domingo, 7 de março de 2010

Destinos

Com a morte, também o amor
.........................................Ao valter hugo mãe
.
Um dia o excelso dilúvio do sangue
queimará a noite, também os livros
jazerão sós sob as túnicas de Istambul,
com a morte, também o amor devia
acabar
– num único e violento segredo.
.
A melancolia esvoaçará dos orifícios
expiando a culpa, as criaturas cinzentas
comover-se-ão pelo calor do tacto,
perecerão sozinhas - como a sua progénie.
.
E haverá a celebração dos precipícios
urdindo o beneplácito das heras, pois a flor
é um corpo excessivamente fresco e mortal,
o sangue, na primavera, é mais vermelho
que o barro nu – a terra é um lírio dobrado.
.
Porque amor e morte têm existência própria
convertem-se, mas os seus monstros subsistem
e subsistirão recolhidos à agonia do tempo
amando-se pelo ventre - até ao fim do mundo.
...................................................João Rasteiro

5 comentários:

Gabriela Rocha Martins disse...

da necessidade urgente de passar por aqui
e porque
reler.te é já um hábito ,como a pele que não se (des)cola



.
um beijo

Rafael Medeiros disse...

Olá, João. És um legítimo celebrador do Precipício!
ME chamo Rafael, moro em Salvador-Bahia-Brasil, e sou grande admirador de tua poesia e pessoa.
Oferto-te um poema meu, abraço!

***
LER

Navalhar o verso
Entalhado com esmero.
Romper-lhe a pele
Aflorando-lhe os nervos
E sorver o sumo
Solvendo-o com olhos-sóis,
Como a sorvetes.

Virar-lhe do avesso
Re-vitalizando-o
Aos poucos.
Aviltando-o,
Evitando academicismos
Como à peste.
Sendo mais seu servo
Que servindo-se dele.

Só de olhar para a coisa, fazê-la funcionar.
Entrar de cabeça na rota dos signos.
Ser signo em rotação com as letras.
Ficando pasmo ante uma imagem poética
Como um tresloucado João
Na ilha de Patmos,

Apocalipsado.

João Rasteiro disse...

Gabriela, a pele já se fundiu!
agora é circular o sangue e inspirar o odor do coração...
Bj. amigo/amiga,

joão

João Rasteiro disse...

Caro Rafael, é um prazer "vê-lo" por aqui. Espero que não tenha surgido por aqui à "deriva"!
Obrigado pelas suas palavras e entre cá & lá: a poesia!
Um grande abraço de Coimbra,

joão rasteiro

João Rasteiro disse...

Caro Rafael, só para dizer, que embora também me chame João e apesar de não me sentir exilado, realmente, cada vez mais nos sentimos uma espécie de apóstolos no centro da poesia. Logicamente, não por a poesia (e o poeta ainda menos) ser algum texto sagrado (talvez tivesse actualmente algum efeito, se cada vez mais fosse uma voz do profano), mas apóstolo, no sentido de falar cada vez mais para o ruído que avança e fere, de morte, tudo à nossa volta. Como se o ruído fosse cada vez mais um silêncio destruidor.
Mas o apóstolo é isso - falar até que alguém o escute, nem que seja para o mandar calar!
Abraço,

joão rasteiro