domingo, 18 de outubro de 2009

"A Poesia Portuguesa Hoje" - I

Cumprindo o prometido, começo hoje a publicar os poetas que inclui na antologia que organizei para a revista Colombiana ARQUITRAVE (http://www.arquitrave.com/principal.html). E hoje começo pelo poeta José Tolentino Mendonça, com dois dos poemas seleccionados para a antologia e uma pequena análise à sua poesia, que integra o ensaio de introdução da antologia "A Poesia Portuguesa Hoje":

(...)"José Tolentino Mendonça aporta uma linguagem pura e cristalina, em que se procura a precisão do vocábulo. Possuidora de uma intertextualidade com os textos clássicos e sagrados, a sua poesia reveste-se de um tom quase eloquente que aporta ao sagrado. Poesia que reflecte um certo neo-romantismo de cariz órfico, através de um registo elíptico e atento aos enigmas e abismos do cosmos, desvendando uma imensa sabedoria sobre o caos do mundo. É uma poesia por vezes profundamente jubilatória". - JOÃO RASTEIRO

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A INfÂNCIA de HERBERTO HELDER

No princípio era a ilha
embora se diga
o espírito de Deus
abraçava as águas

Nesse tempo
estendia-me na terra
para olhar as estrelas
e não pensava
que esses corpos de fogo
pudessem ser perigosos

Nesse tempo
marcava a latitude das estrelas
ordenando berlindes
sobre a erva

Não sabia que todo o poema
é um tumulto
que pode abalar
a ordem do universo agora
acredito

Eu era quase um anjo
e escrevia relatórios
precisos
acerca do silêncio

Nesse tempo
ainda era possível
encontrar Deus
pelos baldios

Isto foi antes
de aprender a álgebra
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O SILÊNCIO

Regressamos a uma terra misteriosa
trazemos uma ferida
e o corpo ferido
imprevistamente nos volta
para margens mais remotas

Giorgio Armani tinha declarado
àquele jornal inglês: «o luxo desagrada-me,
é anti-democrático.
Quero agora homenagear os operários de todo o mundo»
Eu só pensava em São João da Cruz
enquanto ouvia pela enésima vez:
«a moda substituiu o luxo
pela elegância»

João da Cruz fala de coroas,
resplendores, casulas
véus de seda, relicários de ouro e
diamantes

para lá do jogo das nossas defesas
qualquer coisa interior
a intensa solidão das tempestades
os campos alagados,
os sítios sem resposta

o teu silêncio, ó Deus, altera por completo os espaços.

..................................................................J. T. M.

AMÁLIA - (10 anos de saudade): Povo que lavas no rio

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Tolentino_Mendon%C3%A7a

http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/jose_tolentino_mendonca/poetas_josetolentinomendonca01.htm

http://www.assirio.pt/autor.php?i=J&id=1353

1 comentário:

Gabriela Rocha Martins disse...

excelente - o dar a conhecer os poetas seleccionados ,assim como os pequenos adventos justificativos dessa selecção


aplaudo ,de pé com



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um beijo