sábado, 21 de maio de 2011

ROTAS INEXORÁVEIS


   No princípio era o crime (*) 


No princípio era o crime,
o crime limpo que do prodigioso caos
em suas bocas de virgens impolutas
extraía todos os corpos da órbita coaxial
e nos ímanes dos céus fincava
os corações das palavras
que nos sustentam – ele fluiu,
originando os limites nus do mundo,
a vida e a morte blasfemando
a fábula dos findos corpos
nos primeiros caracteres de magia negra,


o êxtase urdido na paixão do sofrimento
e na memória do mundo,
por isso todas as imprescindíveis pragas
irromperam dos espigões,
os ecos carbónicos da demência eclodiram
nas ardósias da sílaba,
as raízes que amavam as origens dos deuses
encantaram para todo o sempre
toda a terra que fervilha em matéria sublime.


No princípio era o crime,
o crime que da chuva renascia fulvo
fornecendo a força das lágrimas,
o espaço de febre em sua arte de ser flor,
o perfume das distinções,
a metamorfose do lírio, o desejo que segreda.
                                        
No princípio era o crime, hoje, apenas, a poesia.
                                        João Rasteiro
(*Poema publicado no blogue em 2008, que foi agora revisto, aumentado e estruturado de forma diferente.

1 comentário:

Mar Arável disse...

é preciso saber amar os vulcões

e as tempestades