domingo, 13 de dezembro de 2009

"A Poesia Portuguesa Hoje" - IX

Pela nona vez, a publicação dos poetas, pela ordem de inclusão na revista, que incluí na antologia de poesia portuguesa que recentemente organizei para a revista Colombiana ARQUITRAVE (http://www.arquitrave.com/principal.html), hoje, a poeta referenciada, como habitualmente, com dois dos poemas escolhidos para a antologia, juntamente com a respectiva análise critica à sua poesia e que integra o ensaio de introdução da antologia "A Poesia Portuguesa Hoje", é a poeta Filipa Leal:
" (...)é uma poesia luminosa e em certa medida inumana. Como referiu Eduardo Prado Coelho, ela demarca-se de grande parte da poesia portuguesa que actualmente se vai escrevendo, uma vez que não cultiva “as memórias esparsas, o lirismo difuso, uma certa vulnerabilidade”. Depois das primeiras poesias, de cariz mais confessional, Filipa Leal apresenta agora uma poética mais madura, numa carga simbólica grandiosa na sua relação com a cidade, a natureza, o mundo, que se tornam o quotidiano e a própria pessoa. Ela se estrutura e alimenta com sugestões insistentes de oralidade e um jogo muito sóbrio no uso da metáfora, apresentando-nos uma distorção permanente do uso habitual das frases. E é precisamente essa concisão irradiante das frases que nos deslumbra e arrasta para o poema". - João Rasteiro
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A CIDADE ESQUECIDA

Para o António.
Ela disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele disse: Sou um rio.
Ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.
Ela disse: Não sou exactamente uma cidade.
Uma cidade é diferente de uma cidade
esquecida.
Ele disse: Sou um rio exacto.
Agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: Um pouco de ar entre nós.
Ela disse: Escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
Ele disse: Eu corro.
De telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas mãos libertas.
Ela temeu o adeus, disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele
riu.
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LINHA FONÉTICA

Era uma linha fonética no vidro.
Linha como árvore obsessiva deste livro,
como linha verdadeira, como página
que se organiza por causa dela.
Linha que não era de comboio, linha sem agulhas
penduradas, sem linha da mão, sem linha
de gente do outro lado da linha, de gente
que quer manter a linha. Linha fria de transparência,
fria de vidro, de janela deitada, de tentativa de poema.
Linha sem o branco da noite nos outros, sem o pó
da noite nos outros. Assim era a minha linha:
linha realmente fonética, absolutamente inalterável.
.............................................................F.L.
..........AMÁLIA (10 anos de saudade) - "Tudo isto é fado"

2 comentários:

Gabriela Rocha Martins disse...

uma POESIA em maiúsculas



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um beijo

Anónimo disse...

escrevo nos muros que pensam em ti, é um verso muito bonito. um beijo, joão*