sábado, 13 de março de 2010

"É Nosso o Solo Sagrada da Terra"

Faleceu recentemente (n. 30/04/1926 - m. 09/03/2010) em Luanda, a poeta Alda Espírito Santo, aquela que no entender de alguns, terá sido a figura mais materna - por isso tão solidária e carismática - do movimento emancipador contra a opressão colonial nas possessões africanas portuguesas.
Alda Espírito Santo foi um dos esteios da implantação do ensejo da "reafricanização dos espíritos", como dizia o seu camarada Amílcar Cabral quando ambos fundaram em Lisboa, com Mário Pinto de Andrade, Francisco José Tenreiro, Marcelino dos Santos e outros, o CEA-Centro de Estudos Africanos, que conjuntamente com a Casa dos Estudantes do Império, se transformou num instrumento de formação das jovens consciências que se foram emancipando no início da década de 50.
"Perde a literatura de língua portuguesa uma grande figura e perdemos todos no campo dos afectos", afirmou o escritor angolano Pepetela, quando soube da sua morte. Pepetela recorda a autora do hino nacional de São Tomé como alguém que "através da sua poesia" soube "apontar o caminho aos mais novos": "O caminho da luta, da dignidade dos povos, da independência." Depois de publicar O Jogral das Ilhas, em 1976, editou em 1978 É Nosso o Solo Sagrado da Terra, o seu trabalho mais importante. "A sua poesia teve importância em todo o movimento anticolonial e em todos os países de expressão portuguesa", recordou o poeta Manuel Alegre.
Para além de ter nascido, vivido e morrido poeta, foi ainda Ministra da Informação e Cultura e Ministra da Educação e Cultura de S. Tomé e Príncipe, e presidente da Assembleia Nacional. Exerceu o cargo de presidente da União Nacional dos Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe, em acumulação com a presidência do Fórum da Mulher. Dela escreveu a sua conterrânea e também poetisa Conceição Lima, num texto recente na revista África 21: “Alda Espírito Santo é igual à transparência da casa que a habita, a casa que nos habita. Pelos nomes próprios nos distingue e nos chama".
Como referiu ainda Pepetela, "a Alda Espírito Santo foi, num determinado momento (anterior às independências dos países de língua portuguesa), das poucas pessoas que já sabia o caminho a seguir, porque, sobretudo através da poesia, ia indicando aos mais novos qual era o caminho, o caminho da luta, da dignidade dos povos, da independência".
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Ilha nua
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Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e de vida
Nos cantos amargos do ossobô1
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras...
.............................Alda Espírito Santo
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