sábado, 30 de abril de 2011

ROTAS INEXORÁVEIS

João Rasteiro e Manuel António Pina
A um Jovem Poeta


Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser

que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças

como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.

Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê. 

........................Manuel António Pina
In, "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança"
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http://www.citador.pt/poemas.php?poemas=Manuel_Pina&op=7&author=20197

http://www.dglb.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1.aspx?AutorId=9200

sexta-feira, 22 de abril de 2011

ROTAS INEXORÁVEIS

Através de um poema do poeta e amigo Luís Carlos Patraquim, uma pequena homenagem a João Maria Tudela, falecido hoje aos 81 anos. Para recordar também a sua voz nesse inconfundível "Kanimambo".

nosso é o tempo do canto
conquistado a sangue
e terra

sobre o vibrato dos dias
alguma voz
são todas as vozes

este rosto etéreo a meu lado
e musgo nas marés do corpo
o sorriso de ser mundo
a noite nua
fremente

nosso é o tempo do canto
sobre o lugar
na descoberta palmo a palmo
de mais sol

o tempo amante
a voz da amada
o escrutínio deste sexo fundo
com palavra
....................Luís Carlos Patraquim

In, "Monção", 1980
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sábado, 16 de abril de 2011

EFÉMERAS ALEGRIAS

Após algum tempo "afastado" deste espaço e para "encerrar" as "Efémeras alegrias" da atribuição do Prémio Literário Manuel António Pina, pela Câmara Municipal da Guarda e consequente edição da obra "A Divina Pestilência", pela Assírio & Alvim, aqui ficam mais três poemas, bem como um pequeno filme sobre a entrega do prémio. A todos os que estiveram presentes, aos que me enviaram os parabéns ou um abraço de amizade, bem como a todos os que noticiaram (principalmente nos seus blogs ou páginas do faceboock) a entrega do prémio e também já alguns comentários sobre o livro, apenas, um muito obrigado. Na verdade, tudo isto sabe bem, mesmo se "tudo isto", não passa de "efémeras alegrias", que contudo, são as que nos vão "alimentando" na nossa eterna utopia de eternidade.
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A matança é uma inferência,
nunca a criação permanecerá
em sua aparente invisibilidade.
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No centro do mundo o vulcão.
As palavras arquitectam a morte,
a poesia as criaturas pasmadas.

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O poema serve de mortalha,
ignoro de que ocultos metais
é constituída a arte dos dedos.
............................João Rasteiro
[in A Divina Pestilência, Assírio & Alvim, 2011]