sábado, 22 de outubro de 2011

TRÍPTICO da SÚPLICA



No meio de tanta incerteza e tristeza com este pobre país à beira mar plantado, são estas pequenas alegrias e, porque não dizê-lo sem falsos pudores, pequenas vitórias, que nos (me) vão dando alguma força e conforto, e falo do meu novo livro, que no princípio de Novembro estará nas livrarias no Brasil. 
Este "Tríptico da Súplica" é um livro [reúne três livros: "Diacrítico", "A Divina Pestilência" e "No Prelúdio das Rezas Pagãs" - os dois primeiros são os meus mais recentes livros editados em Portugal] que é editado pela editora "Escrituras" de São Paulo, na sua colecção "Ponte Velha", que é apoiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB/Portugal).
Esta é uma colecção com cerca de quatro dezenas de obras já publicadas (essencialmente de escritores portuguese, mas também escritores dos países lusófonos), que inclui nomes como António Ramos Rosa, Nuno Júdice, Pedro Tamen, Luiza Neto Jorge, Ana Hatherly, Rosa Alice Branco, Luís Pacheco, Corsino Fortes, Maria João Cantinho, Fernando Echevarría, José Luís Tavares, Olinda Beja, Casimiro de Brito, Maria Estela Guedes, João Barrento, Maria Teresa Horta, Fernando Guimarães, Artur Cruzeiro Seixas, Fernando Aguiar, António Barahona, Pedro Proença, etc. 
Brevemente darei mais notícias sobre o livro e algumas actividades relativas à edição e/ou lançamento  do mesmo.


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http://www.escrituras.com.br/ponte.htm

domingo, 16 de outubro de 2011

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CAMÕES DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOS

Podereis roubar-me tudo:
As ideias, as palavras, as imagens,
E também as metáforas, os temas, os motivos,
Os símbolos, e a primazia
Nas dores sofridas de uma língua nova,
No entendimento de outros, na coragem
De combater, julgar, de penetrar
Em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
Suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
Outros ladrões mais felizes...
Não importa nada: que o castigo
Será terrível. Não só quando
Vossos netos não souberem já quem sois
Terão de me saber melhor ainda
Do que fingis que não sabeis,
Como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
Reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
Tido por meu, contado como meu,
Até mesmo aquele pouco e miserável
Que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há - de ser buscado,
para passar por meu, E para outros ladrões,
Iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
                                             Jorge de Sena

sábado, 8 de outubro de 2011

"A ÁRVORE E A NUVEM"


O Nobel da Literatura 2011 foi atribuído ao poeta Sueco  Tomas Tranströmer.  Como alguém já referiu, terá sido um Nobel em que se podera falar do triunfo da poesia. O poeta, que em Portugal é quase um desconhecido, tem poemas publicados apenas em duas antologias. Uma delas, da década de 80, publicada pela Vega, intitula-se "Vinte e um poetas Suecos". Foi coordenada por Ana Hatherly e Vasco graça Moura e a tradução dos 21 poetas esteve a cargo de Almeida Faria, Ana Hatherly, Vasco Graça Moura, Casimiro de Brito e Teresa Salema. Esta antologia foi apoiada pelo Svenska Institutet de Estocolmo e pelo P.E.N. Club Português.


Nesta antologia Tomas Tranströmer tem os seguintes poemas: "As Pedras", "Aquele que acordou com o canto sobre os telhados", "Kyrie", "Allegro", "Lisboa", "O Casal", "Quando a neve derreteu 66", "Citoyens" e "Montes negros". É já uma raridade esta antologia? É. E eu tenho a felicidade de a ter.


Do que li dele, de alguma forma, ainda pouco, parece-me um excelente poeta. Como Tomas Tranströmer escreveu: "Farto de todos aqueles que com palavras fazem palavras mas onde não há uma linguagem; /Dirigi-me para a ilha coberta de neve. /A veação não conhece palavras. /As páginas em branco dispersam-se em todas as direcções. /Eu dei com vestígios de cascos de corça na neve. /Linguagem, mas nenhuma palavra. / -


Será isto o objectivo da poesia? Será isto o grito da poesia? Talvez, talvez seja mesmo.


Da antologia "Vinte e um poetas Suecos", os poemas, "As Pedras", tradução de Teresa Salema e "Lisboa", tradução de Vasco Graça Moura.

As Pedras


As pedras que lançamos, ouço-as
cair claras como o vidro pelos anos fora. No vale
voam agitados os gestos do momento
gritando de copa em copa, calando-se
ao fino ar desse momento, deslizando
como andorinhas de cume
para cume até alcançarem
os planaltos extremos
ao longo da fronteira da existência. Aí caem
claros como o vidro
os nossos actos
ao encontro apenas do chão
que nós próprios somos.

Lisboa


No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes.
Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.
Acenavam através das grades.
Gritavam que lhes tirassem o retrato.

“Mas aqui!”, disse o condutor e riu à sucapa como se cortado ao meio,
“aqui estão políticos”. Vi a fachada, a fachada, a fachada
e lá no cimo um homem à janela,
tinha um óculo e olhava para o mar.

Roupa branca no azul. Os muros quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:
“será verdade ou só um sonho meu?”



http://ibnlive.in.com/news/literature-nobel-for-swedish-poet-tomas-transtromer/190656-40-100.html
http://www.poets.org/poet.php/prmPID/1112
http://en.wikipedia.org/wiki/Tomas_Transtr%C3%B6mer
http://www.pennilesspress.co.uk/prose/transtromer.htm

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

ROTAS

O já famoso Poemário que a Assírio e Alvim publica religiosamente à vários anos e que, religiosamente alguns coleccionam de forma fervorosa, e que em 2011 surgiu [para contentamento de uns e, para desgosto de outros] com capas duras, não deixa de ser, de continuar a ser, essencialmente, uma excelente antologia de poesia, para mais, a preço extremamente convidativo.
Aqui fica um dos poemas do POEMÁRIO, o poema "POÉTICA", de Fiama Pais Brandão:
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A luz e a treva que mostram o
prodígio. A literatura muda
que nasce do fundo do silêncio. Alfa e
ómega ou a manhã e a noite.
Seres feitos de matéria e pensa
mento feito de memória. Aqui

o verso repousa na sua figuração.
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.................In, POEMÁRIO, Assírio e Alvim, 2011
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