quarta-feira, 28 de abril de 2010

BIENAL da SAUDADE

Regressado de Silves, da IV Bienal de Poesia de Silves e ainda com dificuldades em "regressar à terra", pois a poesia, a terra, o sol, os odores e sobretudo as pessoas (as locais e as que lá foram), o calor das pessoas, essa palavra tão nossa que se chama saudade, tudo isso eu simbolizo (mais tarde voltarei à Bienal e (h)à "sua poesia") em duas mulheres: Maria Gabriela Rocha Martins, a alma, canto e fogo da Bienal e esse extraordinário "corpo" da dança e também da voz, que se chama Vera Mantero. A vida corre (depressa demais), mas Silves continua lá, qual moira encantada!
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Saúda, por mim, Abg Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o palácio dos Balcões
Da parte de quem nunca os esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas!
Mulheres níveas e morenas
(...)
SIM,
Bebi o vinho derramando luz
Enquanto a noite despia o seu sombrio manto.
......................................Al Mutamid
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VERA MANTERO - Morena dos Olhos de Água (Caetano Veloso)

http://www.triplov.com/4Bienal_de_Poesia/index.htm

http://bienaldepoesiadesilves.blogspot.com/

segunda-feira, 19 de abril de 2010

POEMA PLURAL - SILVES

De abalada até Silves, onde irei participar na IV Bienal de Poesia de Silves, que decorrerá de 22 a 25 de Abril, o No Centro do Arco regressará no início da próxima semana. A Bienal, que entre imensas iniciativas ligadas à poesia, em permanente interacção com a população, irá este ano homenagear os poetas Pedro Tamen (que estará presente) e Fernando Assis Pacheco. Em baixo, a capa e contracapa do livro que antes, durante e após a Bienal será oferecido à população em geral. Para conhecer melhor o evento, nomeadamente a programação, mas também os poetas, pintores, realizadores, moderadores e todos os intervenientes na Bienal, consultar: http://bienaldepoesiadesilves.blogspot.com/

7.
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Acocorado como estava o escriba,
só não escrevendo, mas escravo sou
da matéria animal que do distante campo
veio curtida com ecos de verdura
e de tão lenta, infinda paciência.
Como ele cumpro destino de invenção,
de leve e não sabida descoberta
do mundo incompleto.
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Mundo incompleto, e certo,
esse que preenche a minha cave
e lhe rasga as paredes.
.......................Pedro Tamen
(In, O livro do sapateiro, 2010)
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A Profissão Dominante
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Meu Deus como eu sou paraliterário
à quinta-feira véspera do jornal
nadando em papel como num aquário
ejectando a minha bolha pontual
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de prosa tirada do receituário
onde aprendi o cozido nacional
do boçal fingido o lapidário
- fora algum deslize gramatical -
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receio que me chamem extraordinário
quando esta é uma prática trivial
roçando mesmo o parasitário
meu Deus dá-me a tua ajuda semanal
........................Fernando Assis Pacheco
(In, A Profissão Dominante, 1982)

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http://bienaldepoesiadesilves.blogspot.com/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Silves_(Algarve)

http://www.cm-silves.pt/portal_autarquico/silves/v_pt-PT


quinta-feira, 15 de abril de 2010

O EIXO do DESLUMBRAMENTO

Foi recentemente editado o quarto livro da excelente "Tetralogia da Assombração", de Jaime Rocha, intitulado Necrophilia e que teve inicio com Os Que Vão Morrer, Zona de Caça e Lacrimatória, que vem provar ser hoje Jaime Rocha, sem dúvida, um dos mais apelativos poetas portugueses. De Necrophilia, dois dos 50 poemas:

1.
A mulher caminha pelas urzes, no auge

do vento, já depois da morte, enovelada

pelos ramos que cortam a paisagem.

O homem está parado como uma ave

de pedra, batida pelo fumo. Depois, é o

corpo dela desfeito sobre os rochedos,

uma faísca que incendeia um pedaço

de madeira. O homem, amarrado a um

amancha de ferro, contempla o corpo vazio.

Um pássaro cego cai em cima de um espelho.

É o rosto dele despedaçado, a dor.

Tudo é medonho à sua volta, a parte

de trás da luz, a humidade, a respiração

das plantas.
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13.
Toda aquela assombração está gravada

na tinta como se pertencesse a um livro

queimado, roído pelo sol. O homem sabe

que se trata de uma morta, mas não

entende que é a cicatriz do seu peito que

lhe ocupa o sono e o cativa para um ritual

demoníaco. Conhece os seus cabelos, os

lábios a descerem pelas amoras, pela cera.

E toda a sua pele sobressai, pintada na

parede, nos pregos, nas mãos que descansam

em cima de uma toalha. Um navio incendeia-se

contra um recife. É ela ou os seus vestidos a

desaparecerem no horizonte, no fim de tudo.

........................................................Jaime Rocha

Pedro Abrunhosa - Fazer o que ainda nao foi feito

http://www.artistasunidos.pt/jaime_rocha.htm

http://pedroteixeiraneves.wordpress.com/2010/03/31/apostas-propostas-jaime-rocha-necrophilia/

http://contramundumcritica.blogspot.com/2010/04/jaime-rocha-necrophilia.html

sábado, 10 de abril de 2010

IV BIENAL de POESIA de SILVES

Mais uma vez aí está à porta a Bienal de Poesia de Silves. A eterna persistência, o descomunal trabalho e talvez a exponencial loucura de um grupo de pessoas encabeçadas pela Gabriela Rocha Martins, pois nos dias de hoje, conseguir colocar um evento destes em andamento, por muitos apoios (e, naturalmente, é de saudar todo o esforço e compreensão da Câmara Municipal de Silves, a este evento e à cultura, apesar de todas as dificuldades que o país e as autarquias naturalmente passam), alguns mais de solidariedade do que económicos, só pode ser alicerçado em "grandes loucuras".
"Numa organização da Casa Museu João de Deus e da Biblioteca Municipal, Silves será palco, a partir de dia 22 de Abril, da IV Bienal de Poesia. Este evento, que junta inúmeros poetas e entusiastas da poesia, prolonga-se até dia 25 de Abril.
Workshops, mesas redondas, apresentação de livros, concertos e espectáculos animarão estes quatro dias, totalmente dedicados à poesia. Haverá ainda uma homenagem ao escritor Pedro Tamen, que terá lugar no dia 24, pelas 18h30. Nessa ocasião, Maria do Sameiro Barroso fará uma conferência e serão lidos poemas por Paulo Moreira. Também Fernando Assis Pacheco será alvo de uma atenção especial, recordando-se os 15 anos da sua morte, às 15h30 do dia 23."
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De entre os muitos poetas que irão marcar presença na linda cidade de Silves, alguns já consagrados e outros ainda menos conhecidos (que não menos valorosos, aliás essa é uma característica do evento e das escolhas, juntar poetas com nome "feito" e outros ainda jovens, mas de valor) encontram-se nomes como, Eduardo Pitta, Domingos Lobo, Nuno Júdice, Pedro Tamen, Fernando Aguiar, Maria do Sameiro Barroso, Filipa Leal, Maria Azenha, Luís Serrano, Teresa Tudela, Porfírio Al Brandão, Cristina Nery, João Rasteiro, etc., entre muitos outros. A estes juntam-se ainda os artistas plásticos António Ferraz, Daniel Vieira, António Inverno, Maria João Franco, Teresa Mendonça e Sérgio Sá. Da área do cinema a presença de Adão Contreiras e António Castanheira marcará lugar, num evento que irá contar com a moderação de Inês Ramos, Silvestre Raposo e Nassalete Miranda.
Refira-se o facto de a poesia ir ao encontro das pessoas. Às casas de todos os Munícipes (não apenas dos residentes da cidade de Silves) e através de um livrinho de cabeceira, intitulado "há quanto tempo não lê poesia na cama?", e cuja distribuição começará oito dias antes da Bienal e só terminará 15 dias após, com poemas de todos os intervenientes e homenageados na Bienal, a poesia brotará em toda a sua essência!
Silves aguardará por si, pela sua história, pela sua beleza, pela sua hospitalidade e sob o belo sol Algarvio... para ouvir poesia.
Para ver a programação e todas as notícias relacionadas com o evento e participantes, entrar no blogue da IV Bienal de Poesia de Silves: http://bienaldepoesiadesilves.blogspot.com/
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.....................IRIS - Há sempre um amanhã

segunda-feira, 5 de abril de 2010

PURGAÇÃO DIONISÍACA II

Esquilino

1.

Os poemas virão inclusos
quando vier o orvalho,
chegarão antes do pecado.

2.

O seu domínio é infinito,
longa é a garganta do medo
cego o coração do sussurro!

3.

Uma boca deixo, ao dilúvio:
direi um segredo de bronze,
a nocturna borboleta chega.

4.

No princípio era a doçura
e a palavra ousou a lascívia.
Por esta se fará todo o flagício.

5.

É o solstício sob as unhas.
A água separa-nos da sede,
não é só o que a boca refresca.

6.

Quando saboreei a carne
ia saborear a terra – aves
e Vénus vagueiam acesas.

7.

Em sua volúvel gestação
que seria do útero vazio
sem a caligrafia pestilenta?
...........................João Rasteiro

quinta-feira, 1 de abril de 2010

PRÉMIOS

O poeta Hélder Brandão Faria, acaba de obter o prémio de poesia "Medieve Latino" com o livro "410 solstícios". Professor e ensaísta, é um profundo estudioso da época medieval, tendo traduzido imensos textos de S. Agostinho, essencialmente textos de carácter Dogmático e Exegéticos. Não tendo ainda qualquer livro de poesia publicado, Hélder Brandão Faria prepara-se para publicar uma antologia dos seus vários poemas, publicados ao longo de vinte anos em várias antologias e revistas. Segue-se um poema publicado em 2006 na revista "De Trinitate Literare".
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Um país vicentino
..............O dia em que nasci
..............meu pai cantava…
............Fernando Assis Pacheco
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Este é o país, o país é este
este é o país e esmorece.
Este é o país dos cravos.
Este é o país dos resignados,
este é o país e esmorece.
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Este é o país dos prostrados.
Este é o país dos alheados,
este é o país e esmorece.
Este é o país dos vencidos.
Este é o país dos distraídos,
Este é o país e esmorece.
Este é o país dos domados.
Este é o país dos apartados,
este é o país e esmorece.
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Este é o país, o país é este
este é o país e esmorece.
Este é o país dos trovadores.
Este é o país dos navegadores,
este é o país e esmorece.
Este é o país dos poetas.
este é o país dos astecas,
este é o país e esmorece.
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Este é um país vicentino.
Este é o país dos infantes,
este é o país e devaneiam.
Este é o país dos meninos,
este é o país e acreditam…
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Este é o país, o país é este!
.........................Hélder Brandão Faria
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