(...)cultiva cada vez mais uma poesia imagética e discursiva, alicerçada na relação do sujeito com o sobrenatural. Como já referiu o próprio poeta, a sua poesia é um lugar habitado por aparições oníricas e fantasmáticas, como memórias difusas, como narrativas subterrâneas ou luminosas, em que Deus paira como na superfície das águas (…), uma poesia neo-simbolista, mitológica e idiossincrática. Uma poesia onde o jogo imagético emerge sempre num presente absoluto que questiona a existência e a transitoriedade da vida. Como refere Pedro Sena-Lino, uma poética com um olhar consciente da transitoriedade do corpo (…), da mecânica do ser e da sua lógica profunda". - João Rasteiro
Os que vão morrer misturam barro
com limalhas e adoecem. O sémen
escorre do interior das mulheres
como se não houvesse promessa
ou manhã nos corpos caídos.
Os que vão morrer adormecem
como se a terra lhes pesasse
desmesuradamente sobre a carne,
como se insectos lhes devorassem
as entranhas. E morrem por amor, creio.
.
Os velhos esperam os filhos dos filhos ao meio dia
como se esmagassem a força dos dedos contra
as carótidas e não houvesse tempo de vê-los crescer.
Atravesso a rua ao meio dia. Oráculo do Senhor.
E estremeço com o olhar lânguido da adolescente
que madura o útero na opacidade comovida
da sua juventude. Repito: o coração é um órgão
incendiado. Mas tu disseste-me: não despertes
o que dorme, não agites as águas paradas;
encontrarás Deus nas margens do grande rio.
............................................................J.R.T.
.........AMÁLIA (10 anos de saudade) - Solidão/"Canção do Mar"
http://equinociodeoutono.blogspot.com/
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