quarta-feira, 25 de março de 2009

Da terra à luz

Eu, com Seamus Heaney, no Palácio de S. Marcos, após um "grandioso repasto" - 2004
O prémio Nobel de 1995, o irlandês Seamus Heaney acaba de receber o prémio David Cohen, atribuído de dois em dois anos a grandes nomes da literatura, como V.S. Naipaul (1993), Harold Pinter (1995) ou Doris Lessing (2001). Poeta presente em Coimbra, como figura principal dos V Encontros Internacionais de Poetas (2004), organizados de três em três anos pelo Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi sem dúvida um dos mais "simples, gentis e disponíveis" dos poetas presentes, não parecendo a ninguém estarmos em presença de um Nobel da Literatura. Daí, ficar muito satisfeito por mais este importante prémio que lhe foi atribuído. Seamus Heaney é um poeta grandioso e magestoso como as sublimes planícies de seu país, é contado e cantador da área rural, dos dias nebulosos, da nostalgia familiar, dos antepessados, da visão arqueológica da própria Irlanda em sua magia, com muitas histórias, épicas ou não, para contar. Aliás, muitos de seus poemas são narrativos - alguns curtos, como A Musa Gutural; outros, mais longos, como a Ilha das Estações. Em baixo dois poemas:
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"O Fragmento"

"Veio a luz do oriente", cantava ele,
"radiosa garantia de Deus, e as ondas aquietaram-se.
Eu podia ver línguas de terra e rochedos acossados.
Muitas vezes, pela coragem mostrada, o fado poupa o homem
se não o marcou já."
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E quando a objecção deles lhe foi dita -
em especial que a sua obra se fizera em fragmentos,
que já não podiam dizer onde estavam com ele,
que já não distinguiam primeira linha ou última linha -
respondeu com uma questão.
"Desde quando", perguntou,
a primeira e a última linha de qualquer poema
são onde o poema principia e termina?"
............................Tradução - Vasco Graça Moura
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"PARA BERNARD E JANICE MCCABE"
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Leito do rio, seco, cheio de folhas quase.
Nós, a escutar um rio nas árvores.
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.................Tradução - José Antonio Arantes
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........................................U2 - BAD Live Aid, 1985

3 comentários:

Luís Costa disse...

Só posso dizer que este poeta,que já conheço há muitos anos, e nao só poeta mas também excelente ensaísta, juntamente com Tranströmer, António Ramos Rosa, Yves Bonnefoy e Adonis, é um dos melhores poetas actuais...
Excelente post.

L.C.

Gabriela Rocha Martins disse...

são assim os GRANDES - modestíssimos e majestáticos


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um beijo

bonecadetrapos disse...

Imponho-me conhecer a obra.
Muito grata

Saudações
*__bonecadetrapos__*