Decorreu na passada sexta-feira, dia 30 de Março, com a presença
do homenageado, na Fundação Eng. António de Almeida no Porto, o lançamento da Antologia "100 Poemas para Albano Martins" da Editorial Labirinto, que foi coordenada pela poeta Maria do Sameiro Barroso e prefaciada pelo grande Eduardo Lourenço, tendo ainda sido apresentada a obra por Fernando Guimarães. Nesta (entre tantas
que já ocorreram e ainda irão ocorrer) merecida homenagem (que
terá nova apresentação em Lisboa no dia 27 de Abril pelas 21h00
na Sociedade Portuguesa de Autores) participei com o poema que se segue:
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Apriorismo Vital
Já não será necessário o pecado,
há um instante em que a memória é estreita
e os homens circularão ávidos
procurando a sua matilha
como se o rebentar dos dedos em magnólias
não fosse a indefinida e factícia criação,
a água e a sede num corpo de aurora,
o coração estilhaçando-se em girassóis acesos,
o poema mergulhando inteiro
em suas concêntricas e primígenas alegorias,
porventura homens
ou vozes encantadas sob a lua e o sol,
sob a lágrima avivada do tempo,
o cântico que anuncia os divinos náufragos de Ítaca
sob o músculo que se retrai
fervilhem majestosos
nos delicados argumentos da morte
em profundos círculos quebrados de estirpe e haste
entreabertos ao fôlego circuncidado
do espanto.
E tudo sem promessas, sem um rosto de verbo
sem pelo menos o ocluso núcleo do mundo temer
o ruidoso silêncio da paixão da língua,
a núcega comédia do mundo
pois o poema retornará sempre a esse fruto
como, utópico, ao coração de uma criatura múltipla
no mais íntimo impudor da casta.
.......................................................................João Rasteiro
GEORGES MOUSTAKI (Fado Tropical).
GEORGES MOUSTAKI (Fado Tropical).