(…) Só duas experiências tornam os seres humanos capazes de participar na verdade-ficção, na metáfora pragmática de eternidade, da libertação dos decretos de dissolução do tempo biológico e histórico, ou por outras palavras, da morte. O primeiro caminho é o das crenças religiosas autênticas para os que a elas se encontram abertos. O outro é a via estética.
São a produção e a recepção de obras de arte, no sentido mais amplo, que nos permitem participar na experiência da duração, do tempo libertado. Sem a arte, a psique humana teria de enfrentar na nudez a extinção pessoal, dando lugar a uma lógica de loucura e de desespero.
É a poeisis (a par, uma vez mais, da transcendência da fé religiosa, e muitas vezes de algum modo em ligação com ela) que autoriza a desrazão da esperança.
Neste sentido de um alcance imenso, as artes são mais indispensáveis aos homens e às mulheres que o melhor da ciência e da tecnologia (são inumeráveis as sociedades que longamente perduraram sem elas). A criação nas artes e na actividade filosófica é, no que se refere à sobrevivência da consciência, de uma ordem diferente da da invenção nas ciências. Somos animais cujo sopro vital é a dos sopros contados, pintados, esculpidos ou cantados.
Não há, não pode haver, nesta terra uma comunidade, por mais rudimentar que sejam os seus meios materiais, sem música, sem uma outra espécie de arte gráfica, sem essas narrativas da recordação imaginada a que chamamos mito e poesia. Há, de facto, verdade na equação e no axioma; mas é uma verdade menor. Estará, porém, a verdade maior das artes segura na maneira como a conhecemos e vivemos até hoje? Terá a poeisis o seu futuro clássico?
In, George Steiner – “Gramáticas da Criação” (pg. 287, 288), Relógio D`Água Editores
São a produção e a recepção de obras de arte, no sentido mais amplo, que nos permitem participar na experiência da duração, do tempo libertado. Sem a arte, a psique humana teria de enfrentar na nudez a extinção pessoal, dando lugar a uma lógica de loucura e de desespero.
É a poeisis (a par, uma vez mais, da transcendência da fé religiosa, e muitas vezes de algum modo em ligação com ela) que autoriza a desrazão da esperança.
Neste sentido de um alcance imenso, as artes são mais indispensáveis aos homens e às mulheres que o melhor da ciência e da tecnologia (são inumeráveis as sociedades que longamente perduraram sem elas). A criação nas artes e na actividade filosófica é, no que se refere à sobrevivência da consciência, de uma ordem diferente da da invenção nas ciências. Somos animais cujo sopro vital é a dos sopros contados, pintados, esculpidos ou cantados.
Não há, não pode haver, nesta terra uma comunidade, por mais rudimentar que sejam os seus meios materiais, sem música, sem uma outra espécie de arte gráfica, sem essas narrativas da recordação imaginada a que chamamos mito e poesia. Há, de facto, verdade na equação e no axioma; mas é uma verdade menor. Estará, porém, a verdade maior das artes segura na maneira como a conhecemos e vivemos até hoje? Terá a poeisis o seu futuro clássico?
In, George Steiner – “Gramáticas da Criação” (pg. 287, 288), Relógio D`Água Editores
.
Chopin Nocturne Op 27 No 1 - Maria Joao Pires
3 comentários:
em absoluta concordância
regresso
após um tempo de ausência
[em ascese]
.
um beijo
Muito obrigado pelo livro e palavras amicaís. Parece um livro ambitioso e plural quanto à forma e conteúdo tambem. Parabens. Quizas possa traduzir uma poema em meu blogue. Outros saíram em Tuli & Savu, bastante logo.
Rita, espero que venhas a gostar do livro. Vais levar algum tempo, principalmente nos textos em prosa-poética.
Se puderes traduzir um poema para o blogue, ficarei bastante feliz.
Vai enviando notícias tuas e aí da Finlandia...se puderes envia também do papai noel!!eh,eh,eh.
E vamos aguardar pelos poemas na revista "Tuli & Savu".
Beijos,
joão
Enviar um comentário