domingo, 31 de agosto de 2008

"céu que germina o furacão"

Charles-Pierre Baudelaire: (Paris, 9/04/1821 — Paris, 31/08/1867) foi um poeta, crítico e teórico da arte francesa. É considerado um dos grandes precursores do Simbolismo, embora também se tenha relacionado com diversas escolas artísticas. A sua obra teórica veio a influenciar profundamente as artes plásticas do século XIX.

Baudelaire é no entanto considerado sem qualquer dúvida um dos maiores poetas do Século XIX. Do seu estilo de vida "originaram-se" na França os chamados poetas "malditos"

Um revolucionário em seu próprio tempo. Hoje ele ainda é conhecido, não somente como poeta, mas também como crítico literário. Raramente houve alguém tão radical e ao mesmo tempo tão brilhante, apesar da aparente contradição que emana da sua poesia.

Em 1857 é lançado o livro "As flores do mal" contendo 100 poemas. O livro foi acusado no mesmo ano, pelo poder público, de ultrajar a moral pública da sociedade francesa. Os exemplares são apreendidos e o poeta teve de pagar 300 francos de multa.

Afirmou que "Manejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória" e ainda, "Como foi a imaginação que criou o mundo, ela o governa."

EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a
única questão. Para não sentirem o fardo horrível
do Tempo que verga e inclina para a terra, é
preciso que se embriaguem sem descanso.
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Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a
escolher. Mas embriaguem-se.
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E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso, na solidão
morna do quarto, a embriaguez diminuir ou
desaparecer quando você acordar, pergunte ao
vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a
tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a
tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que
horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o
pássaro, o relógio responderão: "É hora de
embriagar-se! Para não serem os escravos
martirizados do Tempo, embriaguem-se;
embriaguem-se sem descanso". Com vinho,
poesia ou virtude, a escolher.
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Flores del Mal


http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Baudelaire

http://br.geocities.com/edterranova/baudelapoesias2.htm

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Movimentos Perpétuos

Movimentos perpétuos

Na carne odorífica das fábulas

a suave transparência das veias

um hálito de matéria órfica

nas primeiras palavras dos dedos

a floração de sangue aprazível

na cúpula de uma guitarra

o ciclo aceso das sedas e do cio

dobra a medula feérica da pele

até à nudez voraz das águas

sob o silêncio de súbito ecos

de movimentos perpétuos corrente

e nas gárgulas a lâmina ateada,

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(a ferida sarou sobre a carne morta).

Manuel de Cenaculo



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http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Paredes

sábado, 23 de agosto de 2008

O Limite da Sílaba

Linha sísmica

Embora na primavera inicial já não exista

inocência ou amor ou talvez só as mandíbulas

de um tigre farejem inocência obscura

língua monstruosamente solitária morte,
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pois é sinistra a dádiva amor e inocência

demoníaca aliança que se abre aos animais

que já não rodeiam o interior das sombras nuas

acúleas no sopro um cipreste branco ardendo

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e porque se afigura orgânica a sílaba

fixar-mos de frente os olhos da fêmea exposta

porque o amor é um fio de aço. E morremos dele.

João Rasteiro

James Blunt - Same Mistake

terça-feira, 19 de agosto de 2008

QUIMERA

Federico García Lorca (Fuente Vaqueros, 5/06/1898 — Granada, 19/08/1936) foi um extraordinário poeta e dramaturgo espanhol, e uma das primeiras e mais famosas vítimas da sangrenta Guerra Civil Espanhola.
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"Lorca tornou-se o mais notável numa constelação de poetas surgidos durante a guerra, conhecida como "geração de 27", alinhando-se entre os maiores poetas do século XX. Foi ainda um excelente pintor, compositor precoce e pianista. Sua música se reflete no ritmo e sonoridade de sua obra poética. Como dramaturgo, Lorca fez incursões no drama histórico e na farsa antes de obter sucesso com a tragédia. As três tragédias rurais passadas na Andaluzia, Bodas de Sangue (1933), Yerma (1934) e A Casa de Bernarda Alba (1936) asseguraram sua posição como grande dramaturgo". - Wikipédia Online.
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Às cinco horas da tarde

Eram cinco da tarde em ponto.
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Um cesto de cal já prevenida
às cinco horas da tarde.
O mais era morte e apenas morte
às cinco horas da tarde.
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O vento arrebatou os algodões
às cinco horas da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.
Já pelejam a pomba e o leopardo
às cinco horas da tarde.
E uma coxa por um chifre destruída
às cinco horas da tarde.
Os sons já começaram do bordão
às cinco horas da tarde.
As campanas de arsênico e a fumaça
às cinco horas da tarde.
Pelas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E o touro todo coração ao alto
às cinco horas da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
quando de iodo se cobriu a praça
às cinco horas da tarde,
a morte botou ovos na ferida
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Às cinco em ponto da tarde.
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Um ataúde com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.
Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido
às cinco horas da tarde.
Por sua frente o touro já mugia
às cinco horas da tarde.
O quarto se irisava de agonia
às cinco horas da tarde.
A gangrena de longe já se acerca
às cinco horas da tarde.
Trompa de lis pelas virilhas verdes
às cinco horas da tarde.
As feridas queimavam como sóis
às cinco horas da tarde,
e as pessoas quebravam as janelas
às cinco horas da tarde.
Ai que terríveis cinco horas da tarde!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram cinco horas da tarde em sombra!
Tradução:
Oscar Mendes
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Leonard Cohen - take this waltz (F. G. Lorca)

.http://www.garcia-lorca.org/Home/Idioma.aspx

http://perso.wanadoo.es/luisalas/indexfgl.htm

http://www.jornaldepoesia.jor.br/bhfglorca.htm

domingo, 17 de agosto de 2008

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade: (Itabira, 31/10/1902 - Rio de Janeiro, 17/08/1987) foi um contista, cronista e essencialmente um extraordinário poeta. Para muitos é o maior poeta brasileiro.

Drummond, como os modernistas, proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação poética à margem das convenções usuais. Segue a libertação proposta por Mário de Andrade; com a instituição do verso livre, acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo (impulso rítmico). Se dividirmos o Modernismo numa corrente mais lírica e subjectiva e outra mais objectiva e concreta, Drummond faria parte da segunda, ao lado do próprio Mário de Andrade.

Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estreias modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um modernista. De facto herda a liberdade linguística, o verso livre, o metro livre, as temáticas quotidianas. Mas vai além. "A obra de Drummond alcança — como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da História, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo Bosi (1994). (Wikipédia online)

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
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Segredo

A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
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Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.
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Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.
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Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
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Deus triste

Deus é triste.

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.

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Dorival Caymmi
(Salvador, 30/04/1914 — Rio de Janeiro, 16/08/2008):
Dorival Caymmi e Chico Buarque




http://br.geocities.com/edterranova/drummondpoe.htm

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O vírus do amor

Os VALORES da Democracia e Justiça: AMÉRICA ---> O País da liberdade!!!<---
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Censurado livro sobre Maomé:

Sherry Jones, jornalista americana, de 46 anos, acaba de ver recusada a publicação do seu romance de estreia, alegadamente por "incitação à violência".

A alegação é da Random House, editora norte-americana que se comprometera a lançar amanhã o livro ‘The Jewel of Medina’ (no original), que conta a história de amor de Maomé e Aisha, esposa dilecta com quem contraiu matrimónio ainda ela não tinha dez anos.

Os primeiros contratempos surgiram em Maio, quando Sherry Jones soube que o lançamento do livro podia ser adiado e a digressão promocional suspensa.

"Escrevi deliberada e conscientemente com respeito pelo Islão e por Maomé [...]. Pensei que o meu livro pudesse ser uma ponte", sustenta a autora.

O mesmo não terá pensado a editora, que na pessoa do seu subeditor, Thomas Perry, fez saber que a empresa havia sido aconselhada a não publicar.

"Não apenas a publicação deste livro poderia ser ofensiva para alguns membros da comunidade muçulmana como também podia incitar à violência", afirma-se em comunicado. "Decidimos recusar a publicação para segurança do autor, dos funcionários da editora, dos livreiros e de qualquer outra pessoa que esteja envolvida com a distribuição e a segurança do romance", conclui-se.

Alheia aos tentáculos da censura sobre a sua obra de estreia, a autora tem já pronta a sequela. Desta vez, com a vida de Aisha após a morte de Maomé, mas nenhum dos livros será publicado pela Random House... "Pode sempre vender a outra editora", sugere Perry.

As reacções à censura da Random House não se fizeram esperar e na internet multiplicam-se os comentários e os blogues temáticos. Há quem recorde as caricaturas do profeta no jornal dinamarquês ‘Jyllands-Posten’ (2005) ou ‘Os Versículos Satânicos’ (1988), que puseram a cabeça a prémio do autor, Salman Rushdie, e depois há um depoimento que é um exemplo de bom senso... "Olá, sou Mariah, a filha de Sherry Jones, tenho 14 anos, e acho tudo isto vergonhoso. Li o livro e é tudo menos lixo. O que mais me aborrece nisto tudo é haver quem o condene sem o ler!" - Dina Gusmão com agências: CORREIO da MANHÃ
Simon and Garfunkel- America

domingo, 10 de agosto de 2008

O Despertar...da palavra!


««-----clikar
João Manuel Vilela Rasteiro, 43 anos
Natural do Ameal, reside em Coimbra
Func.Público/Poeta
Casado, 1 filho
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O Despertar
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O Despertar
CW: Zilda Monteiro - 10/07/2008
17 Perguntas a...

Melhores recordações da infância:
Com tão pouco ter o mundo nas mãos.

O que mais aprecia nos seres humanos?
Apesar de tudo, o que ainda acabamos por fazer pelos outros, quando algo ou alguém nos coloca no limite das nossas fragilidades.

E o que mais detesta?
Egocentrismo e Traição.

Coimbra em três palavras:
Hoje ainda é.

O Governo em três palavras:
Fé Desilusão Resignação.

Portugal tem futuro?
Pela memória que construiu, o futuro terá necessariamente Portugal.

O melhor do mundo é (são):
As crianças sem dúvida. A minha filha demonstra-o.

Onde está o mal deste mundo?
Na descoberta plena da sua desumanidade pela raça humana.

Três títulos para uma primeira página ideal:
1 – Portugal foi galardoado pela Comissão Europeia com o prémio “Direitos e Garantias” devido ao facto de ter reduzido em 50% o fosso entre ricos e pobres. Para além disso as pessoas no limiar da pobreza estão reduzidas a 1,5% e porque estas ainda têm vergonha de mostrar na comunidade que passam fome.

2 – A Academia Sueca decide extinguir o Prémio Nobel da Paz em virtude do fim de todos os conflitos existentes entre povos e nações. O prémio será substituído pelo Prémio Nobel da Amizade.

3 – Depois de dois anos de saudade de José Saramago, Portugal conquista o 3.º Nobel. A Academia Sueca atribui hoje o Nobel da Literatura a Herberto Helder.

A fórmula do sucesso:
Citando D. Pedro, Duque de Coimbra: “Vontade de fazer bem”, mas, contrariamente ao pensamento habitual – sem pisar ninguém.

Desporto favorito:
Futebol.

Filme que gostaria de rever 10 vezes:
“Crepúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder.

Uma data marcante (a nível pessoal):
Terão que ser duas: 19/03/1995 (nascimento da minha filha) e hoje (porque ainda julgo estar vivo).

Uma data marcante (país):
1179, ano em que o Papa Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum, reconhece Portugal como país independente e único.

Uma data marcante (mundo):
Duas: A revolução Francesa e o 11 de Setembro.

Um sonho por concretizar:
Todos os sonhos que ainda não concretizei, nomeadamente, ter a convicção de que ainda não escrevi um POEMA.

Um pesadelo que o atormente:
Talvez… o não ser suficientemente sábio e lúcido para aproveitar da melhor forma tudo o que a vida nos pode dar. Resumindo, talvez por natureza da raça humana, desperdiçar a possibilidade de ser feliz nesta nossa breve passagem.
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"O que faz de você é a soma de todas as representações que você faz dos outros e do seu ambiente, que podem se expandir a cada dia, desde que você mantenha sua consciência".
Rodrigo Cavalcante

Delfins - Nasce selvagem



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http://www.odespertar.com.pt/sartigo/index.php?x=2926
http://www.odespertar.com.pt/seccao/index.php?x=110

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Viagens, rotas e destinos VII - [ The End ].

(...)
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.
*

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada beleza.
*

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.
(...)
Herberto Helder - O Amor em Visita

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Viagens, rotas e destinos VI

homenagem a cesário verde

Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas
.
Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!
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Mário Cesariny

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Viagens, rotas e destinos V

Seguindo o meu olhar até aos lábios de Bach, há sempre
um espaço subterrâneo, uma fala que perscruta a sua
boca aberta.
Baixo os olhos sobre as claridades cintilantes,
enamoradas, visualizo um volume que, na minha língua,
deve ter um nome. Procuro então um outro volume
para que não encontro palavras, ou superfície e
imagem:
água livre, nem de rio, nem de mar, nem
de lago, nem de nevoeiro, água repleta de silêncio no momento do
fogo, ou talvez clima vulcânico no centro das terras.
Designações sobrepostas de múltiplas línguas voltam à
unidade, é a explosão do nascimento do tempo; é o seu
princípio de fuga estelar no seio das criaturas; (levanta-
se uma brisa, sua descrição é impensável para além
de uma meditação de neblina).
.
É uma visão de deleite tão intenso que fios de água
escorrem por entre o fogo, que é circundante e leve.
Ali estão compreendidos os seres vivos desde o início
dos séculos ao fim das carreiras mortais e, sobre eles, os
seres mortos não se distinguem da palpitação
consumitiva: meus companheiros vêem por mim,
a quem eu cerro as pálpebras; acordo abrindo os olhos.
Maria Gabriela Llansol, in Um Falcão no Punho