quarta-feira, 28 de novembro de 2007

À beira das salinas os homens declinam

À beira das salinas os homens declinam,
as cabeças como cometas fulminantes.

De longe a longe vêm os filhos,
trazem a solidão como um metal aceso nas costas
trazem um enxame de dardos.
E a memória é um pulso atravessado.

Quando partem fecham atrás de si as portas,
e os homens voltam a sentar-se sobre as estacas
e brilham.
Jorge Melícias

domingo, 25 de novembro de 2007

SALAMANCA


Aguarela do pintor Miguel Elías
Ressurreição
A Antonio Colinas

A ascensão das vozes a cada pancada hirta do sangue
transborda como cântaros de mel à beira do Tormes
os pássaros regressam aos abrigos das cópulas do sol
e os homens voltam a repousar nas estacas e brilham,

no leito incansável da pedra o último choro dos mortos
todos os germes oprimidos eclodindo como açucenas
o espaço da construção em feroz fulgor pois é inacabado,

ressuscita-se hoje das chagas e escreve-se o nome terra
na língua de fogo que abraça os livros que não sonharei.
João Rasteiro


PRÉMIOS VI


O poeta, ficcionista e editor valter hugo mãe (na escrita do autor as maiúsculas estão ausentes) venceu a edição de 2007 do Prémio Literário José Saramago com a obra “o remorso de baltazar serapião”.No anúncio a presidente do júri, Guilhermina Gomes, revelou a unanimidade da decisão de um júri "especial e dificilmente alcançável": Maria de Santa Cruz, Nazaré Gomes dos Santos, Manuel Frias Martins, Nélida Piñon, Pilar del Rio, Vasco Graça Moura e Ana Paula Tavares. Ao receber o prémio, valter hugo mãe afirmou: “Estou muito aflito. É profundamente chocante receber este prémio desta forma. Estou habituado a pensar na escrita como um exercício de solidão e hoje sinto-me muito acompanhado”. O escritor que dá o nome ao galardão, José Saramago, classificou o livro como um “tsunami”. Saramago acrescentou que o adjectiva assim “no sentido total, linguístico, estilístico, semântico e sintáctico. Não no sentido destrutivo, mas no sentido do ímpeto e da força”. O premiado garante que a sua “forma de protestar é expôr, e o livro manifesta de uma forma asquerosa o que alguns homens pensam sobre as mulheres”.A obra premiada conta a história de uma família na Idade Média, onde o protagonista, baltazar, que vive entre a pobreza e a violência, descobre que a vaca, animal de estimação, tem tanta importância como a sua mãe. Porém, no meio da escuridão, baltazar vê a luz: Chama-se ermesinda e é a mais bela e ajuizada da aldeia. Os protagonistas casam-se e, pouco tempo depois, o senhor exige a ermesinda que o visite todos os dias pela manhã, antes da sua mulher acordar. O que se passa nos encontros ninguém sabe, mas é o suficiente para baltazar enlouquecer.Escrito numa linguagem que pretende representar a língua arcaica e rude do povo ignorante medieval, “o remorso de baltazar serapião” é um livro sobre o poder sinistro do amor e uma metáfora da violência doméstica.
Alguns dos seus poemas estão traduzidos e editados em espanhol, francês, inglês, checo e árabe.
poema
o conjunto de todos os
nomes é o nome de
deus, enumeramos o diabo
e as suas questões como
dobra do nosso pecado, e não
desperdiçamos palavra alguma,
somos os mais silenciosos
súbditos, uma oferenda
débil como um peixe
ainda turvo fora de água
valter hugo mãe

sábado, 24 de novembro de 2007

O tímpano e a pupila

Num dos pratos o mar, no outro um rio, agora
que o tempo se desossa,
que as pedras
que piso se me enterram na memória e os caminhos
se me aguçam na alma como lâminas, o pão
molhado nas feridas,
o pão
ele próprio já também uma ferida, agora
que o tempo, que já tanto
compararam a um rio, mais
não é do que uma leve exsudação nos muros,
nas mãos, agora
que o céu se encrespa e que pedaços
de mundo arremessados
com toda a força aos olhos revolteiam
na treva antes de se extinguirem,
mais magro do que a neve
caminho, a alma aberta como uma ferida,
ao longo da memória, onde se fundem
o tímpano e a pupila.

Luís Miguel Nava

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Em cada pedra, um epitáfio

À Fiama H.P.Brandão

Enquanto quis Fortuna
que tivesse
um monólogo de fogo voluteando
o frágil labirinto das vozes,
partilhou as fábulas do louvadeus.

Agora, o rosto puro da água
perdeu a casta do sangue
o subtil cortejo da sílaba a queda
contínua a ferocidade de uma outra rosa
no fundo da cabeça do hóspede.

Não te conformaste com este mundo.
Sob a película do ventre cintilante da luz
os ávidos sentidos a chama cortante
voltada outra vez aos primórdios
do sopro mais extenso do que o eco.

E hoje, é este o lugar a branca flor que fulge
.
João Rasteiro
É amanhã, dia 22 de Novembro, pelas 18h00, na Sala de Conferências da Casa Municipal da Cultura (Rua Pedro Monteiro), em Coimbra, que se realiza a sessão de apresentação do último livro do poeta Xavier Zarco: "Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros", que foi distinguido com o Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2007, certame organizado pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Esta obra é editada pela edium editores. A apresentação da obra será feita pelo escritor António Vilhena.
Como referiu no prefácio José Félix, "O poema de Xavier Zarco é um corpo textual que permite uma viagem de gestos numa relação amorosa onde a palavra, o verso, inicia o canto musical que o tempo compõe na partitura da "Invenção de Eros".
Este ciclo nasce, tal como o próprio título indicia, de um tema, um poema de Vítor Matos e Sá intitulado “Invenção de Eros”.
1.
Há um lago no rosto da casa
aberta
na face das tuas mãos.
O
Talvez
somente os teus olhos
o desvendem.
O
Talvez o vento
de passagem
em ti recolha
O
a Invenção de Eros.
Xavier Zarco

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O POEMA
Poemas, sim, mas de fogo
devorador. Redondos como punhos
diante do perigo. Barcos decididos
na tempestade. Cruéis. Mas de uma
crueldade pura: a do nascimento,
a do sono, a da morte.

Poemas, sim, mas rebeldes.
Inteiros como se de água, e,
como ela, abertos à geometria
de todos os corpos. Inteiros
apesar do barro e da ternura
do seu perfil de astros.

Poemas, sim, mas de sangue.
Que esses poemas brotem do
oculto. Que libertem o seu pus
na praça pública. Altos, vibrantes
como um sismo, um exorcismo
ou a morte de um filho.
Casimiro de Brito

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Amanhã, 20 de Novembro pelas 15h00 estarei no programa VIA CENTRO do Rádio Clube de Coimbra para falar do meu modesto percurso literário. Dos livros publicados, ao livro a editar e denominado ISTAMBUL, da literatura em geral, da cultura em Coimbra e sobretudo falar de poesia. Aos que não possuírem mais nada para ocupar o tempo…então, só têm de ligar a rádio na frequência 98.4…e boa sorte e paciência para todos!!!
João Rasteiro
Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?

Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
Ruy Belo

domingo, 18 de novembro de 2007

O desejo

Antera

o teu corpo
uma seta
acordada em chegadas
mande-o ainda em poemas perversos
de antilira, feito em antiverso

(ou será ele
o meu sopro de metal
que me alimenta
e decepa?)
é natural
poetas e poetas que buscam
o requinte das orquídeas
e também o teu sopro
era a perfeição
e todos os que entravam
te roubavam
um pouco de mim
o frenesim de olhar-te espanto
raiz poema
sobretudo isso – o respirar-te.
João Rasteiro

PRÉMIOS V

O poeta Nuno Júdice, foi o vencedor do Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, com o livro "As coisas mais simples". O poeta afirmou-se "satisfeito", tanto mais que distingue um livro de que "gosta particularmente". Nuno Júdice, citado pela agência Lusa, evocou três razões pelo facto de estar "satisfeito" com a distinção. "Antes de mais por ser um livro de que gosto particularmente, depois por ser um prémio da minha terra, e por ter o nome de um poeta tão importante". Referindo-se à sua poesia, qualificou-a de "narrativa, com muitas ligações a objectos, coisas concretas, histórias, personagens". Nuno Júdice contesta a ideia de que a poesia vende pouco em Portugal, considerando que "relativamente a outros países com hábitos de leitura mais sólidos, como Espanha ou França, temos um público muito importante, o que é um estímulo muito forte".
Segundo o júri, Nuno Júdice mereceu o prémio"pela concisão e elegância da sua linguagem que, com despojada narratividade, percorre os mais vastos domínios da Arte Poética em constante diálogo com o quotidiano de "As Coisas Mais Simples".
Na área da poesia, Nuno Júdice referiu ainda a experiência "muito interessante" de ter escrito para um fado tradicional respondendo a um desafio que lhe foi lançado por Carlos do Carmo. Para o próximo ano, Nuno Júdice promete editar um novo livro de poesia. O Prémio Nacional de Poesia, com o valor de 5000 euros, foi entregue na Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, em Faro, durante um recital integrado em "Faro, Capital dos Poetas e da Poesia".
Sinopse( LivrosNet):
"O regresso a uma linha de poema narrativo, tratando os grandes problemas da poesia desde a era clássica até hoje. Mas há também um ponto de partida nas “coisas mais simples“ do quotidiano e da realidade, que são o motor do imaginário destes poemas".

Nunca são as coisas mais simples que aparecem
quando as esperamos. O que é mais simples,
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se
encontra no curso previsível da vida. Porém, se
nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras. Nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora
no teu ombro, forçando uma aproximação
dos lábios.
Nuno Júdice
Ver Ensaio da minha autoria sobre a poesia de Nuno Júdice:
http://triplov.com/poesia/Nuno-Judice/Bios/index.htm

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A ROSA

THE SICK ROSE REVISITED AGAIN

Rosa, rosa indolente,
o invisível verbo
que agride na enferma
sílaba do corpo e do branco

entrou nas minhas entranhas
ensandecidas de agonia
e o seu odor dissimulado
preparou a minha morte.


JOÃO RASTEIRO

terça-feira, 13 de novembro de 2007

O Centro do Mundo

Camões dirige-se aos seus Contemporâneos

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
Jorge de Sena

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

WILLIAM BLAKE

Os 250 anos de William Blake celebrados com criações de teatro, música, cinema, pintura exposições e multimédia assinalam no Teatro Académico de Gil Vicente em Coimbra, entre 06 e 28 de Novembro, as comemorações dos 250 anos do nascimento de William Blake, poeta e pintor visionário inglês.
O projecto concebido pelo professor universitário e tradutor Manuel Portela, hoje apresentado em conferência de imprensa, desenvolve um diálogo entre diversas disciplinas artísticas com as criações de Blake para destacar a obra de um dos grandes artistas da humanidade, ainda pouco conhecida em Portugal.
O Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), que tem como director Manuel Portela, é o palco escolhido para as realizações programadas e também o produtor desta homenagem, em dois espectáculos, com a colaboração dos grupos de teatro Camaleão e Marionet e a Orquestra Clássica do Centro (OCC).
Entre as várias iniciativas (algumas já realizadas ou inauguradas) amanhã dia 13 realiza-se a segunda mesa-redonda, "Blake poeta", com a presença de Gastão Cruz e Manuel Portela, dois dos principais tradutores para português de William Blake.
Além de versões de William Blake que incorpora nos seus próprios poemas, Gastão Cruz traduziu Doze Canções de Blake (1980), antologia que inclui poemas de Canções da Inocência (1789), Canções da Experiência (1794) e Poemas do Manuscrito Pickering (1803).
O Tigre
Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?

Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos ?
Sobre que asas se atreveu a ascender ?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?

E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui ?
Que martelo te forjou ? Que cadeia ?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores ?

Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação ?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou ?

Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?
Tradução de Ângelo Monteiro
Versão Original:[Leia a versão original desta Poesia: The Tiger, de William Blake - em inglês]

domingo, 11 de novembro de 2007

Criação


Morte significa corpo áureo
umbilical

se

a palavra é uma cicatriz
perfeita
sob o branco aberto do sangue
lúcido
demasiado cru na língua
oferecida

se

a garganta é um fole
chumbado
sob a lava visível da boca
elíptica
sucessivamente árida nos dentes
castrados

se

os animais se cosem ao corpo
insurrecto
mergulhando nas vísceras alquímicas
vozes
sob todos os solos auríferos
ventres

se

em seu cortejo o corpo principia
absoluto
nesse espaço único de tímpano e pupila
vagas
onde a luz não difere da escuridão
o corpo ileso

toda a queimadura intrínseca do eixo dos animais.
João Rasteiro

Prémios IV

João Rasteiro e António Lobo Antunes

Prémio Camões 2007
Antonio Lobo Antunes nasceu em Lisboa, em 1942. Médico psiquiatra, foi convocado pelo exército português para servir na guerra em Angola. É considerado por vários críticos em todo o mundo como o mais importante romancista português depois de Eça de Queirós. António Lobo Antunes tornou-se um dos escritores portugueses mais lidos, vendidos e traduzidos em todo o mundo. Pouco a pouco, a sua escrita concentrou-se, adensou-se, ganhou espessura e eficácia narrativa. De um modo impiedoso e obstinado, esta obra traça um dos quadros mais exaustivos e sociologicamente pertinentes do Portugal do século XX.Em Setembro, no 7.º Festival de Literatura de Berlim, António Lobo Antunes foi longamente aplaudido por centenas de centenas de pessoas que assistiram a uma leitura das suas obras, em Português e Alemão. António Lobo Antunes foi apresentado pelos responsáveis do festival de Berlim 2007 como «o maior escritor lusitano da actualidade». O seu ultimo romance «O Meu Nome é Legião» é já considerado outra das grandes obras do autor. Em 2007 foi galardoado com o Prémio Camões, na sua 19ª edição.Para quem gosta de A. Lobo Antunes aqui fica a entrevista integral no Diário de Notícias, da semana passada. Pode ler-se “alguma coisa” aqui >>.
Este é o novo romance de António Lobo Antunes, Prémio Camões 2007, o mais importante prémio literário de língua portuguesa. Num livro mais pequeno e de menor complexidade do que os anteriores, segue a vida dos jovens de um bairro social da periferia de uma grande cidade, descrita através de um relatório de polícia, o que aproxima a escrita do registo das crónicas. Com este novo romance, António Lobo Antunes inova a sua técnica narrativa de forma muito perceptível, sendo surpreendente a forma como o faz.
«O livro equaciona o problema do mal, manifestando nessa meninice irresponsável a indecidível culpa ou inocência, imputável ao vazio cultural e ao viver carenciado, que mescla consequências demoníacas numa aura de edénica ambiguidade. E com a qualidade de escrita ímpar a que Lobo Antunes nos habituou.»
Maria Alzira Seixo, JL
«"O Meu Nome É Legião" narra-nos um universo povoado de seres dilacerados e estilhaçados, que vivem um conflito interior travado entre as várias facetas das suas personalidades, em luta contra os fantasmas e as obsessões que teimam em surgir e põem a nu fragilidades inconfessáveis e sofrimentos inomináveis.»
Agripina Carriço Vieira, JL
«Não será, porém, a beleza, antes a “palavra justa” que o move. Nessa busca vem António Lobo Antunes construindo uma obra na qual, apesar da crueza das temáticas e da claustrofobia instalada, a compaixão pelas personagens se imprime na sua capacidade para as compreender a todas no desespero comum aos deserdados, que somos todos – aqui: polícias, filhos, putas ou criminosos – , “possessos de vários demónios” que cabe ao escritor dar a ver mas não julgar. À maneira de Tolstoi, porventura, o maior de sempre.»
Ana Cristina Leonardo, Expresso
Excerto da obra:
" (...) e não tenho medo dela, não tenho medo de vocês, não tenho medo de nada, os plátanos do pátio mil plátanos de berma de estrada que vou ultrapassando um a um neste carro roubado com a velha no outro banco a dizer-me- Menino (...)
IN, Webboom.pt

sábado, 10 de novembro de 2007



A magnólia

A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.

Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária,e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.

A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,

um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.
Luiza Neto Jorge

O Juízo Final


O território dos anjos


esta é a nascente o horto
dos anjos
a luz interrompida do espigão
velhas falas do jardim do éden
Hebrom entrançado
talhado em línguas de delírio torrente espraiada
o milagre em ti sedento ser rupestre
das acácias tenras no golpe
coroas vermelho-cereja geografias
um jardim flor as entranhas do casulo
florindo o desastre
a reincidência das cobras
a terra do júbilo o sémen demoníaco
sob as luas da velha cidade esférula
tanta chuva vermelha manhãs ausentes de vozes concêntricas

O

o dia os dias das preces
sílabas dos lábios do Mediterrâneo raiado
o metal despojado dobrado fundente
brilho do mar o sal nas veias abertas
os antigos corpos fendas à saída de Khan Yunis
vulcões de roseiras bravas
animais cegos
vagueando em círculos a verdade
na convulsão dos anjos
a extracção do ferrão

O


toda a cegueira os olhos de pedra numa cidade de chumbo feroz
na hora das silhuetas o metal irrompemdo fresco
o coração dos sábios
o sísmico fascínio
do crime indistinto
procurando o equilíbrio sagrado da estocada
no monte das tentações
corpos anjos demónios a respiração
o hálito carnívoro das raízes do mel
um rasgão de asas na súplica do verbo.

João Rasteiro

PRÉMIOS III

O Prémio PEN Clube ficção foi atribuido ao romance Camilo Broca, de Mário Cláudio, editado em 2006 pelas Publicações Dom Quixote. Esta é a segunda vez que Mário Cláudio obtém o referido prémio. Em 1997, com O Pórtico da Glória, o escritor já havia sido galardoado com o prémio PEN Club. O júri não teve dúvidas em premiar a obra que retracta a história da família e antepassados de Camilo Castelo Branco.Mário Cláudio foi galardoado com o Prémio Pessoa em 2004.

Como foi mencionado por José Manuel Mendes aquando do lançamento do romance "Camilo Broca" em 2006 no Centro de Estudos Camilianos, em Vila Nova de Famalicão, "Camilo Broca, reúne um conjunto de traços que afirmam Mário Cláudio como um ficcionista inconfundível"."A modelação das personagens; a reconstituição de épocas com uma enorme precisão; o esplendor de uma prosa que não se verga à voga que parece ter tomado conta da nossa praça", foram apenas algumas das características lisonjeiras apontadas pelo presidente da APE ao romance. Citando o poeta Miguel Torga, José Manuel Mendes confessou que enquanto lia "Camilo Broca" sentiu "o coice da literatura", isto é, "um momento em que o livro nos toca". E acrescentou: "Sinto isto de cada vez que leio Mário Cláudio, não só o ficcionista, mas também o poeta, o autor, o ensaísta".A terminar José Manuel Mendes disse ainda que "Camilo Broca é uma obra que pode ser interpretada de várias formas por cada leitor", deixando no ar a questão: "E se este Camilo fosse cada um de nós?"
Mas Mário Cláudio, para além de ter um percurso profissional rico, é professor universitário, ensaista, dramaturgo, romancista e poeta e a sua extensa obra talvez fale por si mais do que qualquer biografia convencional.
Do seu livro de 1996, Dois Equinócios, saboreemos o poema Feles:

FELES

Por todo um Inverno,
O amor lhe dilacerou o ventre,
Com fundas garras de gelo.

E a Primavera zumbiu,
Sobre sua cabeça,
Numa vertigem de pólen.

Senta-se agora,
Junto à lareira do Outono,
E é um bule de porcelana.

Mário Cláudi0







terça-feira, 6 de novembro de 2007

POESIA

Oráculo
Deixa que chegue a ti o que não tem nome: o que é o fogo.
Tocaste a luz, a quietude da luz, e inventaste a blasfémia,
a respiração: retrocedeste em círculos: desceste ao pântano
das madrugadas que se acolhem largadas sob as chuvas:
cerziste a fronte das fábulas ilibadas: penetraste no corpo
na pele viscosa: prosperou o múltiplo: a raiz engendrada:
tu és e não és mortal. O enxerto a luz testificada. Para que
continues e te perpetues: para que o útero te engendre e
multiplique: para que só acordes com os olhos comidos,
como os mortos depois de desenterrados. Ressuscita puro.
Para seres a sílaba em seu gume e ferir o sangue e gerar as
águas. O repouso exacto das vísceras o sémen predilecto.

João Rasteiro

LEITURAS

Na próxima terça-feira, dia 7 de Novembro, pelas 10 horas, o poeta e crítico de arte John Mateer vai estar no Departamento de Línguas e Culturas (Faculdade de Letras - Universidade de Coimbra) para uma palestra intitulada “Poems and the Secret (Portuguese) Australia”, onde discutirá a pouco explorada relação entre Portugal e a Austrália.

John Mateer
vai ler e falar sobre os poemas incluídos em Southern Barbarians, um livro que contempla o legado do Império Português a partir do outro lado do espelho, do mundo colonizado e por descobrir. Os poemas desta colecção foram começados quando Mateer esteve em Portugal em 2004, como poeta convidado para o V Encontro Internacional de Poetas, em Coimbra, e o livro inclui poemas escritos no Japão, em Macau, em Veneza e na Austrália.



Pelas 18h00 no Teatro Académico de Gil Vicente, John Mateer irá ler uma selecção de poemas incluídos em Elsewhere, livro a ser editado no início do próximo ano.A apresentação estará a cargo de Graça Capinha coordenadora da Oficina de Poesia da FLUC a quem pertencerá a organização da leitura, conjuntamente com o Projecto de investigação “Novas Poéticas de Resistência”.

John Mateer nasceu em Joanesburgo, África do Sul, presentemente vive na Austrália e viaja frequentemente. Mateer publicou vários livros de poesia, incluindo o premiado Barefoot Speech, um relato da vida na Sumatra e em Java. O seu trabalho já foi traduzido para várias línguas europeias e asiáticas. Foi convidado para ler a sua poesia no 62º Congresso Mundial PEN, na Poetry Africa e no Festival de Humanidades de Chicago, bem como em eventos na Indonésia, Japão, Singapura, Eslovénia, Áustria Portugal e Austrália. Foi recipiente da Australia’s Centenary Medal pelo seu contributo para a literatura e em 2005 participou no prestigiado Iowa International Writing Program.
Depois de voltar de uma viagem de exploração

Na almofada a cabeça sonolenta de John Mateer
é um aquário às voltas com água veneziana
e naquele galeão, aquele brinquedo luminoso,
ele está ao leme, de telescópio no olho,
jurando que não consegue ver a Austrália.

E quando a sua caravela desliza Tejo adentro,
tão colocada e cerebral como um cisne negro,
ele pede um copo de porto e um pastel de nata,
depois recolhe ao quarto num calmo hotel em Alfama,

e sonha o sonho:
que um dia haverá um poeta
chamado John Mateer, tal como houve uma vez,
para além dos limites dos mapas, um monstro
chamado Austrália.
JOHN MATEER




segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Prémios II

Gastão Cruz e João Rasteiro
O poeta Gastão Cruz foi o vencedor da 28.ª edição do Prémio literário do P.E.N. Clube Português relativo a obras editadas em 2006, na modalidade de poesia. O livro distinguidos foi A Moeda do Tempo. O júri da Poesia foi constituído por Maria João Reynaud, Fernando J. B. Martinho e Manuel Simões.
(fonte: Diário Digital)
"Um conjunto de poemas nocturnos onde paira, mesmo se fugidia, a sombra da morte ¿ entre insónia e acédia. Além de evocações pessoais (Abelaira, Ramos Rosa, Fiama), regressam os temas recorrentes: a casa, o silêncio, a matéria difusa do amor, a música, o cinema ou as memórias de infância que ressuscitam um Algarve mítico (com a ria ao fundo). É uma poesia austera, subtilmente lírica, complexa e densa, feita de versos que `transformam em realidade as sílabas que os formam."
JMS, Diário de Notícias

O poema que segue pertence ao livro CRATERAS, 2000

Árvores

São plátanos palmeiras castanheiros
jacarandás amendoeiras e até as
oliveiras que
quando a noite cai na infância formam uma
cortina escura na estrada frente à casa
árvores apagando os dias que a memória
avidamente esconde
no corpo do seu gémeo Penetra inutilmente
na terra essa raiz do branco plátano
adolescente
e o campo do tempo onde as palmeiras eram
pilares do corpo nu símbolo de
si mesmo, à luz
do dia fixo, já se estende
na húmida manhã dos castanheiros
Esquecimento que tudo enfim possuis
e geras
a ofuscante luz igual à da
memória, do tempo como ela
filho, construtor da ausência,
em vão te invoco Tu
que mudas a roxa amendoeira
em brancas flores do jacarandá
entrega a minha vida às árvores
que foram na manhã e no crepúsculo
no meio-dia e na noite, palavra
clara que traz o dia em si fechado
Gastão Cruz


domingo, 4 de novembro de 2007

Poema dos jardins ausentes

Hoje corri todos os jardins da terra
e estou ao pé de ti de mãos vazias meu amor,
os jardins só respiram esse fulgor desnudado
a rutilar caligrafias mesmo no centro da pedra.

Amanhã voltarei a correr todos os jardins
ao ritmo quase imóvel de um segredo,
num murmúrio que preserve o alento
para mergulhá-lo numa boca de mulher.

Hei-de correr todos os jardins sagrados
que habitam subtis e espessos labirintos,
e encontrar os vocábulos das pétalas da rosa
que unem o interdito ao centro das palavras.

E é como se as rosas nascessem dos dedos
como uma raiz imitando os frutos meu amor.



João Rasteiro

04-11-2007


sábado, 3 de novembro de 2007

PRÉMIOS I

A escritora britânica Doris Lessing, 87 anos, conquistou em 11 de outubro o Prêmio Nobel da Literatura pelo conjunto da sua obra que permeia as relações humanas e inspirou uma geração de feministas.A escritora afirmou que está muito satisfeita por ter sido distinguida com o Nobel da Literatura, referindo que nos últimos trinta anos tem recebido vários prêmios literários."Já venci todos os prémios na Europa e fiquei muito contente por isso", disse Doris Lessing num comentário improvisado aos jornalistas que a esperavam à porta de casa, nos arredores de Londres, quando chegava de táxi carregada de compras.
Aparentemente sem saber que tinha ganho o Nobel, Doris Lessing soltou uma breve e humorada exclamação perante os vários jornalistas que estavam há duas horas à sua espera junto à sua residência.
Doris Lessing, que completa 88 anos no dia 22, é a 11ª mulher a ser distinguida com o Nobel da Literatura, um prêmio que se junta a várias outros , entre os quais o prémio espanhol Príncipe de Astúrias das Letras (2001), o prémio britânico David Cohen (2002) e o prêmio Médicis de França.
Doris Lessing foi por três vezes nomeada para o Booker Prize, o mais importante atribuído no Reino Unido, mas nunca o recebeu.
"The golden notebook", "A erva canta", "O quinto filho" ou 'The Cleft", o seu mais recente romance, são algumas das obras assinadas por Doris Lessing.

Fonte: Diário Digital / Lusa
Viste o cavalo varado a uma varanda?

Viste o cavalo varado a uma varanda?
Era verde, azul e negro e sobretudo negro.
Sem assombro, vivo da cor, arco-íris quase.
E o aroma do estábulo penetrando a noite.


Do outro lado da margem ascendia outro astro
como uma lua nua ou como um sol suave
e o cavalo varado abria a noite inteira
ao aroma de Junho, aos cravos e aos dentes.


Uma língua de sabor para ficar na sombra
de todo um verão feliz e de uma sombra de água.
Viste o cavalo varado e toda a noite ouviste
o tambor do silêncio marcar a tua força

e tudo em ti jazia na noite do cavalo.


António Ramos Rosa

Ciclo do Cavalo - 1975
in Antologia Poética

03-11-2007

A dança das mães
Às estrelas que nos alumiam

Na beleza incurável das feridas
alimentam-se mães sem trégua.
Nos rios secos, batem e batem os corações
alimentados em sangue frio e espesso.
Que é lívido. Que procura as raízes.
O coração é um bicho estranho, que vai
caminhando gota a gota. E as feridas incautas
aproximam-se das mães, imprudentes ao peso
de cada sopro. O amor eternamente feroz.
E as feridas das mães são cada vez mais belas.
O medo caminha violentamente mais perto,
no corpo, na cara, nas vértebras e no ventre
onde se abriga com seu volúvel volume,
o silencioso amor de mãe.
Sob a folhagem da água, mães cansadas
da aridez que as toca, incendeiam-se através
dos filhos. E os filhos, esse chumbo cravado
nas asas, esse projecto que sobre o mar se estende,
alimenta as feridas pelos tendões.
As mães debicam sobre a areia a sua rota clara,
até ao fim do mundo. Como pela última vez.
Sobre a montanha, um filho incorpora-se na beleza
incurável das feridas, enquanto mães tacteiam
a pedra, até ser flor.
Por vezes sangram e cantam, secam os olhos,
arrancam os sexos e em permanente luta, corpo a corpo,
o amor estende-se, mas os gestos
são frios, neste caminhar obsceno
de pessoas sem frutos. Há-de caber numa gota,
todo o tempo, todo o amor, de uma vida sem história.

João Rasteiro

03-11-2007

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

you are welcome to elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Mário Cesariny
02-11-2007

TRAGÉDIA


O poeta

Ele é a alta voltagem de um nome,
o selo que reverbera de dentro
quando as cavilhas fecham as córneas.
Jorge Melícias

Apenas vi mais um condenado, simplesmente
invadindo paisagens como demência de pássaros
o poeta com mais sangue que água - festim
mais ingénuo que agonia - corpo vasto despido
como se encobrisse cada golpe o mênstruo novo.

Na cilada guinchos sagrados triturando chagas
forma robusta de lume rasgada pelos dentes
sulco álgido da alucinação sedenta de banquetes
farejando o eclipse materno porque desígnio,
poeira, onde bichos se devoram extasiados entre si.

E ele, que se via atravessado pelas garras prenhes
flores virgens nas entranhas agonizantes de sol,
da carne à terra a matéria extraída do doce crime.

Ao seu lado as suas próprias vísceras nuas abertas
lágrimas cosidas numa tábua aplainada de desejos.
A seiva do mundo espetada na pele como esporas
vozes órfãs reunindo-se oferenda contra a morte.

Aí nasce pela primeira vez o clamor do relâmpago
sangue sem nome gerando a pupila do besouro.
Ninguém já sabe o que busca entre a ávida língua.
João Rasteiro


O Mestre

Se houvesse degraus na terra...

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
Herberto Helder
01-11-2007

A Génese


O cântico das pragas

À entrada de um túnel está um homem
com uma bandeira. É para a cobra que
ele acena, respondendo a um sinal.
- Jaime Rocha -

É das palavras ateadas
que irradia a morte soberana
os lugares sitiados a blasfémia do silêncio.
Todos morrem nas palavras disponíveis
apenas os corvos tristes
a quem soldaram o bico no fulgor da prata
suspendem astutamente a morte
no branco das túnicas da água visível.
É nesse espaço ancestral
onde antes iam os homens sedentos
alimentar a fractura das vísceras
bebendo de rastos com as cobras
que a chuva desaba geométrica
estilhaçando o alastro da garganta
que guarda as sílabas com aroma de tílias.

O homem está morto dentro do poema
como a linguagem das antigas escrituras
e é o seu corpo que brilha através do branco.
As cobras emergem do chão
abrigam-se dóceis nas túnicas álgidas
acercam-se do corpo do homem exposto
iluminadas em sua própria loucura.
Engolem os restos da carne corrompida
e inexplicavelmente poupam-lhe os olhos
depois saboreiam o que lhes vai consumir
para sempre a língua o coração das entranhas.

O segredo absoluto e divino do extermínio do verbo.

João Rasteiro
01-11-07