quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Rotas Reinventadas

.........................................Miguel Carvalho................................
A visita do amor que não virá

Acerca do lírico amor obscuro
de mim o tempo acúleo cogitava
a morte inclinada em contrição
na geometria mais invisível ele
o rosto oxidado na cegueira fincada
a cítara dos acesos sexos lascados
os clarões do crime nas máscaras
bebendo a luz dos prodígios em bocas
líquidas sementes do cordeiro de deus
sangram os espinhos da ácida língua.

*
Não há lugares profusos nos alfabetos
a paisagem dos acasos - nos corações
transbordam vertiginosas superfícies
as tecedeiras sobre o linho respirando
inversas – o âmago do mistério da voz.

*

- Um dia alguém terá nos dentes lágrimas vivas.

João Rasteiro - In, Se a boca virar faca cortará os lábios (inédito)
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..............................."A gente vai continuar" - Jorge Palma

sábado, 24 de janeiro de 2009

QUASI, Quasi, quasi...

Já foi tornada pública a lista dos 12 livros finalistas, candidatos ao Prémio Literário Casino da Póvoa do Correntes d’Escritas. O evento vai decorrer entre os dias 11 e 14 de Fevereiro de 2009. A eleição do poeta dos poetas relativo à presente edição está quase a chegar e sairá das seguintes obras:

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• Gastão Cruz, A Moeda do Tempo, Assírio e Alvim
• Nuno Júdice, As Coisas Mais Simples, Dom Quixote
• José Agostinho Baptista, Filho Pródigo, Assírio e Alvim
• Maria Teresa Horta, Inquietude, Quasi
• Jorge Gomes Miranda, O Acidente, Assírio e Alvim
• Armando Silva Carvalho, O Amante Japonês, Assírio e Alvim
• José Rui Teixeira, Oráculo, Quasi
• António Cícero, A Cidade dos Livros, Quasi
• Eucanaã Ferraz, Rua do Mundo, Quasi
• Eduardo White, Dos Limões Amarelos do Falo às Laranjas Vermelhas da Vulva, Campo das Letras
• Antonio Gamoneda, Descrição da Mentira, Quasi
• A.M. Pires Cabral, As Têmporas da Cinza, Cotovia

Um pequeno trecho da obra finalista, "Oráculo" de José Rui Teixeira:
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Quando eu era criança anoitecia
sobre a verdade intrínseca de haver ruas
pequenas e horizontes pequenos no fundo
das ruas. Os velhos sentavam-se na soleira
da porta nas noites de verão e as raparigas
sangravam demoradamente o calor
para dentro dos pulmões e cresciam-lhes
os seios, e fechavam-se em casa. Quando eu
era criança a minha mãe pousava na superfície
do outono como um anjo ferido.
.................................A Naifa - Desfolhada

http://www.cm-pvarzim.pt/go/correntesdescritas

http://www.pnetliteratura.pt/noticia.asp?id=3785

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

SAUDADE(S)


A tumba do poeta - Rik Lina
Fiama Hasse Pais Brandão - (n.15/08/1938-m.19/01/2007)
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Espaços
Todas as coisas e seres
são dados aos poemas e exigem estar.
Próximas paisagens distantes,
seres presentes.
Entre o aparo e a escrita.
Próxima, não a respiração
mas a presentificação das coisas,
infindos riscos.

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Nessa parede verde da hera
Nessa parede verde da hera

o teu rosto cada vez ganha mais forma,
entre as mãos de verdura estendidas
aos ventos que as dobram e movem.
.
Quando te vejo na luz ou nessa sombra
estar vago e ser tão próximo,
só tu sendo não sabes onde te vejo,
só eu muda não digo onde te guardo.
Fiama Hasse Pais Brandão
..........................///.....................................
João Aguardela - (n.1969-m.18/01/2009)
...................................SITIADOS - Esta vida de marinheiro

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

LUZ

No próximo fim de semana estarei no Algarve, mais concretamente em Lagoa, onde irei efectuar uma leitura de poesia englobada na inauguração da exposição internacional "Iluminações Descontínuas" - surrealismo actual. A inauguração da exposição acontecerá pelas 17h00, sábado 17 de Janeiro e estará em exibição na Sala de Exposições Temporárias Manuel Gamboa, no Convento de S. José, em Lagoa, de 17 de Janeiro a 28 de Fevereiro de 2009. Esta conta com poetas e pintores de vários países, nomeadamente, Espanha, França, Chile, Holanda, Portugal, Argentina, Brasil, Canadá, Costa Rica, Indonésia, Rep. Checa, África do Sul, Colômbia, Roménia e Hungria. Em Lagoa irão marcar presença alguns nomes como Maria Estela Guedes, Sérgio Lima(Brasil), Miguel Carvalho, Rik Lina(Holanda), Alfredo Luz, Allan Graubard (EUA), Seixas Peixoto, etc. Na inauguração, para além da pintura e da poesia, haverá também música. Nos links(*) abaixo indicados, encontrarão notícias e nomeadamente a lista de todos os participantes do evento, que diga-se, reúne um dos maiores - em quantidade e qualidade - conjuntos de artistas (sobretudo na pintura) do actual surrealismo internacional. Na inauguração, ou durante o período em que decorre a exposição, que aliás possuirá uma bela brochura com algumas obras (pintura e poesia) dos intervenientes, o Convento S. José aguarda a vossa visita.
Segue-se um dos poemas com que participo no evento: "Iluminações Descontínuas".
Biografia II
E tudo ocorre na melancoliada
da sílaba, o casulo emergindo
nas talhas.
Inquieta sofre a gestação
no caule dos rebentos.
O gesto do corpo
no linho que se alinha à mutação.
Rota, sopro, sístole ou máscara
onde bardos fecundam a sazão
da ebriedade.
E entra nas vozes,
nos hortos, algures no inabitado
onde gravitam tâmaras.
Melífera
ironia das fábulas, a palavra
mastiga a água adubada,
ser bardo
é tocar o fogo
o espectro desatando-se
sílaba que afeiçoa às matizes do
espanto cheio de luz.
Então nu.
João Rasteiro
.......................Mão Morta - Floresta Em Sonho

(*)
http://porosidade-eterea.blogspot.com/2009/01/iluminaes-descontnuas-surrealismo.html
http://www.municipiodelagoa.net/website/index.php?Agenda:Cultural

domingo, 11 de janeiro de 2009

Horto de Incêndio

Al Berto: n.Coimbra, 11/01/1948, m.Lisboa, 13/06/1997
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A Invisibilidade de Deus


dizem que em sua boca se realiza a flor

outros afirmam:

.......................a sua invisibilidade é aparente

mas nunca toquei deus nesta escama de peixe

onde podemos compreender todos os oceanos

nunca tive a visão de sua bondosa mão
.
.
.
o certo

é que por vezes morremos magros até ao osso

sem amparo e sem deus

apenas um rosto muito belo surge etéreo

na vasta insónia que nos isolou do mundo

e sorri

dizendo que nos amou algumas vezes

mas não é o rosto de deus

nem o teu nem aquele outro

que durante anos permaneceu ausente

e o tempo revelou não ser o meu

Al Berto
.
Acordar Tarde - Al Berto / Jorge Palma


href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Al_Berto">http://pt.wikipedia.org/wiki/Al_Berto

http://www.astormentas.com/alberto.htm
http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/al_berto/poetas_alberto01.htm

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

DANÇAS

inês subtil
.
talvez seja o momento de te dizer
que sou da mais vil beleza, feito de
amar entre os homens apenas as coisas
mais efêmeras
.
talvez seja o momento de te dizer
que me cresceram os teus seios mais
jovens, numa indisfarçável necessidade de
que me pertençam entre as coisas
que te cedo
.
talvez seja o momento de te dizer
que o teu corpo mulher é um exagero do
meu deus, generoso mais do que nunca na
liberdade da minha fome
.
não estou certo de que seja o momento de
pedir mais ainda, quanto te roubo a alma e
aos poucos a entorno pelo caminho até ao
outrora vazio do meu coração
.
como não sei se será certo padecer de alguma
felicidade imprudentemente, naquele
miudinho perigoso de estar quase a
morrer de amor por ti
.
também eu me sinto capaz de desmaiar com
um orgasmo. mas só agora, aos trinta e
sete anos, só contigo
.
.
o poeta como nu
.
um dia apareceu um poeta sem pétalas. nunca tal se vira.sem pétalas, dizia-
se, estava igual a nu, coberto de nadaque o diferisse, como se ser poeta não
trouxesse marcas à flor da pele. algumas pessoas riram-se nervosamente, e
só por isso o estranho poeta se foi embora sem outra notícia
valter hugo mãe
In, folclore íntimo, COSMORAMA Edições, 2008
....................................TERESA SALGUEIRO - Amanhã

.
http://www.valterhugomae.com/
http://casadeosso.blogspot.com/
http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/valter_hugo_mae/poetas_valterhugomae01.htm

sábado, 3 de janeiro de 2009

S.O.S. Barbárie



O território dos anjos

esta é a nascente o horto

dos anjos

a luz interrompida do espigão

velhas falas do jardim do éden

Hebrom entrançado

talhado em línguas de delírio torrente espraiada

o milagre em ti sedento ser rupestre

das acácias tenras no golpe

coroas vermelho-cereja geografias

um jardim flor as entranhas do casulo

florindo o desastre

a reincidência das cobras

a terra do júbilo o sémen demoníaco

sob as luas da velha cidade esférula

tanta chuva vermelha

manhãs ausentes de vozes concêntricas

OOO

o dia os dias das preces

sílabas dos lábios do Mediterrâneo raiado

o metal despojado dobrado fundente

brilho do mar o sal nas veias abertas

os antigos corpos fendas à saída de Khan Yunis

vulcões de roseiras bravas

animais cegos

vagueando em círculos a verdade

na convulsão dos anjos

a extracção do ferrão

OOO

toda a cegueira

os olhos de pedra numa cidade de chumbo feroz

na hora das silhuetas o metal irrompemdo fresco

o coração dos sábios

o sísmico fascínio

do crime indistinto

procurando o equilíbrio sagrado da estocada

no monte das tentações

corpos anjos demónios a respiração

o hálito carnívoro das raízes do mel

um rasgão de asas na súplica do verbo.

João Rasteiro - In, O Búzio de Istambul, 2008

.........................A cada não que dizes - Pedro Abrunhosa


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http://casadeosso.blogspot.com/2009/01/mais-do-mesmo.html
http://caderno.josesaramago.org/2008/12/31/israel/