sábado, 23 de outubro de 2010

"Os vasos comunicantes"


Primeira revista-objecto surrealista portuguesa


No dia 09 de Outubro, foi lançada no CAE – Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, a revista Debout Sur L´oeuf, cujo editor é Miguel Carvalho. Como referiu a jornalista Licínia Girão no Jornal de Notícias, “Debout Sur L"oeuf" (de pé sobre o ovo) foi o nome escolhido para a primeira revista-objecto surrealista portuguesa, lançada, anteontem, sábado, no Centro de Artes e Espectáculos (CAE) da Figueira da Foz, por Miguel Carvalho, poeta, editor surrealista e livreiro antiquário. Numa tiragem de 100 reproduções, feitas à mão e com 30 exemplares que comportam seis obras originais de desenho, pintura, fotografia e objectos, assinadas e numeradas, a nova revista "é um lugar de (re)encontros, pondo frente a frente as motivações dos que fazem do seu modo de vida a liberdade, o amor e a poesia", realça Miguel Carvalho. Segundo o editor, a "Debout Sur L"oeuf" (DSO) nasceu no Cabo Mondego e colabora com surrealistas do movimento/grupo criado em torno de Breton, portugueses e internacionais, centrando a sua actividade na produção editorial, mas também na organização de exposições internacionais de surrealismo. (…) A "revista" encontra-se albergada numa caixa de madeira, cujo conteúdo reúne objectos poéticos, folhetos, fotografias, colagens, manifestos, poemas visuais, livretos cosidos manualmente à maneira japonesa de poemas e textos teóricos de colaboradores convidados”.
A revista Debout Sur L´oeuf, integra dois poemas meus, Iniciação”, com fotografia do brasileiro Marcus Salgado (RJ) e “Colmeia”, inserido em “autumn leaves”, colectivo de Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism, constituído por folhas de eucalipto pintadas, fotografia e “pintura” de Seixas Peixoto.
Embora sendo de alguma forma parte interessada, sugiro a sua compra, pois será uma excelente prenda de Natal, quer seja a edição especial (30 exemplares), quer seja a edição normal (70 exemplares), uma vez que se  trata de uma magnífica revista objecto. É sem dúvida um trabalho diferente, mas cativante e muito aprazível. 

COLMEIA

Na juba da boca quando as palavras
não forem senão a saliva das larvas
há um  excesso de língua atravessada
na sombra adolescente de Yanis Ritsos,

no espaço onde a reminiscência é avidez
no sulco mais longínquo da lascívia
alma minha gentil dos espectros viçosos
és a fonte derradeira dos anjos e suplicas:

arrebatam-me de júbilo a íris das abelhas
irrompam-me o coração por bilhas vivas
brotem-me as profundas raízes siderais. 

Há um desejo infundido de livros prenhes
jorrando o hipnótico sopro das geografias
sob um céu diluído pela abertura de um deus

e as vozes murcharão de paixão pelos ferrões
espinhadas pela garganta das crianças nuas.

As construtoras ainda ejacularão o puro mel
fendendo altivas sobre a pele o incesto dos lírios.
...............................................João Rasteiro

2 comentários:

Maria Ribeiro disse...

JOÃO: a plenitude...vivida nos sentidos!
SINESTESIAS ALARMANTES...PORQUE nos despertam sensações adormecidas ,no âmago do SOU...
BEIJO DE
Mª ELISA

João Rasteiro disse...

Olá Maria, é um prazer ver-te por aqui.
Com algum tempo, começarei a visitar-te no teu recanto, nesse "lusibero" lugar de afectos.
Bjs.

joão rasteiro