Elegia da Flor
3.
Era nas tuas sépalas toda a beleza do mundo
o centro pasmado que se estendia
na subtileza do mosto
todavia vida de nocturnas galáxias
entre as formas que são outras formas
o mais disponível pecado
na mínima cavidade de uma flor
deixando que o sémen transborde o coração da terra
e no túmido ofício de jardineiro da piedade
amo a dor eivada de pétalas
pois foi nos afáveis orifícios da primavera
que as flores perderam a idade
e logo aí em mim morreram
metamorfoseando-se em besoiros de incisivas lâminas
que em sua bárbara, insana e carnífice exactidão
cheiram quando se cheira a matéria exacta
o odor de deus, o odor de mim, o odor que mata.
.....................................................................João Rasteiro
1 comentário:
Há flores assim
só de as imaginar
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