O poeta Albano Martins completou recentemente 80 Primaveras (em 24 de Julho), e na altura que celebra 60 anos de vida literária, viu editada a antologia que reúne toda a sua poesia: As Escarpas do dia - (poesia 1950-2010), com a chancela das Edições Afrontamento.
Albano Martins tem tido a gentileza de manter comigo um relação bastante generosa (aliás, dentro de alguns dias, darei algumas notícias/novidades que confirmarão tal facto).
Assim, mais do que colocar aqui algum poema seu (colocarei no fim deste post alguns links que remeterão para a sua poesia, biografia, entrevista, análise à sua obra, etc,), coloco um poeema em sua homenagem, poema esse que intitulei de "Poema Verde".
Poema Verde
.............Ao Albano Martins
I
Nada já há a pronunciar em tua defesa
sob o viço das oliveiras. Enterra o teu segredo
num verbo apócrifo e gentio.
Oculta-o de perfil por entre a língua
que nunca possuíste na boca. Agasalha-o inteiro
até clarear o musgo na fissura do chão.
Preserva-o como se só a voz queime intacta
o sulco de uma lua de enxofre.
...................Ó ser,
cujas alegorias foram as sombras aprazíveis
do ígneo clarão. Como é verde a raiz duma planta
que secou, o mecanismo afectuoso da barbárie
e o curso trémulo do peregrino.
Entre o odor da terra e o calor difuso do coração,
a chuva ancorada sobre a flor de lótus
equilibrando-se corpo virado para as fogueiras
da água que pugna a seiva.
II
Há-de o tempo perpetuar aquela farsa arquitectónica
de um poema perfeito. Pois ermas estão as águas,
a divina força de sua granítica soberania
em nossas condenadas elegias.
Parece um lugar para amar no escuro, o indistinto
e primordial eco do anjo no Inverno?
...................Tu, poeta,
que deslindaste perplexo que há lodo sob as algas,
sob a pele, como uma vã condenação.
Na verdura da sílaba, em ti, qualquer crença nua
no oficio de romeiro, íntima
na sede mais forte dos líquidos, no pranto do sol,
poderá subsistir ao ensejo dos aguaceiros.
Tu, que não perduras no cântico mágico do poema,
mas tão só ciciado nas múltiplas máscaras
do tempo anterior ao acasalamento dos besouros.
III
Em cada árvore depois do fogo, o poema
regressa nu e a morte verde, a lágrima
corre como se uma enxurrada tolhesse as palavras
em homem e bicho, em água e sangue, em eco e cântico,
em borboleta e mariposa. Para sepultar os prados.
Falo do inexplicável sopro. Aí, tudo permanece.
E tudo é teu. Tu és o sangue, o verão e a pedra sagrada.
O poema é verde. Sinto-lhe o odor materno.
.............................................................João Rasteiro
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http://www.cnc.pt/Artigo.aspx?ID=738
http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/albano_martins/poetas_albanomartins01.htm
http://comlivros-teresa.blogspot.com/2009/10/entrevista-albano-martins.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Albano_Dias_Martins
6 comentários:
tive o privilégio de conhecer o albano martins pessoalmente e de trocar umas agradáveis palavras com ele :) até ousei oferecer-lhe o meu livro... um beijinho, joão*
Caríssimo João Rasteiro, reafirmo o que aqui já lhe deixei expresso: profunda admiradora do seu trabalho ao serviço da arte no seu todo, da poesia muito em particular. Defensora da importância dos rizomas, da psicologia positiva, do reforço centrado na valorização de cada parte envolvida no processo, e de um conhecimento partilhado, mais do que das árvores altaneiras onde as palavras, ainda que frutos sãos, tendem a cair de maduras sem utilidade, encontro aqui, "no centro do arco", sempre, remissões a obras e autores que nem sempre conheço ou, na eventualidade, conheço mal - o tal poder do rizoma que, agregando o conhecimento, o torna visível, organizado, apreensível, aos olhos de cada um dos seus ledores. Que motiva e sublima a procura. E o retorno aqui.
Saudações com estima e consideração
Maria, *___bonecadetrapos__*
no abraço do poema ,deixo.te
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um beijo amigo
( para que conste )
Um beijo para as "meninas2, especialmente (hoje) para a boneca de trapos pelas suas sempre simpáticas palavras.
joão rasteiro
Viva companheiro.
Desconhecia esta tua página.
Parabéns pela tua dedicação às artes da escrita.
Abraço Carlos Monteiro.
Obrigado pela força Carlos.
E agora que por aqui passaste, aparece mais vezes!
Abraço,
joão
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