sábado, 8 de dezembro de 2007

Prémios VIII

O poeta argentino Juan Gelman foi o galardoado com o Prémio Cervantes 2007, o mais importante prémio literário concedido a autores de língua espanhola, em reconhecimento do conjunto da sua obra (no ano passado, o galardoado foi Antonio Gamoneda). O prémio, no valor de 90.450 euros é atribuído pelo ministério da Cultura espanhol. Juan Gelman, de 77 anos, já recebeu o Prémio Nacional de poesia, na Argentina, o Prémio de Literatura Latino-Americana e do Caribe Juan Rulfo, o Prémio Ibero-Americano de Poesia Pablo Neruda e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americano. Autor de mais de 20 livros desde 1956, quando se estreou com "Violín y otras cuestiones" (violino e outras questões), o escritor concentrou-se primordialmente nos temas do amor, da morte e da dor. A sua poesia foi fortemente marcada pela perseguição que sofreu na ditadura argentina (1976-83). Ameaçado pela Aliança Anticomunista, exilou-se na Itália em 1975. No ano seguinte, o filho e a nora foram seqüestrados pelo regime; ele foi morto e ela desapareceu. Mais de 20 anos depois, Gelman veio a descobriu uma neta no Uruguai. As obras do poeta argentino incluem "Bajo la Lluvia Allena" (debaixo da chuva alheia) e "Amor que Serena Termina.
Em Portugal, poi publicada pela Quetzal Editores, em 1998, uma antologia com poemas de Gelman com o título «No avesso do mundo».
Em Janeiro de 2008 a "A edium editores" procederá ao lançamento do trabalho inédito do recente galardoado pelo prémio Cervantes, da obra "DIBAXU".
Esta obra será apresentada numa edição trilíngue, Sefardita, Castelhano e e traduzida para o Português pelo poeta e ensaísta brasileiro, Andityas Soares de Moura, que em 2007 traduziu(publicação no Brasil) o livro "Com/posiciones".
Do livro "Isso", o seguinte poema:
CHUVA
hoje chove muito, muito,
e parece que estão lavando o mundo.
meu vizinho do lado contempla a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor/
uma carta à mulher que vive com ele
e cozinha para ele e lava a roupa para ele e faz amor com ele
e parece sua sombra/
meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher/
entra em casa pela janela e não pela porta/
por uma porta se entra em muitos lugares/
no trabalho, no quartel, no cárcere,
em todos os edifícios do mundo/
mas não no mundo/
nem numa mulher/nem na alma/
quer dizer/nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim/
como hoje/que chove muito/
e me custa escrever a palavra amor/
porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa/
e somente a alma sabe onde os dois se encontram/
e quando/e como/
mas o que pode a alma explicar?/
por isso meu vizinho tem tormentas na boca/
palavras que naufragam/
palavras que não sabem que há sol porque nascem
e morrem na mesma noite em que amou/
e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá/
como o silêncio que há entre duas rosas/
ou como eu/que escrevo palavras para voltar
ao meu vizinho que contempla a chuva/
à chuva/
ao meu coração desterrado/
Juan Gelman

2 comentários:

Anónimo disse...

É sem dúvida um dos maiores nomes da actual poesia em língua espanhola.

Anónimo disse...

Sem dúvida, sem dúvida magister dixit.