quarta-feira, 12 de agosto de 2009

PORTUGUESIA

PORTUGUESIA – Minas entre os povos da mesma língua / antropologia de uma poética”, é a contraantologia organizada pelo poeta brasileiro Wilmar Silva (recentemente foi editada pela Cosmorama uma antologia da sua poesia - "Yguarani"), lançada no passado dia 10 de Julho na Casa de Camilo Castelo Branco, em S. Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, conforme aqui referi anteriormente e na qual tive a honra de participar (antologia e debates).
Esta enorme e ambiciosa obra , congrega 485 poemas de 101 poetas de Portugal, Brasil (Minas Gerais), Cabo Verde e Guiné-Bissau, com uma particularidade bastante interessante: os poemas foram sequenciados sem uma ordem cronológica, alfabética ou por autor, não estando sequer, assinados ao fundo da página. Cada poema tem apenas uma letra, junto ao número da página que remete então o leitor mais curioso para uma listagem de autores e que, através da letra e do número da página, conseguirá então identificar o autor do(s) poema(s).
Como referiu durante o evento o poeta E.M.Melo e Castro, o nome do autor funcionará assim nesta antologia como verdadeiro índice, e não com mero ícone.
O estratagema criado pelo Wilmar Silva, talvez confira uma maior unidade aos poemas seleccionados/antologiados e poderá dar ao leitor a ideia de uma certa continuidade e a tentativa de através de uma forma inovadora tentar fazer valer os textos/poemas por si mesmo.
A somar ao volume de poemas recolhidos/antologiados, PORTUGUESIA, inclui ainda um DVD com todos os poetas antologiados a lerem/declamarem alguns dos seus poemas (quase todos os poemas que os poetas lêem no DVD, não são os poemas publicados na antologia).
O DVD tem a duração aproximada de 2 horas, mas a alternância de poetas/poéticas, os contextos onde estes lêem os seus poemas e os enquadramentos feitos pelo Wilmar fazem com que esta sequência de vídeos/leituras se torne bastante agradável e sedutora.
Alguns dos nomes que integram esta contraantologia, são Alécio Cunha, António Ramos Rosa, Arménio Vieira, Aroldo Pereira, Babilak Bah, E. M. de Melo e Castro, Fabrício Marques, Fernando Aguiar, Filipa Leal, Gonçalo M. Tavares, Guido Bilharinho, Iacyr Anderson de Freitas, João Miguel Henriques, João Rasteiro, Jorge Melícias, Jorge Reis-Sá, José Luis Peixoto, José Rui Teixeira, Luís Eustáquio Soares, Luís Serguilha, Márcio Almeida, Milton César Pontes, Nuno Rebocho, Oswaldo Osório, Pedro Mexia, Pedro Sena-Lino, Ronaldo Werneck, Ruy Ventura, Tony Tcheca, valter hugo mãe, Wagner Moreira, Waldir Araújo e o próprio Wilmar Silva.
Em conclusão, um projecto interessantíssimo, de um excelente poeta e que afirma de forma repetida a pretensão de que a palavra/termo "Lusofonia" deveria ser substituída de vez pela palavra "PORTUGUESIA", pois o que está em causa é a língua portuguesa.
Infelizmente, pela sua importância (e afirmo tal facto podendo ser suspeito nesta opinião), o livro/antologia/contraantologia não está à venda em Portugal, pelo que para se conseguir um exemplar terá que ser contactada a própria editora ( anomelivros@anomelivros.com.br ).
Embora existisse o apoio de uma autarquia como Vila Nova de Famalicão, o facto é que não estando envolvidas entidades como a CPLP, Ministério da Cultura Portuguesa, Instituto Camões ou outras que "dominam" os meios de comunicação social, as notícias sobre a "Portuguesia" não são propriamente abundantes. Refira-se no entanto o facto de alguns blogues e páginas literárias online, jornais e rádios regionais, e a RTP África, com uma bela entrevista ao Wilmar Silva, se terem referido ao evento.
Segue-se um dos meus poemas integrados/seleccionados pelo Wilmar Silva :
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Círculo
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Ninguém. Só as mãos e as palavras,
do sulco e das raízes vidradas
que dos membros a brecha do muro
é a imagem partida do outro.
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Nada. Apenas uma obscura mágoa,
só o respirar da luz na teia
os dedos que viajam na carícia
e a visão no centro da distância
o calor materno dos animais.
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Extensa. A memória da sombra morde
e se respiro a boca não atinge
o sopro das palavras em fogo
o movimento cruel em suicídio calculado.
................................In, No Centro do Arco, 2003
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