antologia de poesia portuguesa que organizei recentemente para a revista Colombiana ARQUITRAVE (http://www.arquitrave.com/principal.html), hoje o poeta referenciado, como habitualmente, com dois dos poemas escolhidos para a antologia, conjuntamente com a respectiva análise critica à sua poesia e que integra o ensaio de introdução da antologia "A Poesia Portuguesa Hoje", é o poeta valter hugo mãe:
(...)"uma poética que de alguma forma se evidencia pela originalidade, em relação a outras poéticas da década de 90. É uma poesia onde sobressai o cuidado colocado em cada palavra, que permite um pleno domínio do poema que se adensa em múltiplos sentidos. Nesta poesia redescobre-se o gosto pelo belo enquanto grotesco. Por vezes, um metaforismo “grotesco” serve de suporte a uma poesia arabesca. Uma poesia de verso contido e lapidar, quase sempre à direita da página e que é um fruto maduro e arrebatador. Como refere Eduardo Pitta, a dimensão conotativa afasta valter hugo mãe de outros novíssimos: nem melancolia programática, nem misticismo (malgré Deus), nem excesso de complacência". - João Rasteiro
.
dois.
.
se te cansares de mim, não me peças que
chore. deixa-me secar lentamente como
pelo tempo, mais me custará, porque mais
lento verterei a alma para a morte. no entanto,
dá-me esperança de que não partirás,
aguardo-te muito quieto, muito quieto
para não atrapalhar os teus planos como quem
não quer assustar a caça. mas sou a presa,
eu sei que sou a presa. e tu podes vir reclamar-me
o couro com toda a violência, já não me importo
.
cinco.
.
deixei sobre a mesa o dinheiro
que necessitas para o dia. espero que te
sirva para o almoço e para qualquer
coisa ao lanche. desculpa. amanhã, como
é domingo, venderei os pães na igreja,
quem sabe me dará deus valor suficiente
para manter o amor. se amanhã houver
mais dinheiro, mais um pouco que seja,
compro o teu prato, os teus talheres,
um copo onde te sirva a água simples.
volta cedo, peço-te, volta cedo, como
não sei nada sobre decisões divinas
quero só não perder-te em tempo
além do impossível. vem comigo ver
o que é feito dos gatos que deitamos ao
campo. achas que estarão gordos ou
terão morrido. eu acho que estão gordos,
se deus quiser
.....................................v. h. m.
....................AMÁLIA (10 anos de saudade) - Gaivota

3 comentários:

bonecadetrapos disse...

Do poeta Valter Hugo Mãe, que posso eu dizer? Nada. Ler e aprender. E reler de novo e reaprender, lendo.

De si, estimado João Rasteiro, apenas me repetir: notório este trabalho de divulgação do que de melhor se escreve hoje em Portugal.

Saudações com estima e elevada consideração
*__bonecadetrapos__*

João Rasteiro disse...

E de si *-bonecadetrapos-*, um bem haja pela visita certa e habitual.
Quanto à divulgação, apenas estou a divulgar poesia, essa coisa estranha com que já não podemos passar - poderá o mundo?
Bjs.

joão

Gabriela Rocha Martins disse...

incontornável e absoluto



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um beijo