(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»» "Só existe o tempo único. Só existe o Deus único. Só existe a promessa única, e da sua chama e das margens da página todos se incendeiam. Só existe a página única, o resto fica, em cinzas. Só existem o continente único, o mar único – entrando pelas fendas, batendo, rebentando correndo de lado a lado". __________ Robert Duncan
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Espaços
Estarei com as crias à hora
em que as fêmeas se transformam fruto
entregues ao seu peso de cio.
Cada ventre tem um coração aceso
no centro da noite inesperada
e é o ventre vivo que me atrai intacto.
Os morcegos hematófagos
dançam em rodopio alucinado de luz
delimitando o círculo da batalha
até ao prodigioso universo da desordem.
In, "A liturgia das amoras - Parte II:morcegos" (inédito)
João Rasteiro
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Jorge Palma - "Espécie de vampiro"
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quarta-feira, 28 de maio de 2008
Ezra Pound - A arte da poesia
Receie as abstrações. Não reproduza em versos medíocres o que já foi dito em boa prosa. Não imagine que uma pessoa inteligente se deixará iludir se você tentar esquivar-se obstáculo da indescritivelmente difícil arte da boa prosa subdividindo sua composição em linhas mais ou menos longas. O que cansa os entendidos de hoje cansará o público de amanhã. Não imagine que a arte poética seja mais simples que a arte da música, ou que você poderá satisfazer aos entendidos antes de haver consagrado à arte do verso uma soma de esforços pelo menos equivalente aos dedicados à arte da música por um professor comum de piano. Deixe-se influenciar pelo maior número possível de grandes artistas, mas tenha a honestidade de reconhecer sua dívida, ou de procurar disfarçá-la. Não permita que a palavra “influência” signifique apenas que você imita um vocabulário decorativo, peculiar a um ou dois poetas que por acaso admire. Um correspondente de guerra turco foi surpreendido há pouco se referindo tolamente em suas mensagens a colinas “cinzentas como pombas”, ou então “lívidas como pérolas”, não consigo lembrar-me. Ou use o bom ornamento, ou não use nenhum”.
POUND,Ezra. Arte da Poesia, Ensaios. Tradução de Heloysa de Lima Dantas e Paulo Paz. São Paulo: ed. Cultrix, 1976, p.11-12 .
As a bathtub lined with white porcelain
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A BANHEIRA
Como uma banheira alinha a porcelana branca
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FRATES MINORES
With minds still hovering above their testicles
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FRATES MINORES
Com mentes ainda pairando sobre seus testículos
Tradução: Virna Teixeira
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Ezra_Pound
http://www.culturapara.art.br/opoema/ezrapound/ezrapound.htm
domingo, 25 de maio de 2008
Rotas
Trovador
Estranha é a indizível mísula
......................................irrealista
que reflectes nos olhos o olfacto
para auscultar a síntese das asas
que me fecunda verbo alienado
........................................primitivo.
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Ecoa único sob a boca do clarão
............................................úbere
plena vertigem da terra esguia
para a qual já nada representas
pois habito um espaço de fogo
............................................árido.
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Apenas me amparas em formas
...........................................sedentas
de palavras cosidas à respiração
pacientemente perfurando bocas
de sementes em bilhas de incenso
..............................................mágico.
João Rasteiro
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Madredeus - Coisas Pequenas
sexta-feira, 23 de maio de 2008
A construção do (corpo) mundo
A tecedeira
..........."A tecedeira criou o mundo"
............-Ana Paula Tavares-
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A tecedeira reduziu a memória seca
a nada, como as mãos depois da alegria
do pânico. Nos arcos negros de espaço
o branco da solidão. Movimentos lascados
de sol, ao anoitecer. A carne opaca.
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A tecedeira criou o lume absoluto
de fogo, como dedos de sofrimento
da água. Nada fermenta na sílica
límpida do carvão. As fibras mutáveis
da terra, sob líquidos. A língua espelhada.
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A tecedeira mastigou o liço obsceno
da luz, como a carne excelsa do céu
das vozes. Nas metamorfoses eólicas
uma ígnea linha. Na mecânica nocturna
da viagem, as cores. Os olhos alquímicos.
Inédito - 2005
João Rasteiro
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Chico Buarque - CONSTRUÇÃO
terça-feira, 20 de maio de 2008
O estado impenitente da fragilidade
A sua profícua produção está integrada nos seguintes livros: Exemplos 1-9 (reunindo as obras Exemplo Geral, Exemplo Relativo, Exemplo Dúbio e Exemplo Próprio), O primeiro e o segundo livro de Notcha (com o seu outro pseudónimo Timóteo Tio Tiofe), Contos da Macaronésia e O estado impenitente da fragilidade. É uma das vozes em língua portuguesa mais injustiçada no reconhecimento público. Sem dúvida uma das vozes maiores a descobrir urgentemente.
Cesária Évora - SODADE
http://memoria-africa.ua.pt/Digital-JoaoVario.aspx
http://www.asemana.cv/article.php3?id_article=25663
http://www.triplov.com/letras/exodo/vario_1.htm
http://www.confrariadovento.com/revista/numero18/phantascopia.htm
sábado, 17 de maio de 2008
Rotas
Nenhuma voz dilacera a loucura
Nenhuma voz dilacera a loucura
não há fúria ou alimento maduro
nem outro canto negro
é o reflexo do coração
ou um felino devorando a primavera.
Pomares acesos entre destroços
na margem dos anjos
o nevoeiro boca a boca a escuta do sangue.
Durante o sopro dos solstícios escuto
os pomares entre escombros
é o lado exterior da luz dilatada
a luta demoníaca das vozes
o sopro da loucura dentro do fogo.
O inferno no centro aberto do labirinto
induzindo um halo de lava nos açudes da pele
a visão fincada do paraíso sob a insídia dos ecos.
João Rasteiro
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NEY MATOGROSSO - Balada do Louco
http://letras.terra.com.br/ney-matogrosso/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ney_Matogrosso
sexta-feira, 16 de maio de 2008
O AMOR
de profundis amamus
(...)Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso.
Mário Cesariny - Pena Capital
Jorge Palma - Encosta-te a Mim
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http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/cesariny.html
terça-feira, 13 de maio de 2008
Lugares
A partir de um fragmento do texto “The literal World” (1998) de Jean Day – Tradução de Manuel Portela.
Desfloramento
1.
.as ironias da soberania
a mãe parcial
caprichos que desabrocham................outra
................invisível à sua...............garra
...........................................são precisas duas
questão de acumulação.........oiço-os
acabei de cantar
.................uma criança privilegiada,
2.
.pediram-me.........que fosse.............................específica
...............................sou como..............o artista
..........temem que eu possa.............................destruir
.......o original......................................os pontos negros
.......compreendo
......................o relógio....................uma espécie de lesma
...........................o meu olhar...........................ontem
alguém tentou uma aranha
................................a morte.........................tecia
................................o fim........................um ser capaz
na primeira pessoa
.................................que se diga........................fala,
3.
.se mente
o seu sujeito.....................entre
...sou o único mundo..................................único
................esqueci................................estou apenas
maravilhada pelo sol................................a esbranquiçar
.....................................no outro..........outro mundo
..............................fictício................lugar de variação infinita
tendem a imaginá-lo
..............................se me visse
..............................poderia perguntar......me vejo
eu não escrevo prosa
....................................ensinar...................me,
João Rasteiro
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TITÃS - Epitáfio
domingo, 11 de maio de 2008
LUGARES
Se morro
universo se apaga como se apagam
as coisas deste quarto
......................................se apago a lâmpada:
os sapatos - da - ásia, as camisas
e guerras na cadeira, o paletó
- dos - andes,
...............bilhões de quatrilhões de seres
e de sóis
..........morrem comigo.
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Ou não:
.........o sol voltará a marcar
.........este mesmo ponto do assoalho
.........onde esteve meu pé;
............................................deste quarto
.........ouvirás o barulho dos ônibus na rua;
..............uma nova cidade
..............surgirá de dentro desta
..............como a árvore da árvore.
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Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens
a mesma história que eu leio, comovido.
Ferreira Gullar
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Pink Floyd - Dark Side Of The Moon
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http://portalliteral.terra.com.br/ferreira_gullar/
http://www.culturapara.art.br/opoema/ferreiragullar/ferreiragullar.htm
http://www.culturapara.art.br/opoema/opoema.htm
quinta-feira, 8 de maio de 2008
LIVROS
terça-feira, 6 de maio de 2008
Sexo e Linguagem
ADÃO e EVA
há um sexo dentro das palavras
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há um sexo dentro das palavras
o erro do desejo.
saberás que o amor
não começou ainda,
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às vezes como uma víbora
o corpo só deixa a pele.
João Rasteiro
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In, "O Reverso do Olhar", CATÁLOGO da Exposição Internacional de Surrealismo Actual - Coimbra, 2008
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Rita Lee - Amor e Sexo
domingo, 4 de maio de 2008
SILVES
....................................................(H)á moira encantada
Já te foi tão próxima essa morada de leões e de gazelas
junto à gafaria, a solidão das fronteiras
onde o sussurro do branco se corrói
exercitando-se horto no coração transmudo
das mulheres níveas e morenas.
Hoje sabes que o mistério da luz açoita os olhos
até que o canto de al-mutamid corra o interior das gusas
que alimentam tendões de colos cortados
batendo por dentro das bocas para ostentar a flor
mas nada te preencherá a cegueira
das fábulas na margem do arade
a taifa rebelde rasgando a intimidade dos deuses
pela insídia da cor da terra e dos espaços ermos.
Frutificarás então artéria sísmica
do amarelo envelhecido e que alumbra ancestral
em opulência de imprevisíveis astros
que irradiam um cheiro a tâmaras nocturnas
sob a sede guardada em casulos abertos nos lábios do sal
um espaço errático igual aos meandros da água
o sulco da pedra como um covil
em que o poeta acúleo tangia cordas de alaúde.
Quem guardará na cozedura sublime dos fornos
a cintilação das pequenas ruas na perfuração das muralhas
que se tornam uma mantilha de ouro sob os céus?
João Rasteiro
In, Antologia poem`arte nas margens da poesia - III Bienal de Poesia de Silves
http://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_Silves
sexta-feira, 2 de maio de 2008
O Reverso do Olhar
"O Reverso do Olhar" - exposição internacional de Surrealismo Actual, prestará também homenagem aos portugueses que integraram este movimento fundado nos anos 20 do século XX pelo poeta francês André Breton, que tem como figuras cimeiras em Portugal Cruzeiro Seixas e Mário Cesariny, este último falecido há um ano.
O Surrealismo nas artes plásticas portuguesas estará ainda representado através das obras de Carlos Silva, Santiago Ribeiro, Seixas Peixoto, Raul Perez, Carlos Martins, Pedro Medeiros, Luís Nogueira, Fernando Lemos, Alfredo Luz, Eurico Gonçalves, Miguel de Carvalho, etc.(...)
Esta exposição mostra os novos protagonistas, e os mais representativos, do Movimento Surrealista Internacional, através de trabalhos de 130 autores, em "collage", desenho, escultura, fotografia, gravura, "montagens objectuais", pintura e poesia (na qual colaboro com alguns textos).
DOORS - Waiting for the sun
http://pt.wikipedia.org/wiki/Surrealismo
http://www.mundosites.net/artesplasticas/surrealismo.htm http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/S/surrealismo.htm
quinta-feira, 1 de maio de 2008
1º de Maio
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já separadas como estratos,
mas recordando-se uma à outra;
subimos pelo frio:
paredes altas de água a condensar-se
no ar ainda azul;com a transparência
sem som a suavizá-lo;
perguntamos indecisamente:
neve mais silêncio
igual ao fim do azul?
ou a fórmula do esquecimento;
onde passam gelos vagarosos;
deduz-se doutro modo?
seja como for,
nenhuma sombra nos prolonga
por este chão de vidro;
e o ar boreal reflecte-nos os olhos,
tão limpos,que os extingue.
Carlos Oliveira
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In, Entre Duas Memórias
http://naperiferiadoimperio.blogspot.com/2007/03/quando-ernesto-che-guevara-decidiu.html