sábado, 8 de outubro de 2011

"A ÁRVORE E A NUVEM"


O Nobel da Literatura 2011 foi atribuído ao poeta Sueco  Tomas Tranströmer.  Como alguém já referiu, terá sido um Nobel em que se podera falar do triunfo da poesia. O poeta, que em Portugal é quase um desconhecido, tem poemas publicados apenas em duas antologias. Uma delas, da década de 80, publicada pela Vega, intitula-se "Vinte e um poetas Suecos". Foi coordenada por Ana Hatherly e Vasco graça Moura e a tradução dos 21 poetas esteve a cargo de Almeida Faria, Ana Hatherly, Vasco Graça Moura, Casimiro de Brito e Teresa Salema. Esta antologia foi apoiada pelo Svenska Institutet de Estocolmo e pelo P.E.N. Club Português.


Nesta antologia Tomas Tranströmer tem os seguintes poemas: "As Pedras", "Aquele que acordou com o canto sobre os telhados", "Kyrie", "Allegro", "Lisboa", "O Casal", "Quando a neve derreteu 66", "Citoyens" e "Montes negros". É já uma raridade esta antologia? É. E eu tenho a felicidade de a ter.


Do que li dele, de alguma forma, ainda pouco, parece-me um excelente poeta. Como Tomas Tranströmer escreveu: "Farto de todos aqueles que com palavras fazem palavras mas onde não há uma linguagem; /Dirigi-me para a ilha coberta de neve. /A veação não conhece palavras. /As páginas em branco dispersam-se em todas as direcções. /Eu dei com vestígios de cascos de corça na neve. /Linguagem, mas nenhuma palavra. / -


Será isto o objectivo da poesia? Será isto o grito da poesia? Talvez, talvez seja mesmo.


Da antologia "Vinte e um poetas Suecos", os poemas, "As Pedras", tradução de Teresa Salema e "Lisboa", tradução de Vasco Graça Moura.

As Pedras


As pedras que lançamos, ouço-as
cair claras como o vidro pelos anos fora. No vale
voam agitados os gestos do momento
gritando de copa em copa, calando-se
ao fino ar desse momento, deslizando
como andorinhas de cume
para cume até alcançarem
os planaltos extremos
ao longo da fronteira da existência. Aí caem
claros como o vidro
os nossos actos
ao encontro apenas do chão
que nós próprios somos.

Lisboa


No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes.
Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.
Acenavam através das grades.
Gritavam que lhes tirassem o retrato.

“Mas aqui!”, disse o condutor e riu à sucapa como se cortado ao meio,
“aqui estão políticos”. Vi a fachada, a fachada, a fachada
e lá no cimo um homem à janela,
tinha um óculo e olhava para o mar.

Roupa branca no azul. Os muros quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:
“será verdade ou só um sonho meu?”



http://ibnlive.in.com/news/literature-nobel-for-swedish-poet-tomas-transtromer/190656-40-100.html
http://www.poets.org/poet.php/prmPID/1112
http://en.wikipedia.org/wiki/Tomas_Transtr%C3%B6mer
http://www.pennilesspress.co.uk/prose/transtromer.htm

2 comentários:

Luís Costa disse...

Tranströmer não é excelente, Tranströmer é uma das vozes poéticas mais belas e originais da poesia universal. Eu tenho a obra (uma obra pequena de 200 e poucos poemas) toda - em alemão e em sueco (língua difícil mas que sei ler e compreender alguma coisa) bem como um pequeno livro de memórias. Bom, mas o que interessa é que a poesia conseguiu voltar a Estocolmo. Espero que no próximo ano o Nobel volte a ser entregue a um poeta e porque não o Grande Adonis que tal como o Tranströmer tem sido um dos grandes candidatos ao Nobel. E claro que o Antonio Ramos Rosa também o merece e ou aquele grande poeta de língua espanhola : Antonio Gamoneda. Isto entre muitos outros.

Mar Arável disse...

Os poetas também merecem ser premiados

sem nunca terem contribuído para isso