domingo, 11 de dezembro de 2011

DESTINOS

Elegia de Afonso

VI

Porque nunca haverá paz
para aquele que ama os surdos ecos
seu dever é rasgar corações, furtar e matar
seu profícuo devaneio
e deleitar o mundo, quebrar as hastes,
aterrorizar e calcinar
o eixo, a flor, a ave, a nascente, a ordem, em que o sol
somente abrase os lugares vacilantes do altar
onde não se use o coração
pois se o destino é amar em condição
ávidos cruéis e infiéis serão os homens
escravos de um amor de maldição.
Reconhecerá o corpo, o sangue, a pele
a lágrima em seus recantos
e apagar-se-á a luz sobre esta terra
que ousará coisas que nem se crê pranto
pois ela Inês, fêmea maldita
que olhas, tinhas do seu quebranto
na chão fecundo, no verde campo arrastando
os primitivos corpos
germinará para sempre o seu amaldiçoado canto.
Noite alargada à eternidade
contemplando o rosto gentil que escurece
até que o fulgor da morte se torne exílio
e o júbilo dos algozes que é Portugal
de Pêro, Álvaro e Diogo
em fogo para um contentamento porventura ausente
que as lágrimas derramadas
são uma grade, fervores, tormentos
de alucinação se o não fosses
rei esquivo e sempre adiado
viverias sobre o seu peito seu perdimento.

................In, ELEGIAS, 2011 ---  João Rasteiro

Sem comentários: