(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»» "Só existe o tempo único. Só existe o Deus único. Só existe a promessa única, e da sua chama e das margens da página todos se incendeiam. Só existe a página única, o resto fica, em cinzas. Só existem o continente único, o mar único – entrando pelas fendas, batendo, rebentando correndo de lado a lado". __________ Robert Duncan
domingo, 31 de maio de 2009
A faísca dos corpos
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Lugares III
Desde as remotas tardes das chuvas que não consigo enumerar os desejos, que exercem com tão grande rigor o domínio das suas formas.
domingo, 24 de maio de 2009
O(s) Errante(s)
Querida, hoje saí de casa já muito ao fim da tarde
para respirar o ar fresco que vinha do oceano.
O sol fundia-se como um leque vermelho no teatro
e uma nuvem erguia a cauda enorme como um piano.
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Há um quarto de século adoravas tâmaras e carne no braseiro,
tentavas o canto, fazias desenhos num bloco-notas,
divertias-te comigo, mas depois encontraste um engenheiro~
e, a julgar pelas cartas, tomaste-te aflitivamente idiota.
.
Ultimamente têm-te visto em igrejas da capital e da província,
em missas de defuntos pelos nossos comuns amigos; agora
não param (as missas). E alegra-me que no mundo existam ainda
distâncias mais inconcebíveis que a que nos separa.
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Não me interpretes mal: a tua voz, o teu corpo, o teu nome
já não mexem com nada cá dentro. Não que alguém os destruísse,
só que um homem, para esquecer uma vida, precisa pelo menos
de viver outra ainda. E eu há muito que gastei tudo isso.
.
Tu tiveste sorte: onde estarias para sempre – salvo talvez
numa fotografia - de sorriso trocista, sem uma ruga, jovem, alegre?
Pois o tempo, ao dar de caras com a memória, reconhece a invalidez
dos seus direitos. Fumo no escuro e respiro as algas podres.
..........................................................Joseph Brodsky
In "Paisagem com Inundação”, traduzido do russo por Carlos Leite
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/NLJoBrod.html
http://revistaliterariaazularte.blogspot.com/2008/01/joseph-brodskypoesa-revista-arquitrave.html
http://poemaseningles.blogspot.com/2003/04/joseph-brodsky.html
http://www.mgrande.com/weblog/index.php/partosdepandora/comments/seria_hoje_dia_do_seu_aniversario/
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Espaços
Do livro da Contrição dos Mortos, dos Sopros IV
Preparou a construção com os gânglios da morte
Para ser sulco na coroa aberta da terra e renascer
Preparou a construção com os gânglios da morte
Para ser a dolorosa geometria e propagar a chama
Preparou a construção com os gânglios da morte
Porque era reincidência e o coração dos animais
Preparou a construção com os gânglios da morte
Porque tinha sede e caçava pelo olfacto das cobras
Preparou o leito da caça com os gânglios da morte
Para ser ventre da morte e a morte em suas flores
A palavra exaltada em suas escoras a florir e a gerar
Preparou a morte a construção fecunda do corpo nu.
.....................................................João Rasteiro
sábado, 16 de maio de 2009
Cânticos da terra
O livro agora editado é uma edição de luxo da Caixotim, integrado na série "Da palavra o fruto", sendo de realçar que o próprio nome da série é da autoria de António Salvado. Na obra emerge a pintura de Raul Costa Camelo, aqui num fraterno e excelente diálogo com a poesia do poeta, englovando seis reproduções de pinturas inéditas. Pela poesia que leu, editou e criou, pelo contributo dado à poesia portuguesa (como já vão longe os anos de convívio e criação com Herberto Helder e a revista "Folhas de Poesia"), com mais de 50 anos de vida literária, António Salvado, talvez Castelo Branco seja muito distante(!?!), já mereceria algumas distinções que tantos, ou alguns por aí já granjearam. Pelo menos "nuestros hermanos" e a mágica Salamanca não o deixa(ra)m passar "despercebido".
Nunca regresso ao ponto de partida,
quando me leva como eremita
a solidão do dia em que viajo,
quando nem horizontes desordenam
com seus fechados véus
a vontade afincada de transpor
as linhas clandestinas.
E porque voltaria? Trabalhoso
seria descobrir
de novo a senda aberta ao retornar,
com poeiras e pedras, sobressaltos,
em toda a dimensão da revoada.
O ponto de partida
diluiu-se aliás no pesadelo
de noites infindáveis, sem contorno,
sem astros pelo céu a tilintarem
e sem segurança do romper
da manhã desejada.
Companheira leal, a solidão
parte sempre comigo
até onde a distância não existe.
.............................António Salvado
http://bibliotecamunicipalcastelobranco.blog.com/4805119/
http://www.urbi.ubi.pt/_urbi/pagina.php?codigo=5874
http://memoriarecenteeantiga.blogspot.com/2009/04/um-livro.html http://antoniosalvado.blogspot.com/
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Linguagen(s)
enquanto súplicas, mas apenas
aprisionamos uma voz noutra
voz, ou mesmo dentro de outra
voz. O espaço sangra rubro como
lemos o poema enquanto poema,
mas apenas lemos (n)um poema
outro poema, ou mesmo dentro
de outro poema – inteiro, exposto.
domingo, 10 de maio de 2009
PAISAGENS
O livro agora editado reúne os dois primeiros títulos, com traduções de Jorge Melícias e Pedro Sena-Lino, respectivamente. A sessão contará com a presença da autora e de Fernando de Castro Branco, que fará a apresentação do livro.
6.
Amo este homem misógino.
Desejo o seu sexo descarado que passeia de cá para lá
que entra onde como e quando deseja
vomita seu ódio em mim e parte.
Eu, maravilhosa artesã,
faço do seu asco a minha melhor criação:
uma réplica sua melhorada.
Do vómito incubado no mais repugnante dos seres
nascerá a criatura que o iguale em força
e seja capaz de o destruir por inveja
como eu não pude por amor.
.................................Miriam Reyes
quarta-feira, 6 de maio de 2009
"Novas oportunidades"
.
Além as ilhas passam - são os apocalipses
as patas queimadas desabrochando
renovadas de pele
e logo regressarão fulgurantes
alastrando pelas águas inteiras
e infundidas
entre corpo e lugar, as vagas
da febre. A garganta escoada pelo fôlego
dos abismos
em opulência de sonho
de palavra nas hastes entregue ao seu silêncio
de verbo obscuro.
.
.
Além passam as ilhas como morcegos
de quem se teme o amor
e no entanto nas ondas da língua
não se teme o bafo mortal de seu carnívoro beijo
onde pulsam as guelras. O espanto ainda
projecta o fulgor inesperado do poema
até ao limite dos corações acesos.
.......................................João Rasteiro
...........Frankie Goes To Hollywood - "The Power of Love"
domingo, 3 de maio de 2009
Dia da MÃE
Tenho Saudades do Calor ó Mãe
Tenho saudades do calor ó mãe que me penteias