domingo, 25 de setembro de 2011

ROTAS



Ela pisa o mundo com a sua sombra,
ela executa a lágrima com as trovoadas
entre a castidade e o remorso
alastra nas cordas de um pulmão espesso.


E o aroma varado do fólio branco
de um poema enjeitado e ainda em ferida
entranha o amor consumado em clarões
porque o mundo é agora a cabeça acerba.


Quando sob o canto dos grifos se viu nua
mergulhou fogosa no limiar da intimidade.
..................................................João Rasteiro
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domingo, 18 de setembro de 2011

ESPAÇOS




A exposição fotográfica Entre a forma e a função: a materialização da justiça” é inaugurada no CES - Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, Piso 1, no dia 20 de Setembro pelas 16h30.

"Os Tribunais, enquanto espaços arquitecturais, incorporam e representam a materialização das relações sociais e de poder estabelecidas no âmbito da justiça. Contudo, reflectimos pouco sobre estes espaços e há quem diga, até, que estamos a falar de um tema vago e sem interesse.

Para contrariar essa percepção, e através de 15 fotografias, pretendemos dar conta do sentimento comunicante destes edifícios e dos seus diferentes espaços, onde salas de audiências, salas de espera, salas de acolhimento para crianças, entradas, escadarias e corredores se cruzam entre jogos de luz e de sombra, tempo e lugar, onde a justiça se concretiza todos os dias."

Estas 15 fotografias serão acompanhadas por 15 textos. Eu participo com estes 3 textos:
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Foto 4

Ao cimo os deuses esperam-nos como pássaros primordiais. A reverberação da escada talvez nos leve apenas aos demónios do verbo. Nos vitrais ousaremos sonhar o cerúleo da silaba pois existem orifícios de luz e fogo. Aí será a superfície que sustém a ordem dos mitos. E nela principia a justiça e o mundo. E nela se produzirá um ruído aterrador.

Foto 9


Este é o lugar da blasfémia. Aqui a geometria é um espaço que condiciona as falas que enxugaram as frechas do archote. E os cânticos são terríficos para os seres pasmados de fábulas. Este é o sítio onde a perspicuidade das estruturas é um ínfimo apólogo.


Foto 15

Os lugares permanecem separados apenas pela cíclica purga dos preceitos. No reflexo da bétula uma sombra em síncope atulha os casulos. Dos corpos se esvazia o espaço quando o espaço desvive. No exterior aguardam-se os próximos rogados seres que agoniam nas trevas. Todos serão reciclados no maduro seio dos deuses em seu pêndulo.
.............................................................................João Rasteiro


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http://www.ces.uc.pt/

sábado, 10 de setembro de 2011

ROTAS PORTUGUESAS


Álvaro Alves de Faria é, sem dúvida, uma das vozes mais conceituadas da "Geração 60" da Poesia Brasileira. Autor de mais de 50 livros, que vão do romance às novelas, livros de entrevistas literárias, ensaios, crónicas, além de peças de teatro, incluindo adaptações de textos seus ao cinema. Recebeu inúmeros prémios, quer seja ao nível da poesia, do teatro ou do jornalismo cultural, onde já obteve dois Prémios Jabuti. Desde 1999, publicou oito livros em Portugal, sete de poesia e a novela, “Cartas de Abril para Júlia” (2010). Diz que veio para Portugal em busca da poesia que lhe falta actualmente no Brasil. Agora que se prepara, neste mês de Setembro, para editar em Portugal mais um livro, intitulado, “Três sentimentos em Idanha e outros Poemas Portugueses”, é a altura ideal para lhe ter feito uma entrevista, até porque como afirma no poema OCO: Tenho pensado em desatinos,/como por exemplo/matar todos os poemas/de todos os livros do mundo,/palavra por palavra,/sílaba por sílaba,/deixando só uma coisa oca no lugar,/o poema mais." 
A entrevista pode ser lida na íntegra, no último número da revista TRIPLOV [ http://novaserie.revista.triplov.com/numero_19/alvaro_alves_faria/joao_rasteiro.html ].

SACERDOTE

Quando eu pensei em ser padre,
Deus não precisava ser temido por ninguém.

Depois desisti,
sem saber exatamente porquê.

A freira que ia casar-se comigo se matou
numa sexta-feira da Semana Santa.

Joguei então minha batina no fogo
que também me consumiu.

Então virei santo,
mas ainda não fiz nenhum milagre,
tenho muito a aprender.
......................Álvaro Alves de Faria
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(Outros poemas do livro, colocados no último número da revista TRIPLOV -  http://novaserie.revista.triplov.com/numero_19/alvaro_alves_faria/index.html ]).


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http://www.alvaroalvesdefaria.com/
http://triplov.com/
http://novaserie.revista.triplov.com/numero_19/index.html
http://novaserie.revista.triplov.com/numero_19/alvaro_alves_faria/joao_rasteiro.html
http://novaserie.revista.triplov.com/numero_19/alvaro_alves_faria/index.html