domingo, 22 de agosto de 2010

PADRÃO

Com a morte de José Saramago, mais do que nos inclinar-mos perante a extraordinária obra do autor, decidi homenagear aquela que contribuiu desmesuradamente, através de várias acções e comportamentos para que a obra de Saramago atingisse um tão grande grau de quase imortalidade - Pilar del Río.
É com o poema intitulado "No Ano da Morte de José Saramago", poema que está inserido na página/site da Fundação José Saramago ( http://www.josesaramago.org/detalle.php?id=890 ) que mais do que homenagear o escritor, pretendi homenagear  a mulher, a âncora de Saramago, Pilar del Río.
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No ano da morte de José Saramago

........................A Pilar del Río
O coração aquece o suco prenhe dos cavalos
e de outros animais. Apenas para iludir
ou amedrontar as pequenas memórias do amor.


É aí nesse espaço e não em todos
os caminhos do pó e da lama infernais
que Blimunda e Baltazar acariciam o pojo
como dois desnudos seres disputando o sol
pela boca dos mais secretos desejos
em busca de todos os líquidos silêncios
do templo e dos múltiplos espaços inaudíveis.


Esses que traçam a sua própria peleja
de vozes. Um deus cheio de pústulas doiradas
pois o fogo imita nos corpos a eternidade da lágrima
que se oculta na sombra inclinada dos círios.


O narrador chega do branco horizonte dos lugares
da azinheira porque ainda não queria morrer
antes das colheitas das águas frescas
que já não desaguam. Mas Blimunda disse: Vem!


E a sílaba acreditou que a morte é lilás
como o amor. E que se há-de perdurar pelo clarão
de coisas assim. Eternamente lilases. A sílaba possível!


Então o narrador despediu-se das palavras rubras
abraçando-as uma por uma até a noite ser queimadura.
...........................................João Rasteiro - 2010
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http://www.josesaramago.org/

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