quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

PRÉMIOS IX

Pedro Tamen venceu o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava para livros publicados em 2006. Este prémio foi atribuído por unanimidade a Pedro Tamen, por «Analogia e Dedos», da Oceanos, chancela da ASA.O júri foi constituído por Carlos Mendes de Sousa, Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz e Paulo Teixeira.
Analogia e Dedos compõe-se de pessoas, de seres que a sua segura mão trouxe aos leitores que com ele caminharem. Protagonistas dos seus poemas são, por um lado, figuras históricas – passadas ou nossas próximas – e, por outro, personagens do mundo da arte (curiosamente, trata-se aqui de uma divisão artificial, uma vez que Pedro Tamen aborda com a mesma firmeza e sobriedade Moisés, Afonso VI, Raskolnikov, a mosca, ou a lagartixa). Estão no primeiro caso, entre outros, Cleópatra, Herodes, Inês de Castro ou Carlos Paredes; no segundo, Romeu, Ivan Illitch ou Madame Butterfly. Conforme sucedia em muitos dos seus anteriores livros, a tradição católica (e, de uma maneira geral, judaico-cristã) está presente em muitos dos nomes eleitos e em muitas das suas reflexões.
Seja na primeira pessoa, seja sob a forma de breves assaltos narrados por interposta pessoa, Analogia e Dedos percorre um panorama multímodo, um retrato firme e, ainda assim, elusivo de um conjunto de seres que são parte de uma tradição que também nos forma. Da sua boca, ouvimos a inviável luzerna do divino, o abismo humano, a sede terrena, o abandonado terreiro da vida. (Hugo Santos).
Críticas de imprensa: "Analogia e Dedos tem, como sempre, jogos verbais, invenções e inversões, rimas e alterações, vocabulário inesperado e sarcasmo contido ou desabrido. Mas o eixo central é formado por umas escassas dezenas de personagens históricas ou literárias, que Tamen homenageia, interroga ou apouca. Quase todos os poemas levam o nome de uma figura real ou imaginada; mas esta não é uma daquelas galerias solenes e fleumáticas. Desde logo, os poderosos deste mundo têm o tratamento que a História lhes conferiu e que o poeta acentua: a depravação em Alexandre VI, a desgraça vergonhosa em em Afonso VI, a traição feita a César pelo seu amado Brutus. Com Cleópatra, símbolo de sedução, Tamen é particularmente mordaz." (Pedro Mexia).
Do livro Analogia e Dedos, o poema HERZOG:

A minha desforra são palavras.
Levanto-me de manhã amarrotado
pelo peso inclemente das mentira
se vazo no real outro real
das letras que ninguém vislumbrará.
O pássaro que canta é uma palavra,
é uma carta escrita a este, àquele,
que me saiu do lápis da amargura;
tudo se refaria se jamais feita fosse
alguma coisa que a minha mão não desse.
Desforro-me sem gosto. Desforro-me sem gasto,
acorrentado ao que me vem de trás
e ao que virá e que não sei se quero.
Pedro Tamen

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