segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TERRITÓRIOS


"A minha pátria é a língua portuguesa", afirmava Fernando Pessoa. E seguindo de alguma forma este lema, a V Edição de PORTUGUESIA aí está à porta. 


No próximo sábado, dia 03 de Setembro, com apoio, desde a sua primeira edição, da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, a Casa Museu de Camilo [sede original da primeira edição] recebe a V Edição de Portuguesia


A V Edição de Portuguesia [com Curadoria de Luís Serguilha e Wilmar Silva, o autor do projecto] apresentará poetas de Portugal, Brasil,  México,  Moçambique, Finlândia e Espanha, através de um ciclo de performances “Guesas Livres, leitura por Regina Mello de cartas de amor enviadas a Camilo Castelo Branco, além de debate [com mesas específicas e temáticas], de pensamentos e lançamento/apresentação do livro “KOA`E” de Luís Serguilha, publicado pela editora brasileira Anome Livros.   

    

Eu participarei pelas 15h00, em mais uma Guesas Livres, lendo conjuntamente com os poetas Camila Vardarac [Brasil], Olga Valeska [Brasil] e Victor Sosa [México].


Segue-se o link, onde poderão, não só ver o programa completo, mas também outros assuntos relacionados com a história do evento: http://www.vilanovadefamalicao.org/_portuguesia__festa_da_poesia_de_linguas_portuguesas_e_espanhola ] 


Elegia do Queixume

1.

Porque é preciso que cada substância idílica
encontre o seu próprio nome de metáfora
pois a ânsia está em mim como o amor na ilusão,
abraçarei de igual modo mulher ou ave
em sua anáfora de queixume
e não deixarei os jardins refulgir em seus olhos
sustidos em vasto lume: hei-de dividir
o poema e sorver-lhe qualquer matéria,
quando a palavra advir fruto alheio
à sua imagem do mais impuro sangue que lavra,
o teorema que incorpora o lamento da rosa
voz ou espinho de outras línguas em sua arena.
 .
In, Elegias Bárbaras [inédito] - João Rasteiro

["Fanatismo" - Raimundo Fagner e Zeca Baleiro, cantam Florbela Espanca].

sábado, 20 de agosto de 2011

ESPAÇOS

"TRopofonia BH– um laboratório de sons e palavras – é um programa de experimentação sonora. Cada edição é dedicada a um autor-criador de todas as áreas: poesia, literatura, teatro, música, cinema. Um ensaio sonoro que apresenta a vida e a obra do autor na mutação das vozes, interpretadas com a liberdade livre. Utilizando as nossas vozes que se multiplicam e querem pensar de dentro das próprias palavras, sendo as palavras-vozes que o autor sentiu, pensou e escreveu. Experiências que se cruzam na fusão das línguas espanhola e portuguesa. Além de recursos possíveis ao rádio, realizamos a leitura de uma obra de arte que acontece nas ondas dos sentidos vocais, recriando a comunicação a partir de um laboratório de sons ao vivo e em cores".
Actualmente está  a decorrer a terceira temporada de TROPOFONIA na rádio UFMG Educativa [com roteiros inéditos criados pelos poetas Wilmar Silva e Francesco Napoli, apresentadores do programa que ganhou em 2010 o Prémio Roquette-Pinto da Arpub e do MinC, com o patrocínio da Petrobrás]
A Rádio UFMG Educativa é uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Você pode ouvir a programação através da frequência 104,5FM em Belo Horizonte, Contagem e outras cidades da Grande BH. A programação pode ser ouvida em tempo real [ http://www.ufmg.br/online/radio/ ].

Segundo o coordenador do programa, o poeta Wilmar Silva, o TROPOFONIA é um projeto Iberoamericano, com núcleos em funcionamento também na Argentina, no Uruguai e na Bolívia.

Com uma hora de duração, o programa reúne poesia, música e literatura, a partir de roteiros construídos com base na obra e na biografia de um ou mais autores. 
Na edição desta semana, o programa abordará a obra dos poetas portugueses João Rasteiro e Ruy Ventura.
Wilmar Silva, Francesco Napoli e Cristina Borges darão voz a TROPOFONIA HÍBRIDO: "Instrumentos Diacrítico de Sopro" (onde fazem a junção do título de dois livros de Ruy Ventura (Instrumentos de Sopro) e do meu penúltimo livro (Diacrítico). 
O programa decorre na próxima segunda feira, 22/08/2011, entre as 23h00 e as 24h00 [http://www.ufmg.br/online/radio/ ].

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Um poema de "Instrumentos de Sopro" de Ruy Ventura:


«a água faz crescer a luz e a distância.
a tempestade devolve, sem chumbo,
esse sangue que o movimento acrescenta
ao coração — da montanha.

ao alcance da mão, a cidade circula
(mesmos nos dias mais frios)
quando a chuva invade esta casa,
revestindo esses seios de sombra e de calor.

não existe cidade. apenas desejo —
outra cidade, sem fogo, sem sangue,
com sangue e fogo nesses olhos sem sono.

a terra arde. a poeira acompanha essa linha.
o calor devolve, sem chumbo, essa seiva
que nunca quisemos perder.

o comboio circula dentro de nós. luz e distância
apagam o incêndio que nos trouxe a escuridão.

a água dissolve a sede e a cidade.
outra cidade cresce — sem casa, sem frio —
guardando na memória o sal e o tempo
que hoje bebemos, sem filosofia.» 
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http://www.tropofoniabelohorizonte.blogspot.com/
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http://ruyventura.blogspot.com/

sábado, 13 de agosto de 2011

DESTINOS




Do “poeta” Domingos Cenáculo Vilela [meu avô - e que, lá muito no infinito sopro da sílaba, será, talvez,  o grande culpado por este meu "actual sofrimento", mas que simultaneamente, é o alimento ou hálito que me alimenta e, refiro-me evidentemente a esse mistério que é apelidado de Poesia], o poema, ou canto, "Olhares": 

Fico mirando esses sinais
Da doce Beatriz que me lança,
E sinto, por entre os ais,
Os sulcos caricaturais
De uns gemidos de festança.

E uma infinda melancolia,
Pela poesia em turbilhão,
Tomba em mim, fica em mim a agonia.
Tomba o Domingos, com a mania,
E quebra o rosto e o coração.
                         Domingos Cenáculo Vilela

sábado, 6 de agosto de 2011

LUGARES SAGRADOS

 O recôndito espaço da equidade
                              The Brain – is wider than sky 
                                                           For – put them side by side –
                                                                  Emily Dickinson 
                                               

7.
A linguagem é a sagrada prisão dos loucos que amam as paisagens que regressam pelo ventre fechado. Aí se respira as veias que acasalam os metais. Aquilo que estrangula da pedra ao aço é o espaço infundido. Uma crença no enraizado da cabeça.
8.
Em sua radiosa invisibilidade deuses decidem o fogo que sustenta a dobra da harmonia do mundo. Deliberam quais os corpos que servirão de mosto à renovação da terra. E o mundo rejuvenescerá puro nas leis que ateiam os animais nas estações do metal. E a equidade concebe-se contra a memória e o corpo. Trespassará toda a impureza.
9.
Este é o lugar da blasfémia. Aqui a geometria é um espaço que condiciona as falas que enxugaram as frechas do archote. E os cânticos são terríficos para os seres pasmados de fábulas. Este é o sítio onde a perspicuidade das estruturas é um ínfimo apólogo.  
                                                                                         João Rasteiro