Cérebro quando poesia
.....................Tive de descrever a tua grandeza, ó meu cérebro,
.....................corola macerada pelo poder da cultura.
................................Fiama Hasse Pais Brandão
.água poesia da largura em si mesmo
a estuar o animal das línguas dos balidos
como espáduas ambas em seu perfil único
de margem flanco poesia outra para corpo,
coração do fragmento ao longo das lascas
palavras nervura que se desfralda frontes
o equilíbrio fugidio das actínias feições
contra o pó poesia entre pedra e silêncio,
abelha ofusca desnuda sombra no tronco
muro poesia ou hortos alvuras dos campos
extensos um olhar do detrás pulsos de luz,
deus usurpando o verbo inicial de Platão
espaço se pétalas e madrugada de astros
geme a magnólia poema em murcha sílaba,
demónios nus do cosmos das comparações
místicas chamas da barbárie a nova ordem
no círculo aberto como se única contrição,
poesia flor - uma como cérebro do eco, poços
ou uma força inacessível em secretos cicios,
odores em distâncias mortas vincadas hélices,
centelhas nuas – mas que dobram áleas, poesia
e nas costas do metal uma figura nova desova,
animais que só procriam a activação das forças,
hoje, da não promessa pragas de eternidade sob
o diluído âmago de profundos centros, a poesia
de múltiplas mortes, gotas do renascer acto pó
formas de fluidas formas da sentença – quando,
em si mesmo da largura poesia água – silêncio.
João Rasteiro
.................................Blind Zero - Tree
(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»» "Só existe o tempo único. Só existe o Deus único. Só existe a promessa única, e da sua chama e das margens da página todos se incendeiam. Só existe a página única, o resto fica, em cinzas. Só existem o continente único, o mar único – entrando pelas fendas, batendo, rebentando correndo de lado a lado". __________ Robert Duncan
sábado, 28 de março de 2009
Rotas Reinventadas II
quarta-feira, 25 de março de 2009
Da terra à luz
"Veio a luz do oriente", cantava ele,
"radiosa garantia de Deus, e as ondas aquietaram-se.
Eu podia ver línguas de terra e rochedos acossados.
Muitas vezes, pela coragem mostrada, o fado poupa o homem
se não o marcou já."
E quando a objecção deles lhe foi dita -
em especial que a sua obra se fizera em fragmentos,
que já não podiam dizer onde estavam com ele,
que já não distinguiam primeira linha ou última linha -
respondeu com uma questão.
"Desde quando", perguntou,
a primeira e a última linha de qualquer poema
são onde o poema principia e termina?"
Nós, a escutar um rio nas árvores.
sábado, 21 de março de 2009
POESIA 21
A Profissão Dominante
.
Meu Deus como eu sou paraliterário
à quinta-feira véspera do jornal
nadando em papel como num aquário
ejectando a minha bolha pontual
.
de prosa tirada do receituário
onde aprendi o cozido nacional
do boçal fingido o lapidário
- fora algum deslize gramatical-
.
receio que me chamem extraordinário
quando esta é uma prática trivial
roçando mesmo o parasitário
meu Deus dá-me a tua ajuda semanal
In, A Musa Irregular, 1996
quarta-feira, 18 de março de 2009
SÓ
MEMÓRIA
Aquele que partiu no brigue Boa Nova
E na barca Oliveira, anos depois, voltou;
Aquele santo (que é velhinho e lá corcova)
Uma vez, uma vez, linda menina amou:
Tempos depois, por uma certa lua-nova,
Nasci eu... O velhinho ainda cá ficou,
Mas ela disse: – «Vou, ali adiante, à Cova,
António, e volto já...» E ainda não voltou!
António é vosso. Tomai lá a vossa obra!
«Só» é o poeta-nato, a lua, o santo, o cobra!
Trouxe-o dum ventre: não fiz mais do que o escrever...
Lede-o e vereis surgir do Poente as idas mágoas,
Como quem vê o Sol sumir-se, pelas águas,
E sobe aos alcantis para o tornar a ver!
.
...................ZECA AFONSO - Do choupal até à Lapa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Pereira_Nobre
http://www.triplov.com/poesia/antonio_nobre/index.htm
domingo, 15 de março de 2009
Fulgurações
Luz
.
A luz que aflui errática das pedras
e anuncia o dia na chama dos corpos
derretendo o aço que nos corta
procura um ninho por entre as mãos
e ramifica-se linguagem entre os dedos.
.
Na perfeição da luz está a poeira
no fundo um templo ou uma garganta
a sombra desfocada em que nos projectamos
o silêncio alumbrado em suas formas nuas,
.
adiro dobrado ao grande segredo da luz
e desenho sobre ela as veias que vão doendo.
João Rasteiro
In, No Centro do Arco - 2003
.........Vinicius de Moraes - Pela Luz dos Olhos Teus
quinta-feira, 12 de março de 2009
RETRATOS
O peito é de vidro.
Os olhos, porcelana
delicada e astuta.
Da língua escorre
o néctar sutil.
As patas são de estanho,
mas sabem se mover
imóveis: mal flutuam.
O ventre é quase nada,
pura transparência
onde se escondem
o dorso e seus andaimes.
Não tem entranhas.
A pele
de tão fina já não é:
..........limita
semovente
o nada de fora
e o quase nada de dentro.
.
.
O peito é de vidro
mas às vezes se desmancha
em pétalas.
Dentro
pulsa um coração
que imobiliza tudo em torno.
O rabo, sim,
é feito de algo insuspeitado:
........nuvem
.........algas
milhares de roldanas
........e desejos
enrodilhados na engrenagem
que espaneja o chão
.......e foge
para o céu aberto.
Carlos Felipe Moisés
................................................HUMANOS --- Quero é viver
http://www.revista.agulha.nom.br/cfm.html
http://fotoseliteratura.blogspot.com/2007/11/joo-rasteiro-mrio-lcio-de-sousac.html
domingo, 8 de março de 2009
Rotas Reinventadas
É assim o corpo:
como as rosas do metal
em peso sobre as bocas, sangrando devagar,
gota a gota, apocalíptico, inesgotável espaço
pulmonar, sílaba a sílaba como a sagrada perfuração
dos espinhos. O estilo de cantar
a fervura das águas, as gigantes sequóias e
o esquivo beija-flor,
correspondências ébulas
que visam
só uma inviolável e amorosa esfera
de linguagem
nua em suas espécies de verbo,
seu eco de carmesim como teorema biológico:
poesia.
Pétalas negras de dialecto infinito:
natureza e desejo
de constelações, o gerânio e a libélula,
as crias fervilhando inscritas
com os sexos dentro do movimento,
a percussão violenta e obsessiva
da antecipação das veias, o génesis das fendas
sob a palavra centrífuga.
E, para além das chuvas,
o corpo aberto para quem se afoitar no murmúrio
dos inclassificáveis,
nessa ixicial geografia de oiro
onde se ocultam o bdélio e a pedra de ónix.
E há a criança-magnólia de um poema em seu sal único:
ressureição.
E se os lamentos das aves sobre a arte das anopsias
que cobrem a luz dos abismos
avivam a elisão da caligrafia branca
dos afectos, corpo e poema, sós em seu coito:
If you`ll believe in me, I´ll believe in you. Is that a bargain?
João Rasteiro
.
Hoje é o dia mundial da mulher. A minha simples homenagem é feita com a extraordinária canção do Chico, Geni e o Zeplim.
............................"Geni e o Zepelim" - Chico Buarque
quarta-feira, 4 de março de 2009
POESIA...?
.
O que é a poesia para você?
.
O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de maneira?
.
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http://sambaquis.blogspot.com/
http://www.cronopios.com.br/site/default.asp
http://www.germinaliteratura.com.br/ecruz.htm
domingo, 1 de março de 2009
PORNOCRACIA
Dorme que eu velo
Sedutora imagem
Terna miragem
................................
Nada em mim é risonho
Ou anseia viagem.
Quero-te para sonho
Não para gozo e dor.
.
Tua carne psalma
Fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços
Nem quero ter nos braços
............................................
Dorme, filha, dorme,
Vaga em teu sorrir.
Sonho-te tão bem
Que o corpo me vem
E me venho sem ir.
Mário Cesariny
.....Pedro Abrunhosa & Bandemónio - Talvez Foder