(...)"Ele expulsa dos seus textos as associações lógicas e a lógica aristotélico-cartesiana, cultivando, como refere Nelson Oliveira, os nexos descabidos e as incongruências sintácticas e semânticas. E. M. de Melo e Castro afirma, ser a poesia de Luís Serguilha um mar de palavras, imagens, metáforas, intermináveis e diferentemente sempre iguais, podendo os poemas começar e terminar em qualquer delas, em qualquer lugar e tempo. É pois, uma escrita que se oculta numa densa floresta de signos e que obriga o leitor perdido a encontrar o caminho dos significados, tendo para isso de seleccionar e combinar as palavras através do seu sentido pessoal, de forma a encontrar um caminho no labirinto. A interminável busca da palavra que tortura e alimenta". - João Rasteiro
..............................Canário-do-mar
O álcool das fábulas faz latejar a inesgotável glande do navio
onde as posses desvairadas das legiões tecem unicamente o regresso agrilhoado das baleias
coleccionadas pelas válvulas mitológicas do horizonte
aqui as redes pequeníssimas das cerejeiras mecânicas expulsam as insustentáveis sombras-alambiques
que ludibriam o fogo inspirador das gôndolas
Furtivamente os pássaros inebriados agasalham-se nas parelhas soníferas dos pomares
onde todos as equivalências das ondas se estilhaçam
como os esquadros sazonados dos pulmões a escorregarem nos projectos assimétricos das crisálidas solares
Os dedais dos astros devastam as armadilhas garatujadas nos figos rudimentares das congeminações
para exaltarem o segredo das raízes assobiadoras entre as lajes estonteantes do alagamento cinematográfico
e as mandíbulas frenéticas respiram o esmo tumefacto da labareda conduzida centralmente
pelas fisionomias aquáticas das guitarras
Os novelos persistentes das águas estreitam a invernia imaculada dos loucos relógios porque a rebentação da claridade dardeja
sossegadamente os favos-bailarinos da memória
O músico está solenemente encurvado na indefinível epopeia
ondulando numa submersão distinta como um ser etéreo na genealogia inquebrantável dum povo
e sobre uma quilha encrespada penteia a sumptuosidade do espaço sonoro com o suor nómada da púrpura melancolia
que alinha a muralha reveladora da consciência aos regaços testamenteiros da essência incendiária
O nenúfar arrebatador do património é a generalização excêntrica dum labirinto cadenciado
é a transferência miraculada das indígenas composições
que enxertam as sequências melódicas dos espectros como se a alma fosse um tigre de esferas lucífugas e doces
Os ecos jazzísticos do cavaleiro nobre oferecem os pórticos constelados das borboletas
entre as crinas preciosas das atmosferas pulmonares
aqui os interstícios desatolados das heranças perseguem os sons rutilantes do sangue
que sucumbem felicíssimos nas invenções químicas da rebelde mestria
é neste berço incomparável de movimentos
que as senhas das gaivotas descortinam a insubordinação da música pura
As baladas da transmutação engolem igneamente as cordas transversais do poema
onde as falésias periféricas do coração missionário balanceiam
sobre os bandos acidentais do Tejo
As guitarras intermitentes das águas lançam os teares luminescentes no tropel inumerável das pulsações
que atravessam as biografias infusas das catedrais
que imaginam o esconderijo convulso das açucenas
na invocação cirúrgica do relâmpago
(...)
Os ourives nocturnos das marés abobadadas os ímans secretos dos astros
e as esporas fulgurantes do guitarrista suturam juntamente
as rotações das silhuetas dos visitantes
Os desaguadouros recíprocos das águias os solitários parágrafos dos mondadores e os antelóquios musicais das maças
aceram a infância heráldica das vinhas
As orações sazonais dos embarcadouros enclausuram as lendas ciclónicas dos navegadores
para dilatarem os delineamentos hesitantes das constelações
Os sinónimos árcticos dos veleiros-parábolas as coincidências dos periscópios das torrentes e os meteoros intemporais do guitarrista soldam demoradamente
a curvatura fértil do outono na fidelidade equestre da tempestade
Os caçadores de espelhos eternos emolduram a arqueologia das locomoções no desassossego da notabilidade nas ânforas póstumas dos aluviões
e na eremitagem rebelde do guitarrista onde o tear mutante do oceano restaura a verdadeira morada dos amantes.
........................................................................L. S.
.................AMÁLIA (10 anos de saudade) - Com que voz
http://www.intensidez.com/AutorLuisSerguilha.htm
http://www.germinaliteratura.com.br/luis_serguilha.htm
http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2009/04/02/luis-serguilha-por-jairo-pereira/
2 comentários:
Conheço muito pouco do poeta Luis Serguilha, mas gosto muito do Tolentino Mendonça. De qualquer forma parabéns pela iniciativa, vou acompanhar aqui a publicação dos poetas selecionados por si.
A poesia portuguesa tem bons poetas e é sempre bom a sua divulgação.
Marta
Porque
"Sinuoso muro de ameixas visivelmente aberto
nos açodamentos dos lábios inabaláveis" (Luis Serguilha),
assim me detenho, a cada visita a este espaço, para que a palavra (a minha) não macule a dádiva generosa (a sua) de aqui (tantas vezes) divulgar os outros, ao caso o Luís Serguilha. Por certo poeta a ler, a reler. Um estilo quase único, diria.
Saudações com estima
*___bonecadetrapos___*
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