sábado, 28 de maio de 2011

Poesia de mar

Hoje e amanhã estarei em Aveiro, em mais um "encontro poético Luso Espanhol", organizado pelo Grupo Poético de Aveiro e  no qual, consubstanciado ao tema do Mar, diversos poetas de Espanha e de Portugal celebrarão a poesia. Se puderem apareçam.

"O Grupo Poético de Aveiro promoverá nos dias 28 e 29 de Maio mais um Encontro Poético Luso Espanhol no qual reunirá, sob o tema do Mar, poetas de Espanha e de Portugal. Para comemorar substantivamente 18 anos de actividade ininterrupta neste domínio do intercâmbio poético e da divulgação da poesia.
Os convidados espanhóis, que integram Grupos poéticos-irmãos do GPA, para este evento são:
Francisco X. Fernández Naval - Corunha
Asun Estévez - Pontevedra
Do Grupo Literário e Artístico de Sarmiento de Valladolid:
José António Vale Alonso
Araceli Saguillo
Do Circulo Poético Ourensano:
María Glez. Méndez
José Ramón Morgade
Do Colectivo Poético Penúltimo Acto da Galiza:
Rosa Negra
Cruz Martínez
Também estará presente, como convidado especial, o poeta João Rasteiro de Coimbra.
O programa público será como segue:

Sábado dia 28 de Maio
15:30hA Poesia Palestra João Rasteiro - Feira do Livro de Aveiro
16:00 - Declamação de poemas da última revista do GPA – Feira do Livro de Aveiro
17:30 - Passeio poético de Barco Moliceiro
19:00 - Apresentação e declamações - Feira do Livro de Aveiro
Domingo dia 29 de Maio
11:30hRecital - Concerto Poético com o músico Paulo Mota
no Navio Museu Santo André

Apareçam nesta festa da Poesia.
Saudações poéticas,
Grupo Poético de Aveiro"

sábado, 21 de maio de 2011

ROTAS INEXORÁVEIS


   No princípio era o crime (*) 


No princípio era o crime,
o crime limpo que do prodigioso caos
em suas bocas de virgens impolutas
extraía todos os corpos da órbita coaxial
e nos ímanes dos céus fincava
os corações das palavras
que nos sustentam – ele fluiu,
originando os limites nus do mundo,
a vida e a morte blasfemando
a fábula dos findos corpos
nos primeiros caracteres de magia negra,


o êxtase urdido na paixão do sofrimento
e na memória do mundo,
por isso todas as imprescindíveis pragas
irromperam dos espigões,
os ecos carbónicos da demência eclodiram
nas ardósias da sílaba,
as raízes que amavam as origens dos deuses
encantaram para todo o sempre
toda a terra que fervilha em matéria sublime.


No princípio era o crime,
o crime que da chuva renascia fulvo
fornecendo a força das lágrimas,
o espaço de febre em sua arte de ser flor,
o perfume das distinções,
a metamorfose do lírio, o desejo que segreda.
                                        
No princípio era o crime, hoje, apenas, a poesia.
                                        João Rasteiro
(*Poema publicado no blogue em 2008, que foi agora revisto, aumentado e estruturado de forma diferente.

domingo, 15 de maio de 2011

Cidade aTravessa

Na próxima semana, dias 18 e 19, estarei na Casa Fernando Pessoa, mais concretamente, no evento Cidade aTravessa, onde no dia 19, pelas 18h20 farei uma leitura de poesia, conjuntamente com os poetas brasileiros Guilherme Zarvos e Ana Maria Ramiro. Será, como verão mais abaixo, uma evento que por tudo o que já alcançou, não se deverá deixar de assistir. A todos os que puderem estar presentes, lá contamos com vocês.

Evento de literatura que acontece em três cidades do mundo, chega a Lisboa
  
"Depois de um ano atravessando Rio de Janeiro e São Paulo, o evento mensal Cidade aTravessa: poesia dos lugares cruza o oceano e aporta em Lisboa. Nessa primeira edição portuguesa (décima primeira do evento), nômades portugueses e brasileiros como Ana Luisa Amaral, Antonio Cícero, João Gilberto Noll e Fernando Aguiar, o francês Henri Deluy, o italiano Enzo Minarelli, além de outros poetas vindos de Portugal, México, Holanda e Reino Unido, se reúnem na Casa Fernando Pessoa durante dois dias para celebrar as várias maneiras de dizer poesia. 

Com curadoria do escritor brasileiro Márcio-André, o evento surge com a necessidade de criar um núcleo móvel da palavra, unindo os movimentos de diversas partes do mundo e fazendo convergir as inúmeras vertentes poéticas atuais, em seu amplo aspecto de entendimento. Leituras, performances de poesia sonora, filmes que experimentam a palavra, poemas visuais, além de conferências instigantes e entrevistas abertas, levam ao público o que há de mais atual na poesia contemporânea. Tudo, claro, regado a absinto, bebida que se tornou símbolo do evento.

Em 2011, o Cidade aTravessa acontecerá revezadamente nas cidades de Lisboa, Rio de Janeiro e São Paulo, sempre com transmissão ao vivo pelo website do evento:"
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PROGRAMAÇÃO:

18 DE MAIO

17h: Lançamento de livro 
Polipoesia, de Enzo Minarelli

18h: Filmes
O paradoxo da espera do autocarro e Cinco poemas concretos, de Christian Caselli

18h20: Leitura
Ruy Ventura (Portugal)
Ramón Peralta (México)
Victor Paes (Brasil, online)


19h: Entrevista aberta
Antonio Cicero (Brasil)
Henri Deluy (França) 


20h: Performance de poesia sonora
Fernando Aguiar (Portugal)

19 DE MAIO

17h: Conferência-bomba
Cartografia das igrejinhas na poesia portuguesa, traçada por dentro e por fora
Graça Capinha (Portugal, UC)
Arie Pos (Holanda, FLUP)

18h: Filme
Cidade reposta, de Márcio-André

18h20: Leitura
Ana Maria Ramiro (Brasil)
Guilherme Zarvos (Brasil)

João Rasteiro (Portugal)

19h: Entrevista aberta
Ana Luisa Amaral (Portugal)
João Gilberto Noll (Brasil)


20h: Performance de poesia sonora
Enzo Minarelli (Itália)

Em exposição
Intervenção poético-visual de Ricardo Silveira
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domingo, 8 de maio de 2011

Deuses e Poetas


                                                             Deus por deus
                                          Ao Eduardo Lourenço


1.
Mas o poeta, o alucinado e incandescente poeta,
revestido de sílabas – escassas
aparentando o tempo, uma breve autoridade,
poeta preso nas cidades vastas,
mostrando as suas habilidades perante a ânsia dos céus
dentro de muralhas
que devaneiam o diacrítico do mar,
o exacerbado poeta, ingenuamente concebe
o sussurro
das pétalas de rosa azul que nunca ninguém ousou criar
porque os deuses julgam-se imutáveis na luz
do espelho.
                                  
 2.
Os antigos trovadores
invocavam as musas sob as luas
Shakespeare, o pequeno e terno irmão de Deus
aquele imortal que viu a obra duplicar fantasmagoricamente
no oitavo dia da criação, rogava diariamente a seu irmão
ele, o poeta da cidade
o que amplia criação à realidade
à criação urbana, renovando o mundo em suas nuas leis
do circo urbano
a arena onde nos digladiamos no desejo
nós, os mais altivos e singulares leões de nós mesmos
invoca-se a si próprio, deus díspar da única criação
a obra aberta
da ironia da linguagem e da melancolia do verbo
mas como sei que não aparecerá nas rotações
do poema
em raro ensejo de lucidez irrompe os espaços e conceitos
deita fogo a todas as suas recentes
e geniais criações
de pétalas de rosas azuis e galáxias de cristalina garganta.

3.
Quando as muralhas
se abrirem ao mar e aos raios do sol
o poeta da cidade, não se invocará omnipotente em vão
e descansando entre divinos anjos
e animalescos humanos
contemplará a absoluta redenção do caos por si criado
e cantará a devastação das lágrimas da tristeza
e da alegria
onde floresce o dialecto assimétrico
das novas gramáticas
porque a purificação do caos é tão assombrosa
e excitante em seu centro de boca
como o paraíso primordial de onde nos julgámos expulsos
devido à linguagem arcaica
da única arca de Noé que encantadoramente sobreviveu.

4.
Hoje
o poeta da cidade emprega artifícios e não magia
tentando tornar visível a efémera ostentação de si mesmo
no manto doirado da poesia – esse trama
em que o mundo
se construiu – e repudiando Cavafis
quando este cantava
os acúleos bárbaros em seus lamentos – aquela gente era
uma solução – porque das guelras
um anzol trepava ao céu como viajante mitológico. 
                                                                   João Rasteiro