(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»»
"Só existe o tempo único.
Só existe o Deus único.
Só existe a promessa única,
e da sua chama
e das margens da página todos se incendeiam.
Só existe a página única,
o resto fica,
em cinzas. Só existem
o continente único, o mar único –
entrando pelas fendas, batendo, rebentando
correndo de lado a lado".
__________ Robert Duncan
Sinto uma tristeza indescritível por esta perda, minha, nossa e sobretudo do país. Para além da enorme honra (e responsabilidade) em ter obtido a 1º edição do Prémio Literário Manuel António Pina (em boa e justa hora instituído pela Câmara Municipal da Guarda), sinto-me possuído de uma
tremenda felicidade por me ter oferecido a sua plena amizade. Não irei esquecer uma conversa recente (quando ele que me telefonou a procurar pelo Prof. José Carlos Seabra Pereira) de mais de 40 minutos, onde me falou da tropa, do pai, do jornalismo, do país e da vida - e nessa mágica e para sempre inesquecível conversa, curiosamente nunca se falou de poesia. Um grande e eterno abraço Manuel António Pina. Portugal perdeu um enorme poeta e sobretudo, um homem bom. Como referiu D. Januário elogiou o“homem recto, competente, solidário e lúcido",o “Inconformismo” e um“misto de sonho e de bom humor, que falta tanto a tanta gente”, foram outros atributos do prémio Camões 2011 que D. Januário quis realçar. Disse também hoje no funeral o Germano Silva: "
Além do talento que ele tinha, a maneira como encarava a vida, sem ódios, sem rancores”, sublinhou o jornalista e historiador do Porto. “Tinha um sorriso que era uma janela aberta sobre o coração dele”. Um adeus breve amigo. Até um dia destes. E contrariamente ao que dizias, os poetas não vão desaparecer, a prova és tu. E como dizias, "Ainda não é o fim nem o princípio do mundo, calma é apenas um pouco tarde". R.I.P. amigo, até um dia destes.
No 1º semestre de
2012 foi publicada a antologia de poesia «Algarve
- 12 Poetas a Sul do Século XXI» (Editora Livros Capital). Esta antologia
pretende representar aquilo que alguns dos mais importantes poetas do Algarve
(naturais ou adoptados) fizeram nos últimos anos.
A antologia contempla
poetas com obra de poesia publicada até à primeira década do século XXI e, para
além de conter dez poemas por autor, com a respectiva biografia, possui ainda
um ensaio crítico sobre a poesia de cada poeta, ensaio esse que foi escrito por
outro poeta convidado.
O prefácio é de
António Carlos Cortez, poeta, professor e crítico literário.
Os poetas
antologiados são, António Ramos Rosa, Casimiro de Brito, Fernando Esteves Pinto,
Gastão Cruz, José Carlos Barros, Manuel Madeira, Miguel Godinho, Nuno Júdice, Pedro
Afonso, Rui Dias Simão, Tiago Nené e Vítor Gil Cardeira. E a análise crítica
foi efectuada por, António Carlos Cortez, João Rasteiro, José Bivar, José
Carlos Barros, Manuel Madeira, Maria do Sameiro Barroso, Miguel Godinho, Pedro
Afonso, Pedro Sousa, Sylvia Beirute e Tiago Nené.
Como já repararam,
tive o prazer e também algum receio, em aceitar realizar um pequeno texto de
análise crítica sobre a poesia de Nuno Júdice. É pois esse texto que se segue:
.
SOBRE A OBRA POÉTICA DE NUNO JÚDICE
Por um lado podemos afirmar ser
hoje Nuno Júdice um dos três ou quatro nomes mais importantes da actual poesia
portuguesa, além da sua importância ao nível da ficção. Por outro lado, e de
certa forma, ainda é um pouco desconhecido do público em geral. É evidente que
a qualidade da poesia e da literatura em geral não está (a atribuição do Nobel
é disso um exemplo claro) dependente do número de prémios ou galardões, nem do
número de livros editados, mas, parece-me óbvio existir alguma injustiça (que
naturalmente, só o tempo se encarregará de consubstanciar ou não, como sempre
fez com todas as obras e autores), nesse aparente desconhecimento que algum
público, inclusive o da poesia, ainda demonstra em relação a Nuno Júdice e
concretamente à sua extraordinária obra.
Podendo a poesia de Nuno Júdice
ser considerada uma poesia pura e límpida, contrariamente a um António Franco
Alexandre, possuidor de uma poesia bastante densa, ela é contudo na sua
essência uma poesia que nos pode remeter a muitas abordagens em torno do
poético, inclusive sobre o espaço na contemporaneidade e na sociedade
pós-moderna, com o predomínio da “linguagem” em torno do consumo e do capital, do
gosto do efémero e das experiências de vida inauditas, tornando o olhar do
sujeito lírico como que um espelho reflector das paisagens e espaços que se
cruzam de forma quase apocalíptica. A vida atribuída a essas “personagens”,
cidade, aldeia, o sujeito pensante e o próprio poema, o branco e o negro,
tornam assim mais complexa uma poesia que de certa forma é uma corrente de água
transparente e colorida, transbordando em direcções várias.
Uma das marcas dominantes,
ou talvez a marca dominante da sua produção lírica é a persistente reflexão
sobre a prática literária e as reflexões entre escrita e conhecimento no âmbito
da literatura e cultura em língua portuguesa no seu “obrigatório” diálogo com a
cultura ocidental (semelhante por vezes à poesia de Vasco Graça Moura).
Assiste-se a uma permanente reflexão, intercruzada entre literatura e ciência,
poesia e filosofia, onde o poético indaga permanentemente a função do ser, a
temporalidade e a existência num mundo de uma “globalização” em que nos encontramos
“pregados ou crucificados”. Logicamente, muitas dessas reflexões e indagações
vêm impregnadas de ironia e sobretudo do fingimento pessoano, uma vez que a
refiguração do mundo e da própria linguagem é encenada no próprio texto poético
e literário. Poder-se-á inclusive afirmar ser a poesia de Nuno Júdice um espaço
privilegiado, onde o poeta é um voyeur
profissional a observar o “mundo objectivo” e a transforma-lo através da
subjectividade, estabelecendo um olhar crítico através do contraste entre o
mundo exterior e o mundo interior do sujeito poético, o real e o imaginário, as
palavras e o silêncio, permitindo ao leitor delinear paisagens e espaços ou
correntes de “água fresca”, onde possa ser possível reaprender o sentido do que
se vê, ou pelo menos reaprender um sentido outro através do espelho da água
cristalina e límpida, um sentido que “brilha” como espelhos reflectores. Um dos
espelhos recorrentes na poesia do poeta é a janela sobre a(s) cidade(s), uma
vez que como afirma a professora brasileira Ida M. F. Alves: ”As imagens de cidades na poesia de Nuno
Júdice acabam por alegorizar a situação e a participação do poeta na sociedade
contemporânea, um perseguidor de sentidos, frente ao fugaz, às perplexidades da
vida urbana”.
É o poeta em permanente
reflexão e questionamento, através de imagens ou flash, solicitando a nossa
“solidariedade” no entrecruzar de olhares pelas cidades, pelo espaço que nos
alimenta e aniquila, tentando repensar o sujeito e o mundo, ou pelo menos “um
mundo” que nos rodeia e é familiar. Como já referi, desde sempre emergiu na
poesia de Nuno Júdice uma encenação do sujeito ficcional, daí ela estar povoada
de “biografias imaginárias” de si próprio, numa recorrente e múltipla
questionação do acto poético, suportado em todos os “odores dos mortos” (sem se
preocupar comA angústia da influência,como nos é apresentada por
Harold Bloom), numa escrita que possui e suporta toda uma releitura de um
imensurável saber literário, mesmo se essa “irrupção nocturna” de sombras interiores,
(memórias?) do sujeito literário ou do interior da terra seja muitas vezes
interrompido e “colocado em sentido”, por interferências irónicas do quotidiano
que nos envolve.
Nuno Júdice é hoje uma voz
entre as mais altas e originais da poesia e literatura portuguesa
contemporânea, na sua permanente luta contra o indizível da palavra e da
poesia. Esta é ainda o mistério, a criação e a revelação do absoluto e do
sagrado que o poeta tenta, com sofrimento, modelar nas formas que a língua lhe
colocou à disposição ou na “liberdade” que a linguagem lhe permite e
“autoriza”. É o incomensurável que ele procura dominar na convivência pertinaz
de cada momento e no saborear de cada acto perante a luz que o ilumina e cega
ao mesmo tempo, mesmo sabendo da impossibilidade de capturar o indefinível que
nos alimenta a garganta das vozes. Por isso, como refere a poeta brasileira
Vera Lúcia de Oliveira:” Nuno Júdice não
despreza o recurso ao inconsciente, ao sonho, à bruma, às manhãs de Outono e
Inverno, às atmosferas em que o onírico é colhido de forma profusa, impetuosa e
barroca e em que os vocábulos se associam de modo aparentemente caótico,
arrastando o puro e o impuro da memória”. Logo, o poeta insiste numa
procura do senso íntimo e visceral de cada momento e de cada elemento, seja
físico ou espiritual, essencialmente no seio da natureza revisitada pelo poeta
de forma insistente através da palavra, do eco, do silêncio pertencente a essa
mesma natureza. Como refere ainda Vera Lúcia de Oliveira: ”O surpreendente neste poeta é que, embora sua poesia pareça debruçada
sobre si mesma, sem historicidade e sem ambição de projectar-se activa e
incisivamente na realidade, na verdade para Nuno Júdice a poesia tem função
altamente humanizadora, de pesquisa e conhecimento da nossa essência mais
íntima, é actividade cognitiva por excelência e dela não prescindimos”.
Toda a obra de Júdice, vista em
determinada perspectiva, assemelha-se a um imenso diálogo auto-reflexivo e
interrogativo, em que o poeta tantas vezes se auto-indaga num sofrimento que se
adivinha até ao último fôlego da carne: “Para
quê/escrever?” e “O que fica/nas
palavras/daquilo que se viveu?”, como se fossem as últimas palavras de um
condenado, pois a poesia não tem, nem deverá ter, nenhuma utilidade prática,
ela só se explica existindo. A poesia não mudará nada deste “nosso mundo”, mas
este mesmo mundo talvez já não possa passar sem a poesia, mesmo se ainda não se
apercebeu de tal facto. A poesia é apenas o eco do assombro que germina a
palavra na apreensão directa da “realidade” da luz.
Concluindo, Nuno Júdice,
com uma poesia aparentemente límpida, pura, equilibrada e, ao mesmo tempo
inovadora, é hoje uma das vozes fundamentais da poesia e literatura portuguesa
contemporânea, uma voz sempre com o fingimento sagrado e necessário da palavra
que faz da circunstância e do reenvio pretextos para a narração das vivências
que nos rodeiam, através da linguagem que nos alimenta e constrói. A palavra está
sempre demonstrando a ideia “de que mais
forte do que tudo é o desejo de viver”. E, como refere Nuno Júdice, no
poema “Amor”,Um
poema, dizes, em que/o amor se exprima, tudo/resumindo em palavras.//Mas o que
fica/nas palavras/daquilo que se viveu?//Um pó de sílabas,/o ritmo pobre
da/gramática, rimas sem nexo…/.
Acaba
de ser publicada no México em Junho de 2012, pelas Ediciones Libera, a antologia
de poesia portuguesa contemporânea, "Cortei
a laranja em duas", organizada e traduzida por Fernando Reyes,
professor na UNAM - Universidade Nacional Autónoma do México e que, com bastante satisfação, tenho o prazer de integrar .
A
antologia inclui poemas de onze autores portugueses (Maria do Rosário Pedreira,
Ruy Ventura, João Rasteiro, Fernando Aguiar, Inês Lourenço, Aurelino Costa,
Pedro Ribeiro, Alexandre Nave, Filipa Leal, Américo Teixeira e José Rui
Teixeira). O prefácio é de Jesús Gómez Morán.
Neste,
afirma o autor: (…) “a cultura portuguesa caracteriza-se por ser o oposto da
brasileira. Se, grosso modo, o temperamento polícromo e alegre é claramente
brasileiro, o lusitano tem como qualidades intrínsecas o claro-escuro e a
melancolia. Penso, por exemplo, na poesia de Pessoa, cuja figura enorme seria
capaz de eclipsar qualquer nome: poeta com a altura de Eliot e de Pound na língua
inglesa e de Octavio Paz e Neruda em espanhol, o seu impacto (juntamente com o
de Mário de Sá-Carneiro) é tão evidente que a sua sombra caiu praticamente
sobre todos os autores portugueses dos períodos posteriores, a tal ponto que
explorar o seu contributo lírico se transformou num repto difícil mas iniludível.
(…)
Quando se pensa nas conexões culturais existentes entre Portugal e México, é possível
aceitar que a poesia lusa foi reinventada em 1888, ano do nascimento de
Fernando Pessoa. Além disso, esse temperamento taciturno e saudoso parece gémeo
do meio-tom, dessa nota crepuscular que caracteriza, por sua vez, a poesia
Mexicana, pela voz do seu autor mais representativo nesse período, Ramón López
Velarde. Logo, o que se aplica a um poeta pode ser válido para o outro, e o
nosso conhecimento das letras e da cultura portuguesa, além desse temperamento,
não manifestou em todo este tempo um eixo ou um acontecimento particular que as
tenha vinculado.
(…)
Estas ligações não passariam muito tempo despercebidas e Pessoa haveria de ser
analisado, principalmente por Octavio Paz, e traduzido profusamente por
Francisco Cervantes, a quem devemos, além disso, a publicação póstuma da
antologia Cara Lusitana, editada pelo
Instituto de Cultura Queretano (2010), cuja lista se compõe de nomes
posteriores a Pessoa e a Sá-Carneiro: Adolfo Casais Monteiro, Raul de Carvalho,
Luiza Neto Jorge, Manuel Gusmão, Miguel Torga, Fiama Hasse Paes Brandão,
Vitorino Nemésio, Eugénio de Andrade, Alberto de Lacerda, António Osório,
Fernando Guimarães e outros. Essa abordagem a esta etapa da lírica portuguesa
teve, contudo, pelo menos mais duas antologias prévias. Uma foi preparada por
Fernando Pinto do Amaral, Antología de la
poesía portuguesa contemporânea, publicada pela UNAM (1997), e a outra foi
dada a estampa pela editora madrilena “Hiperión”, Portugal: la mirada cercana (2001). Em qualquer delas, o rol de
poetas incluídos anda muito próximo da supracitada Cara Lusitana.
Apesar
disto, já se notava a necessidade de uma incursão pelas vozes lusitanas mais
recentes, lacuna que a actual antologia preparada e traduzida por Fernando
Reyes vem colmatar. O leitor terá oportunidade de tirar as suas próprias conclusões,
mas quanto a mim a característica mais relevante que posso destacar desta nova
empresa compiladora é a tensão estabelecida entre tradição e inovação nos autores
selecionados. Nota-se, desde logo, a aparição do temperamento taciturno antes
mencionado, a saudade nascida ante a contemplação do mar (com clara índole sebastianista),
o espirito órfico herdado de Fernando Pessoa e da sua geração, ao lado de continuas
referências intertextuais e das definições da função que o poeta deve assumir,
como nestes versos de Inês Lourenço: “habitar
um planeta / de versos suicidas / é o primeiro ofício do poeta”. Em união com
estes traços, verifica-se uma inquietude experimental que dinamiza a expressão lírica,
tanto em poemas dialogados de forma tal que se aproximam bastante da heteronímia
(como é o caso de Ruy Ventura), quanto noutros com versos tao breves que
parecem enformar linhas verticais (como sucede com Fernando Aguiar). Apesar
disso, há poetas como João Rasteiro em cuja obra se unificam a tendência experimental,
quando publica poemas em prosa (com versos praticamente justapostos), e a tendência
tradicional, quando escreve em tercetos medidos.
Ao
analisar o temperamento do romantismo, Octavio Paz traçou dois enfoques
primordiais: a analogia e a ironia. E é este segundo elemento o que emprega
Fernando Aguiar para rasgar o véu melancólico da tradição poética lusitana.
Isto acontece quando descreve algo aplicável tanto na operação de uma torre aéreo-portuária
quanto na composição de um texto literário: “para quem julga que estou a / exagerar, não diga apenas que / não há dúvida
que está realme / nte mesmo cada vez mais um / ito difícil. nem que está d / ificílimo.
está dificilíssimo” E certamente, “ não
há dúvida”. Por mais difícil que pareça, neste caso, estender uma ponte sobre
este território poético marcado pelos contrastes de um claro-escuro, existem
dois pontos salientes: estamos diminuindo a distância que nos afastava da
poesia portuguesa contemporânea e, paulatinamente, essa tradição vai mostrando
evidentes signos de regeneração (que, ao fim de contas, é um postulado de ascendência
órfica) e frescura lírica.
"Um dos mais famosos escritores, poetas, cronistas e polemistas holandeses, que vivia em Portugal desde os anos 80, morreu ontem aos 68 anos.
Gerrit Komrij (1944-2012) deixou a Holanda em 1984 e mudou-se para Alvites (Trás-os-Montes) em Portugal. Em 1988 mudou-se de novo, desta vez para para Vila Pouca da Beira. A aldeia que começou por se escandalizar com a presença do escritor e do seu companheiro acabou por torná-lo um dos seus filhos dilectos. Da sua vasta obra apenas uma parte está editada em Portugal, na Assírio & Alvim.
Em 1993 recebeu o prémio P.C. Hooftprijs, o principal prémio literário dos Países Baixos, e no ano 2000 foi escolhido pelo público para ser o Poeta da Nação estatuto que é atribuído por um período de cinco anos.
Sobre os portugueses dizia "vivem numa espécie de fantasia permanente, não acreditam realmente em nada por isso não levam nada a sério".(DN Artes)
Foi por isso com imensa
tristeza que tomei conhecimento da morte do Gerrit, pois se não poderei afirmar ter
sido um AMIGO, convivi bastantes vezes com ele e, de certa forma, orgulho-me de
ele ter participado em 2004 nos Encontros Internacionais de Poetas de
Coimbra/U.C. depois de ter sugerido o seu nome.
E como referiu em forma de
lamento o tradutor Fernando Venâncio, que verteu para o português a poesia do
Gerrit (publicou alguns livros na Assírio e Alvim, incluindo uma antologia da
poesia Neerlandesa e um romance na ASA), "foram feitos esforços para
alertar o meio literário e cultural português para a presença de uma pessoa de
tanta relevância, mas o facto é que não houve um verdadeiro clique entre ele e
os meios culturais portugueses", lamentavelmente, digo eu.
Deixo aqui um belo poema do Gerrit (na foto de cima, estamos no
Museu do Chiado em Coimbra) e um excerto do comunicado de imprensa da editora
holandesa do Gerrit, traduzido por Fernando Venâncio e Arie Pos.[-"em nome da família, a editora neerlandesa De Bezige Bij informa que
Gerrit Komrij faleceu ontem à noite, em Amesterdão, após um curto período de
hospitalização. Com ele perdemos um importante poeta, um autor e tradutor
multifacetado, um grande estilista, um polemista mordaz e, sobretudo, um amigo
querido. Gerrit Komrij foi um inspirador para gerações de poetas, escritores e
jovens conquistadores dos céus, e continuará a sê-lo (...)"]. O funeral terá lugar no dia 19 de
Julho em Vila Pouca da Beira. Até um dia destes Gerrit. R.I.P./R.I.P./R.I.P.
Máscaras
O homem com a máscara brincando
Até chegar a hora em que o seu rosto
Partilhava com ela uma só vida: Já miúdo a história me punha indisposto.
Negava-me a aceitar. Quando crescesse, Ia mostrar que outra maneira havia: Que cada máscara, sem dor ou risco, Como um capuz tirar-se podia.
Fiz disso muito tempo um firme credo. Escondi, confiante, a minha natureza. Extinto o fulgor do jogo que eu fazia, Teria ela a original pureza.
Hoje sou velho, só para admitir: A história é real. A máscara agarrou-se´. É como habituares-te ao inferno. Como se olhar vazia cova fosse.
Para minha grande surpresa, o meu livro "Tríptico da Súplica" publicado no final de 2011 pela "Escrituras Editora" de São Paulo, conjuntamente com a obra "Escarpas" do poeta Gastão Cruz, acaba de ser nomeado para o "Prémio PT Literatura 2012" na categoria de poesia. Vide notícias abaixo.
Cinco portugueses nomeados para o "Prémio PT Literatura 2012"
Cinco obras de autores portugueses estão entre as 60 nomeadas para o
Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa 2012. Valter Hugo
Mãe com o romanceA
Máquina de Fazer Espanhóis, o poeta Gastão Cruz (Escarpas), António Cabrita
com o romanceA
Maldição de Ondina, o poeta João Rasteiro (Tríptico
da Súplica) e Alberto Xavier comO Escandinavo Deslumbrado, a concorrer na
categoria de conto/crónica. A lista, que foi divulgada nesta quarta-feira à
noite no Rio de Janeiro, inclui ainda a obraHistórias
da Gravana, da santomense Olinda Beja, e as obras de 54
autores brasileiros. Pela primeira vez, este prémio conta com três categorias:
Poesia, Romance e Conto/Crónica. Os vencedores serão conhecidos em Novembro. Os
vencedores de cada categoria vão receber 50 mil reais cada um (cerca de 20 mil
euros), o mesmo para o Grande Prémio Portugal Telecom 2012 - (fonte: Público).
Caros amigos, amanhã, domingo, 27/05/12, estarei na Feira do Livro (Parque Verde do Mondego) para uma sessão de apresentação/autógrafos com o meu livro-objecto "ELEGIAS", o qual foi publicado em 2011 pela "Debout Sur L´Oeuf". Estarão presentes o editor Miguel de Carvalho (da Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho - Banca nº 3 da feira) e o pintor holandês Rik Lina, que ilustrou a obra. A apresentação será do Professor José Carlos Seabra Pereira e a sessão decorrerá no Auditório 1 da Feira do Livro pelas 16h00. Apareçam todos e mais alguns. Seria uma enorme alegria poder contar com a vossa presença.Beijinhos/Abraços.
sábado, 12 de maio de 2012
.
“Bicarbonato
de Soda” .
.
Um
tal de Fernando Pessoa
ocultava sempre as múltiplas e habituais cartas
que recebia de um certo Álvaro de Campos,
todos estes papéis pálidos hoje se deixaram
de
jogar pelo prazer do impensável,
até
Pessoa a propósito de metafísica dizia
às vezes:
In, "O sabor dos dióspiros só a Deus pertence" [inédito]
sábado, 28 de abril de 2012
Na próxima quinta-feira, dia 03 de Maio,
pelas 18h00 na Casa da Escrita em Coimbra, será apresentado o meu livro de poesia "Tríptico da Súplica".
Este livro foi editado no final de 2011
em São Paulo, pela Escrituras Editora, na coleção “Ponte Velha” que publica
autores portugueses e que é apoiada pela Direção-Geral do Livro e das
Bibliotecas/Portugal.
A apresentação da obra estará a cargo do
Professor Doutor José Carlos Seabra Pereira da Universidade de Coimbra e terá
uma leitura por Jorge FragosoeCândida Ferreira.
Haverá ainda um momento musical pelo
grupo de Fados de Coimbra “Fado ao Centro”
A todos os que queiram e possam comparecer, será para mim uma enorme alegria poder contar com vocês.
Decorreu na passada sexta-feira, dia 30 de Março, com a presença
do homenageado, na Fundação Eng. António de Almeida no Porto, o lançamento da Antologia "100 Poemas para Albano Martins" da Editorial Labirinto, que foi coordenada pela poeta Maria do Sameiro Barrosoe prefaciada pelo grandeEduardo Lourenço, tendo ainda sido apresentada a obra porFernando Guimarães. Nesta (entre tantas
que já ocorreram e ainda irão ocorrer) merecida homenagem (que
terá nova apresentação em Lisboa no dia 27 de Abril pelas 21h00
na Sociedade Portuguesa de Autores) participei com o poema que se segue:
.
Apriorismo Vital
Já não será necessário o pecado,
há um instante em que a memória é estreita
e os homens circularão ávidos
procurando a sua matilha
como se o rebentar dos dedos em magnólias
não fosse a indefinida e factícia criação,
a água e a sede num corpo de aurora,
o coração estilhaçando-se em girassóis acesos,
o poema mergulhando inteiro
em suas concêntricas e primígenas alegorias,
porventura homens
ou vozes encantadas sob a lua e o sol,
sob a lágrima avivada do tempo,
o cântico que anuncia os divinos náufragos de Ítaca
sob o músculo que se retrai
fervilhem majestosos
nos delicados argumentos da morte
em profundos círculos quebrados de estirpe e haste
entreabertos ao fôlego circuncidado
do espanto.
E tudo sem promessas, sem um rosto de verbo
sem pelo menos o ocluso núcleo do mundo temer
o ruidoso silêncio da paixão da língua,
a núcega comédia do mundo
pois o poema retornará sempre a esse fruto
como, utópico, ao coração de uma criatura múltipla
no mais íntimo impudor da casta.
.......................................................................João Rasteiro GEORGES MOUSTAKI (Fado Tropical).