A trompete de Bagdad
....................................Ao Ehren Watada
A tua crença estava só na morte e tocava. E
continuava sonhando e tocando. E a garganta
era inútil como a garra de um leopardo murado
na cidade sagrada onde se perdiam as sombras.
.
A morte não conseguirá abraçá-la. Como a pele
de um tigre de Bagdad perfumando as lágrimas
cheio de crias recentes. Eu era um corpo diáfano
incluído no exílio sempre aniquilado dos proscritos.
.
E a tua crença de trompetista puxou pelas mãos
a morte de Chang a morte como todos os mortos
que se esquecem. Como se a povoassem opulentos
olhos de animais que te aguardam
Há um oásis tumular dentro da terra. Um cadáver
insepulto sob uma salva divina de crenças e gélidas
promessas. Ouve-se apenas o gemido dos mortos
perfeitamente mortos em Bagdad sobre o orvalho.
.
Restam ainda os cânticos doídos do trompetista nu
iluminado agora por fulminantes súplicas putrefactas.
João Rasteiro
New York New York - Frank sinatra
5 comentários:
Só a barbárie pode ficar indiferente perante este Poema e o desespero destas mãos... Os polvos têm sempre a "consciência tranquila". Sim, os donos do mundo NUNCA ouvem "o gemido dos mortos/perfeitamente mortos em Bagdad sobre o orvalho".
Um abraço
Maria João Oliveira
e os nossos cânticos que aniquilam (ou tentam aniquilar) a barbárie estão aqui, neste poema, neste magnífico poema
um abraço
jorge
o vómito da barbárie no seu mais elevado expoente
dói quando os tentáculos se estendem
putrefactos
[ainda haverá luz ao fundo deste túnel?]
.
um beijo
Amigos,infelizmente, a barbárie do forte sobre o fraco(por vezes este é o poderoso, só que ainda não o descobriu)é o lema deste mundo actual, em que o negócio da guerra só não é o mais nojento que conhecemos, em virtude do facto de hoje morrerem mais seres humanos por excessos (e logo má alimentação também)no comer, do que aqueles que morrem por não ter um grão de arroz para enganar o estômago.
Beijinhos e abraços,
joão rasteiro
A visão estòmacal...uma pena, uma pena
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