(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»»
"Só existe o tempo único.
Só existe o Deus único.
Só existe a promessa única,
e da sua chama
e das margens da página todos se incendeiam.
Só existe a página única,
o resto fica,
em cinzas. Só existem
o continente único, o mar único –
entrando pelas fendas, batendo, rebentando
correndo de lado a lado".
__________ Robert Duncan
Acaba de ser recentemente editado no Brasil (Rio de Janeiro), o livro Um olhar para os detalhes - Ensaio fotográfico poético sobre as formas , organizado por Maria Dolores Wanderley, no qual participo. Com fotografias de Dirk Wiersma & Rudolph Trouw e poemas de Adele Weber, Alexei Bueno, Carlito Azevedo, Igor Fagundes, Iracema Macedo, Jacinto Fabio Corrêa, Jair Ferreira dos Santos, João Rasteiro, Lila Maia, Luis Serguilha, Márcia Cavendish, Maria Dolores Wanderley, Maria João Cantinho, Paula Padilha, Renato Rezende e Susana Vargas. Livro de uma grande beleza estética, apresenta belos textos poéticos e fotografias deslumbrantes.
Da apresentação: "Este livro é o resultado do intercâmbio de ideias sobre as formas da natureza e das formas criadas pelo homem, suas repetições e semelhanças nas diversas escalas da visão. O assunto é antigo, porém, é tratado aqui de uma forma talvez inédita. Reúne fotos e poemas de artistas brasileiros, portugueses e holandeses que colaboraram entre si para transformá-lo em imagens e textos e apresentá-lo ao leitor.
O tema nos é exposto em blocos de fotos e poemas. A cada bloco corresponde uma forma, exemplificada pelas fotos de Dirk Wiersma e Rudolph Trouw, ambos geólogos e fotógrafos, e que serviram de inspiração para que poetas de grande expressão da poesia contemporânea luso-brasileira escrevessem poemas, na sua maioria, especificamente para este fim.(...) a maioria das formas fotografadas é largamente conhecida, tais como espirais, curvas, esferas, ângulos, que são, ao mesmo tempo, enigmas. (...)".
.enquanto todos os seres que respiram o enxofre de forma ofegante acreditarem nos pilares das cidades as paisagens da era da técnica não sucumbirão às palavras que choram. e sob o banquete de luz do fogo-de-santelmo o burgo dos corpos metaliformes é uma coisa espantosa porque dilui em fábula invertida os amoráveis canais do desejo. o líquen é lento como os longínquos sorrisos da pétala e há uma criança única bordando a solidão. como se o gládio da modernidade apenas reproduzisse o bolor da arte do aço desprendida do território aonde repousa a memória das tribos. é apenas o embate brutal do arquitecto dilacerando todas as fragilidades dos seres que se amavam cândidos. a metrópole concebendo em suas células o paladar do milagre. ela é agora a violenta extremidade do holocausto em que o equilíbrio se descobre nervo. e é no ímpeto das cidades que se principia a visão. a infinita exalação da linguagem em sua nervura.