domingo, 27 de junho de 2010

NOVAS ROTAS

Saiu recentemente o último número da revista online brasileira ZUNÁI, dirigida pelo poeta Claudio Daniel. Este número conta com poetas como, Horácio Costa, Wilson Bueno, Ya Feng, Virna Teixeira, Leo Lobos ou Micheliny Verunschk; uma entrevista ao Angolano João Maimona, uma mostra de poesia Persa/Iraniana, Traduções, contos, ensaios, etc. E conta ainda com a secção especial, desta vez dedicada ao haicai, que para além de alguns textos/ensaios sobre o haicai, conta com um conjunto de poemas/haicais de Teruko Oda, Alfredo Fressia, Maria de Fátima, Casimiro de Brito, Claudio Daniel, João Rasteiro, José Kozer e Maria Alice Vasconcelos.
Seguem-se três dos meus haicais seleccionados pelo Claudio Daniel.
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Abri a passagem:
A terra chegou-me
até à garganta.
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É possível cogitar a mariposa,
pelas crias não há compaixão
porque da água ferve o sangue.
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Como decifrar a ira do clarão
se é do eixo da luz que cego
e da soldadura que agora rezo?
................................João Rasteiro
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http://www.revistazunai.com/

sábado, 19 de junho de 2010

QUASE IMORTALIDADE

JOSÉ SARAMAGO (Azinhaga, Golegã, 16/11/1922 - Lanzarote, 18/06/2010)

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
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Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
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No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

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Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
.......................................José Saramago

http://www.publico.pt/Cultura

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago

http://www.youtube.com/watch?v=Ph6BG30jXpc

quarta-feira, 16 de junho de 2010

AS ROTAS do AÇO

VIII
.e o zumbido das vespas com espátulas de anjos anunciarão a chegada de uma renovada espécie de bichos prenhes de aço reluzente que fica infuso no paladar do sangue. os velhos sábios que se encovam no fundo das cisternas e dos poços moribundos de sede enlouquecem na dúvida da sílaba solidificada na fissura dos esquecidos. a derradeira paixão do verbo será fortalecida pela lei das tábuas ou pelo divino ser dos universos. a dúvida consolida os fracos.
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IX
.as cidades avançam pela remissão da culpa dos milagres formando um esboço de desordem na consciência dos construtores. e a melancolia tem um corpo eficaz que não existe nos reflexos porque os animais eram feitos à imagem da compaixão que permanece na pronúncia da multiplicação. e então há-de principiar o novo crime. a bestial lógica do ferro sincronizada na renovada e opaca geração da natureza resplandece onde apenas troveja desmesuradamente. unívoca será se o céu transportar a ferocidade do lírio. e ela não é injusta nem desprovida de fecundidade. quando as leis falham surge o diacrítico das cores despojadas que regeneram excelsas até sucumbirmos na saliva mortífera dos lábios. num outro lugar assomará a outra cabeça.
......................JOÃO RASTEIRO...........In, DIACRÍTICO
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domingo, 6 de junho de 2010

PRÉMIO CAMÕES

A 22ª edição do Prémio Camões, atribuído pelo Estado Português e Brasileiro desde 1989, e que distingue anualmente um escritor de língua portuguesa que, "pelo conjunto da sua obra, contribua para o enriquecimento do património literário em português", foi este ano atribuído ao poeta e dramaturgo brasileiro Ferreira Gullar. Este, foi distinguido pela "nota pessoal de lirismo" e "valores universais", essencialmente no seu trabalho poético. Refira-se que Ferreira Gullar tem quase toda a sua obra poética editada pela Quasi - "Obra Poética" (2003). Na minha modesta opinião, terá sido um dos mais justificados Prémios Camões até agora atribuídos, pois Ferreira Gullar é sem dúvida hoje, o mais importante poeta brasileiro (se tivesse sido atribuído a Manoel de Barros, também teria sido bem entregue). Numa entrevista que deu em 2003 ao Mil Folhas, Ferreira Gullar dizia: "Jamais moveria um dedo para ganhar o Prémio Camões. Mas se me dessem, ficaria muito contente." Ele aí está.
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....................Chico Buarque - Cotidiano