sábado, 26 de março de 2011

GEOGRAFIAS


O salto do peixe

I

Enquanto desaba a última gota do dilúvio
a árvore despida é o centro do mundo

Entre as raízes um peixe nada
e imagina um mar vertical
que nasce em suas escamas

Entre cada escama guarda
uma onda e nas barbatanas nasce
a espuma do mar


Entre as folhas mortas um peixe salta
e sonha com o rio
que lança suas águas
no céu dos homens

Entre cada salto o peixe assoma
e observa o seu efémero reflexo
desvanecer-se no ocaso das ondas

II


É outono e a árvore não fala
as suas ramadas frias reflectem-se na água
seguem em silêncio o sonho
de um peixe que busca
tocar o coração da árvore

A última folha caiu:

Já é inverno e a árvore cala-se
e as suas raízes estendem-se
até tocar os sonhos
de um peixe que escreve versos
sobre as páginas da
sua crosta.
.................Juan Armando Rojas Joo
In, de Lluvia de lunas, Feta, 1999
Tradução: João Rasteiro
.


http://library.stmarytx.edu/pgpress/authors/juan_armando/index.html

http://experts.owu.edu/expertSourceGuide/experts/rojasJuanArmando.html

2 comentários:

Mar Arável disse...

Há peixes assim

como as palavras

que res+iram por guelras

Gabriela Rocha Martins disse...

quedam.se dos peixes as histórias voadoras

traduzidas em palavras jamais banais


.
um beijo