O tímpano e a pupila
Num dos pratos o mar, no outro um rio, agora
que o tempo se desossa,
que as pedras
que piso se me enterram na memória e os caminhos
se me aguçam na alma como lâminas, o pão
molhado nas feridas,
o pão
ele próprio já também uma ferida, agora
que o tempo, que já tanto
compararam a um rio, mais
não é do que uma leve exsudação nos muros,
nas mãos, agora
que o céu se encrespa e que pedaços
de mundo arremessados
com toda a força aos olhos revolteiam
na treva antes de se extinguirem,
mais magro do que a neve
caminho, a alma aberta como uma ferida,
ao longo da memória, onde se fundem
o tímpano e a pupila.
Luís Miguel Nava
3 comentários:
Olá João, tudo bem? Cheguei até aqui pela poesia de Nuno Judice, que eu adoro, e acabei descobrindo e relembrando tantas outras, igualmente belas.
Gostei muito das suas, que não conhecia.
Um abraço,
Camila
É sempre uma grande satisfação "aparecer" por aqui alguém que se "surpreenda". É esse acontecimento que realmente motiva...
Assim, Camila, só desejo que apareça mais vezes.
Um beijinho,
joão rasteiro
Olha que lindo as beijocas virtuais e as surpresas. Já parece um poema do maldicias. Olhe os plágios...
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