domingo, 16 de dezembro de 2007

LIVROS

A editora COSMORAMA acaba de editar o excelente livro Cabeças de Pedro Marqués de Armas, com tradução do poeta Jorge Melícias. Pedro Marqués de Armas [Havana, 1965]. Poeta e ensaísta. Publicou os livros de poesia Fondo de ojo [1988], Los altos manicomios [1993] e Cabezas [2001] e o ensaio Fascículos sobre José Lezama Lima [1994]. Foi redactor da revista alternativa Diásporas, publicada em Cuba entre 1997 e 2003. Poemas e ensaios seus saíram no Diario de Poesía, Crítica, Tsé-tsé, Encuentro de la Cultura Cubana, Lichtungen ou Oficina de Poesia. Entre 2005 e 2007 residiu em Coimbra, ao abrigo do projecto Rede Internacional de Cidades Refúgio. Actualmente reside em Barcelona onde é médico psiquiatra.
Aquando da sua partida para Barcelona, Pedro Marqués de Armas afirmou que «Coimbra será sempre para mim lugar de escrita», garantindo que na sua mente levaria sempre o sentimento de que estaria «a perder algo, o Mondego, as ruas estreitas da Baixa» e especialmente o contacto com os muitos amigos que fez. De Coimbra, como afirmou, levou as melhores recordações culturais. «É, sem dúvida, uma cidade de cultura, embora lhe falte intensidade a nível cultural», constatou, recordando os escritores portugueses que teve oportunidade de ler, de conhecer e até de viver, inspirando-se neles para enriquecer uma vida literária dividida entre livros sobre a História da Psiquiatria em Cuba e a poesia.
Coimbra inspirou a sua escrita e marcou a sua vida, de tal maneira que promete voltar em breve, e várias vezes. «Barcelona não fica assim tão longe…» e afinal, tal como havia prometido em Abril de 2005, quando chegou, não só fez vários amigos em Coimbra, e especialmente na Oficina da Poesia, na Faculdade de Letras, a que aderiu logo em 2005 e que hoje considera «o lugar mais acolhedor para a minha escrita e para interagir com os poetas da cidade», não só se dedicou a vários projectos culturais da cidade, como também escreveu aqui dois livros que pretende lançar em breve, na cidade que o acolheu durante um período importante da sua história enquanto escritor e pessoa.

Não sei se é exagero, mas o poeta brasileiro Régis Bonvicino afirmou recentemente, ser Pedro Marqués de Armas, não só um belíssimo poeta, mas estar entre os melhores poetas jovens da actual poesia mundial.
Do livro Cabeças (Cabezas, vencedor do prémio UNEAC de Poesia 2001, em Cuba) o poema:

Mandrágora

Na margem interior da fronteira, que outros preferem chamar beco sem saída, - B. matou-se.

Claro que todas as fronteiras são mentais, e no caso de B. melhor seria falar de duas.

De modo que B. se matou entre a margem interior e a crista de um pensamento que já não se desviava dele.

Para capultar-se, tomou aquelas raízes de um alcalóide que tinha classificado, e, lançando-se sobre a enxerga de troços fusiformes, encontrou por fim o que buscava: rua de uma só direcção em que todos os números estão apagados, e os brancos pedúnculos mentais desvanecem-se numa matéria de sonho.

Pedro Marqués de Armas

(Tradução de Jorge Melícias)

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