quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CÂNTICOS


A litania da ausência
                              
                                 e depois os pássaros irão
                         povoar de ti novas ilusões
                                                  Ruy  Belo


Falta-me a pureza do ar
nas obscuras palavras do meu país
e nas viscerais margens de um país,

e entrementes foi espigando o desamor
que a flor também desperdiçou
o meu desamor foi espigando desumano
em ufano país de lúcida quietude
enclausurado numa túnica de impuro sangue
enquanto os animais perduram
na mais recôndita paisagem das chuvas.

Falta-me o fingimento do verbo
nos obscurecidos poemas da minha plebe
e nos íntimos litorais de uma plebe,

falta-me a artificial puridade de Ruy Belo
indicando-nos a sua e nossa simetria de morte,
              
a mais galopante simetria de morte de um país.
                                                                João Rasteiro                                                                    

4 comentários:

© Maria Manuel disse...

faltam pássaros no nosso país, mas não em ti, tuas asas de escrever.

abraço, João.

Mar Arável disse...

... entretanto vamos construindo pontes
mesmo que não passe o rio

Mar Arável disse...

Excelente

Mar Arável disse...

Só podia ser um poema triste
e bem trabalhado