26/11/60
(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»» "Só existe o tempo único. Só existe o Deus único. Só existe a promessa única, e da sua chama e das margens da página todos se incendeiam. Só existe a página única, o resto fica, em cinzas. Só existem o continente único, o mar único – entrando pelas fendas, batendo, rebentando correndo de lado a lado". __________ Robert Duncan
quarta-feira, 29 de abril de 2009
ANACRUSA
26/11/60
domingo, 26 de abril de 2009
Flores
quarta-feira, 22 de abril de 2009
A liberdade da sílaba
Já
calaram a tua boca
já
mas certamente
esqueceram uma pequena sílaba
somente semente
em algum canto
lá
nos recantos de um país
de mim
uma flor livre
sob a terra obsessiva e sagrada
do jardim.
*
Já
calaram a tua voz
pá
mas certamente
esqueceram o odor fresco
semente somente
das rosas e do jasmim.
........................Manuel de Cenáculo
sábado, 18 de abril de 2009
Lugares II
(...)
Espera a tua morte como se tivesse o tempo todo
À frente para nele se banhar em incenso
Era ali que devias ser sepulta
Com a tua carga de afectos e ondas pesadas
As lembranças
O coração fechado num búzio
A murmurar palavras sabe ao ouvido
Era ali
No fundo das águas a tocar
O lodo verde e menstrual do Geba…
Vai morrer à Guiné se te apraz
Num dia de neblina fria sobre as águas
Na linha imperceptível que separa a lua
Da luz
Vogando para o Oriente Eterno
Na barca de Rá
Depois de passar pela ilha entre ilhas
Bolama
A saber a mangos e a melancolia.
..............Maria Estela Guedes
http://www.triplov.com/estela_guedes/index.html
http://www.triplov.com/estela_guedes/2009/Chao-de-Papel/Nicolau-Saiao.html
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quarta-feira, 15 de abril de 2009
Lugares
.
Apesar de tudo continuam a existir as palavras fincadas aos pulmões que nos embebem medo ao rosto do coração. Abro a passagem e invado o teu espaço, aldeia. Palavras, memória, sopros, a frescura do mundo, um corpo, um outro espaço que irrompe da aldeia, das abrigadas ruas, da Rua da Fonte, do passado, de múltiplas e doídas constelações de outras existências, de outros sabores. E sou todas essas realidades inaudíveis, abertas, expostas, incompletas, em movimento por entre as humanas vozes que em mim florescem. Este ainda é o segredo que o amieiro me revelou.
domingo, 12 de abril de 2009
Parte do Arco-Íris
Quem te disse adeus quando a manhã
se incendiou para o lado das searas?
Mar ao fundo, pobre horizonte de turista,
agora que a borrasca interdita
o polimento da alma nas escadarias do passado
— fica o hálito, um rumor de véspera,
que não chega para acender no coração
o clarão da culpa, pois onde o látego
é consorte e o desterrado sonha
uma pátria improvável, não chegam
dos deuses o juízo e o preceito.
Quem pode, caminha até ao largo
onde o mundo arde em penas virtuais.
Mas tu não precisas de razões
para saber que nenhum cromado
polimento ilude a tua salitrada vocação
para a queda, desígnio que ombreia
com o tremendo rasgão do vento
desacoitando os óxidos embutidos à nascença.
Mesmo se tudo é cinza e passagem,
a ti, negro lázaro, que para uma segunda
morte hás-de nascer, oferto estes frutos
do fraco engenho, mudável reflexo
da vã alegria, fogo que ardesse
do princípio ao fim do mundo.
.............................José Luís Tavares
In, Lisbon Blues, S. Paulo, 2008
quinta-feira, 9 de abril de 2009
O silêncio de deus
Mentre il silenzio perdura
Nel centro docile dell’attesa
cattedrali sanguinano gli occhi mordenti la calma.
E l’olio e il vino, sciolsero
il seme in bozzoli dorati, che
gli alberi fendettero.
Il corpo, lo divorano i metalli incendiati
nella danza dei polmoni, che bambini
rinnegarono nell’eclissi.
Forse nel marmo calcificato di promesse
l’orto si purifichi, cercando nel candore
della luce, il puro tatto dei suoni.
E l’uomo strazia il respiro, lapidato nella
saliva delle unghie, dove uccellini volano tra le dita
curvate sul volto di acacie.
Nel sale di questo pianto, l’apprendista segreto
di sogni e luce.
Su queste vetrate dal veder passar
le parole, dalla polvere che si scuote,
accetto il silenzio come un amante.
............................................... João Rasteiro
In, Antologia Poesie Sulle Piastrelle - Zacem, 2001
----------(Tradução: Alberto Sismondini)
...................................Pavarotti - Ave Maria (Schubert)
Poema em português:
segunda-feira, 6 de abril de 2009
GALA(N)TE(I)A
.......................RAFAEL (n. 6/04/1483 - m. 6/04/1520) - "Galatea"
.tal como os fungos dos poços de jerusalém a memória sagrada das tábuas é uma crisálida indecisa que se perdeu para sempre no fundo inóspito do próprio ventre de bunho. e parte larva parte meretriz chegaram os novos seres para talhar as cidades em metálicos e encorpados pulmões de cobre. alguns homens que já só rastejam como as ofídias percorrem as cisternas em noites de lua cheia. o violento delírio de se verem reflectidos nos olhos da água. sob o nenúfar as suas escamas repousarão desinquietas pela última miragem. a outra face do pai que tecia argênteas teias de melancolia. é preciso recordar as prefigurações das trevas para se acolherem as metamorfoses. a benévola carícia. a ressurreição hodierna das crias. o eco colorido.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
LIBERDADE
Agostinho da Silva (n.13/2/1906; m.3/04/1994), filósofo, poeta e ensaísta português, é tido por muitos como o nome mais importante da segunda metade do século XX em Portugal - a primeira metade foi mesmo de Fernando Pessoa. Como referiu Romana Valente Pinho, "a idéia agostiniana de um homem em busca de seu próprio sentido e do sentido dos outros – sejam transcendentes ou não-, um “eu” que só é pleno e completo na e pela relação com o outro e disto, da consciência do “eu” através do “outro” (...) Desta “dialética das consciências” conclui-se que não vale a pena separar-se dos outros, pois tal cisão é a quebra do próprio ser. Em outras palavras, não há dialética das consciências sem pluralidade. E como afirmou o próprio Agostinho da Silva, "Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas". Um homem e essencialmente uma obra que Portugal tem de redescobrir e não deixar esquecer nos bosques da mediocridade que cada vez mais alastra e nos penetra. De mestre Agostinho da Silva, um poema:
Algum dia
Algum dia um novo Papa
anunciará altivo
que Deus é raiz quadradade
um quantum negativo
*
e o Deus que tanto procuro
em que atingido me afundo
é aquele ser-não-ser
do que acontece no mundo
*
da matéria mais que densa
é que é divertido ser
ali se nada acontece
tudo pode acontecer.
NEY MATOGROSSO - Balada do louco
http://ebicuba.drealentejo.pt/ebicuba/jornal/jornal08/pagina-personalidades/agostinho_da_silva.htm