sábado, 30 de outubro de 2010

Prémio Literário Manuel António Pina

Foto de Jorge Velhote
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Para meu grande espanto, algum temor, mas, como será absolutamente compreensível, com uma imensa alegria e naturalmente, uma grande honra, ontem, dia 29 de Outubro, o júri da 1º Edição do "Prémio Literário Manuel António Pina", deliberou por unanimidade, atribuir o prémio à minha obra "A Divina Pestilência". O prémio foi instituído pela Câmara Municipal da Guarda, em parceria com a editora Assírio & Alvim, que publicará a obra. A entrega do prémio será efectuada em Sessão Solene, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, na Guarda, no dia 18 de Novembro, dia do aniversário do escritor Manuel António Pina ( http://www.mun-guarda.pt/index.asp?idedicao=51&idseccao=625&id=1481&action=noticia ). O júri foi constituído pelo próprio Manuel António Pina, Manuel Rosa (representante da editora Assírio & Alvim), José Manuel Vasconcelos (representante da Associação Portuguesa de Escritores), Virgílio Bento (Vice-Presidente da Câmara Municipal da Guarda) e pelo poeta Américo Rodrigues (Director do Teatro Municipal da Guarda). A todos eles, um muito obrigado.    

sábado, 23 de outubro de 2010

"Os vasos comunicantes"


Primeira revista-objecto surrealista portuguesa


No dia 09 de Outubro, foi lançada no CAE – Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, a revista Debout Sur L´oeuf, cujo editor é Miguel Carvalho. Como referiu a jornalista Licínia Girão no Jornal de Notícias, “Debout Sur L"oeuf" (de pé sobre o ovo) foi o nome escolhido para a primeira revista-objecto surrealista portuguesa, lançada, anteontem, sábado, no Centro de Artes e Espectáculos (CAE) da Figueira da Foz, por Miguel Carvalho, poeta, editor surrealista e livreiro antiquário. Numa tiragem de 100 reproduções, feitas à mão e com 30 exemplares que comportam seis obras originais de desenho, pintura, fotografia e objectos, assinadas e numeradas, a nova revista "é um lugar de (re)encontros, pondo frente a frente as motivações dos que fazem do seu modo de vida a liberdade, o amor e a poesia", realça Miguel Carvalho. Segundo o editor, a "Debout Sur L"oeuf" (DSO) nasceu no Cabo Mondego e colabora com surrealistas do movimento/grupo criado em torno de Breton, portugueses e internacionais, centrando a sua actividade na produção editorial, mas também na organização de exposições internacionais de surrealismo. (…) A "revista" encontra-se albergada numa caixa de madeira, cujo conteúdo reúne objectos poéticos, folhetos, fotografias, colagens, manifestos, poemas visuais, livretos cosidos manualmente à maneira japonesa de poemas e textos teóricos de colaboradores convidados”.
A revista Debout Sur L´oeuf, integra dois poemas meus, Iniciação”, com fotografia do brasileiro Marcus Salgado (RJ) e “Colmeia”, inserido em “autumn leaves”, colectivo de Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism, constituído por folhas de eucalipto pintadas, fotografia e “pintura” de Seixas Peixoto.
Embora sendo de alguma forma parte interessada, sugiro a sua compra, pois será uma excelente prenda de Natal, quer seja a edição especial (30 exemplares), quer seja a edição normal (70 exemplares), uma vez que se  trata de uma magnífica revista objecto. É sem dúvida um trabalho diferente, mas cativante e muito aprazível. 

COLMEIA

Na juba da boca quando as palavras
não forem senão a saliva das larvas
há um  excesso de língua atravessada
na sombra adolescente de Yanis Ritsos,

no espaço onde a reminiscência é avidez
no sulco mais longínquo da lascívia
alma minha gentil dos espectros viçosos
és a fonte derradeira dos anjos e suplicas:

arrebatam-me de júbilo a íris das abelhas
irrompam-me o coração por bilhas vivas
brotem-me as profundas raízes siderais. 

Há um desejo infundido de livros prenhes
jorrando o hipnótico sopro das geografias
sob um céu diluído pela abertura de um deus

e as vozes murcharão de paixão pelos ferrões
espinhadas pela garganta das crianças nuas.

As construtoras ainda ejacularão o puro mel
fendendo altivas sobre a pele o incesto dos lírios.
...............................................João Rasteiro

domingo, 17 de outubro de 2010

"A Imobilidade Fulminante"

António Ramos Rosa, (17 de Outubro de 1924). Poeta, tradutor e ensaísta, é hoje, dia em que faz 86 anos, um dos grandes nomes da poesia contemporânea portuguesa. É sem dúvida, "um dos mais fecundos poetas portugueses da contemporaneidade, a sua produção reflecte uma evolução do subjectivismo, em relação à objectividade. Reflectem-se nela variadas tendências, desde certas formas experimentais até a um neobarroquismo. A sua escrita, caracterizada por uma grande originalidade e riqueza de imagens tácteis e visuais, testemunha muitas vezes uma fusão com a natureza, uma busca de unidade universal em que o humano participa e se integra no mundo, estabelecendo uma linha de continuidade entre si e os objectos materiais, numa afirmação de vida e sensualidade" - (astormentas).  Recebeu numerosos prémios nacionais e internacionais, entre os quais o Prémio Pessoa, 1988 ou em tradução, o Prémio Jean Malrieu. Para ler alguns poemas seus: (http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/antonio_ramos_rosa/poetas_aramosrosa01.htm ).
Do meu livro de 2008, O Búzio de Istambul, o meu poema de homenagem a António Ramos Rosa:
Antes ramos e rosas
............................Ao A. Ramos Rosa

Ter um corpo de branco, um eco
todo silêncio: palavra!
Vozes, céu, terra, linho, o acto desnudo
fresco e fresco, fresco
e mãos acesas de sexos iniciais de imensos universos.
Um eco: uma língua
quase frémito, no coração dos hortos , completa e contínua.

Um corpo que morre no sabor entre as palavras
sobre o rosto incandescente do espanto: deus
nas talhas, no barro, no fresco, no sangue,
pai, filho, sílaba e espírito obscuro
de paragens, sopros, paisagens, círculos e hortos,
a terra branca, límpida nas veias: antes ramos e rosas.

O Corpo?
Um corpo de água?
O animal atónito, inabitado?
Um animal de branco, desejos no interior de constelações
sumptuosas, a terra aberta, silêncios: toda a terra, branca.

Não conheço esse corpo fresco, não fui a esse branco
espaço de todas as palavras, o hálito vivo da inquietação,
a respiração inaudível das formas nuas: antes ramos e rosas.
.........................................................João Rasteiro
Rodrigo Leão - ROSA


http://www.astormentas.com/ramosrosa.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Ramos_Rosa
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/recen018.htm
http://www.astormentas.com/biografia.aspx?t=autor&id=Ant%C3%B3nio%20Ramos%20Rosa

domingo, 10 de outubro de 2010

ROTAS

Acaba de sair o nº 13 da revista literária CUADERNOS TELIRA, editados por Telira - tertulia literaria arandina y ribereña, de Aranda de Duero (Burgos) - Espanha. Nela consta o meu poema (em edição bilingue) "Visão Maior", com tradução de Alfredo Pérez Alencart.

Visión mayor                                 

La plaza es la ciudad una rosácea luz
llama hambrienta del fuego de la piedra:
sus raíces confundidas en la luz
sus huellas en ofrendas de venas,
el mensurable movimiento de la memoria
cuando nos golpea como halcones,
palabras antiguas sobre túnicas rojas
excelsas en su dulce y estimulante obstinación.


Visiones, quimeras de Salamanca,
el corte audaz que desafía los cielos
que cierran el soplo sísmico de las aves,
se levantan como un dios de blasfemia
ciego y desnudo rasgando las gárgolas de mármol
 y hay exceso de simientes maduras el pólen
 rasgando las estaciones sagradas de otoño.


Otras, en la anticipación del movimiento
sumergiendo la impurificación de los cuerpos,
subliman la ciudad preñada de respiración
como frutos en maduración persistente
que sangra entera como cosas primitivas.


Y siempre un centro inflamado de fábulas
en conchas límpidas en la sangre del agua
agitando por dentro de bocas y anémonas,
una ciudad emergiendo a las cinco de la tarde.

............João Rasteiro (Traducción: Alfredo Pérez Alencart)

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http://www.telira.net/

sábado, 2 de outubro de 2010

Os caminhos da República

Segunda-feira, dia 04 de Outubro, pelas 20h30, no âmbito das comemorações no Município de Alvaiázere do Centenário da República, estarei na Biblioteca Municipal de Alvaiázere, onde efectuarei uma sessão de leitura da minha poesia. A noite prosseguirá com o lançamento do livro "Diz sempre que sim...", de Miguel Ângelo Portela da Silva Caetano e encerrará com o espectáculo "Contos com História" de Carlos Piecho (Vide cartaz abaixo). Quem puder aparecer, será bem-vindo, até porque a escolha é bastante variada, incluindo exposições, música, etc. Segue-se um poema meu, intitulado: "Al-Bai-Zir".

Al-Bai-Zir

Aqui eu sei,
como no centro dos oceanos de pérolas
que o fogo brota,
e morre, e volta a brotar,
como na fonte da serra o mesmo corpo
sacia a sede nos rios
que em seu leito têm lágrimas de dolinas
antigas e cativas em seu peculiar odre de mel.

Aqui o murmúrio chama,
furioso em seu galope de veias de urzes
a oliveira, o coração e o ouro
das constelações dos campos de milho,
nesta terra fêmea dos brancos e ocres casarios
e dos rebanhos e das cabras,
as crias na curva do astro-rei
que os deuses entregaram às Epigéias,
para que em fábulas florissem matriciais
nos ciclos mais auríferos dos algares do mundo.

Tens uma boca de trevos e silêncios
e nos dedos a infância das ânforas túmidas
errantes espíritos dos dias vorazes
que percorrem as muralhas
das torres de prata
onde já não há espaço ou horizonte
e o mundo se dilui sobre o campo de lapiás
no horto que respira a claridade
sob os olhos das orquídeas celestes
e incessantemente
o solo com vida, como a rotação da mó do sangue.

No tempo em que as coisas se ofereciam a deus
ofereceu-se-lhe Al-Bai-Zir
e o céu acendeu-se,
e morreu e voltou a acender-se
onde principia a vindima de teu carnívoro nome.

Alguém pronuncia terra para verbalizar vida
e cada movimento ígneo é o alfabeto das primaveras.
....................................................João Rasteiro

http://www.cm-alvaiazere.pt/

http://www.centenariorepublica.pt/