quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Espaços sagrados

Asa de anjo
.................A Mestre José Rodrigues


Todas as asas de anjo se contrafazem memória
todas têm anzóis fungíveis
e a boca desinquieta por presságios maduros
por despojos do arco-íris cintilando nas gotas de chuva
mais temíveis do que o dobrado coito do sangue
a única forma de amar sem lascívia
o coração desnudado da fímbria do bronze,


como de todos os lugares onde ousaremos o pecado
escuta-se um obsessivo galope de martelos em cio
como se o abismo tivesse músculos brancos,


e uma ágil asa a quem pesa ser a sua própria estirpe
o curso iludido das entranhas
em que se consumiu a nudez do dorso da alma
uma travessia de veias imprecisas
em seu secreto canto de aves e paisagens hagiográficas,


por esses céus atravessam as matrizes do profano
fúrias e perfeições angustiadas
às vezes a incandescente melancolia de pássaros de carícias
como Ícaro no desinquieto voo do sol
pois não há sonho senão do sonho
e há a metamorfose da sílaba que se sacraliza verbo
a fundição que amamenta até consumir o nome,


no cimo de si própria
essa asa assemelha-se a um corpo de ressurreição
quando irrompe o seu útero como cutelos
tentando da criação a criação
a sua sorte como sudários febris e sombriamente brancos.


Depois chegará o anjo tutelar com a máscara do eremita
a repetida subtileza que as mãos em seu pneuma concebem
à promessa forjada – como se florissem o coração dos sismos.
.............................................................João Rasteiro

2 comentários:

Gabriela Rocha Martins disse...

"a única forma de amar sem lascívia"

esculpida num simples beijo

AMIGO

Anónimo disse...

de Cerveira ao Porto, a rota de um grande artista.
Rio (Rui) pelo desprezo qua a cultura do Porto enferma!