quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O expurgo

Talvez a água
.
Há certas veias – às vezes corpos
inteiros - que eu não sei se respiram
a água e o seu esplendor de ventre.
Não sei se uma candeia, um fole,
o ângulo do calor, se expande obscuro.
As coisas tornam-se translúcidas
sob os delírios das fêmeas. Mas eu não
conheço o coração, estremeço apenas
com o sabor da argila. Procuro as vozes,
mas os tufos aderem à pele parecendo
uma película de vidro. A luz nua do sol
na textura de Inverno. Sem negligência.
O que sei é que chegam pássaros diferentes
para um lugar diferente. Fímbrias eriçadas.
Nesta mão a língua e palavras às golfadas.
Talvez a água em seu fausto estado de viço.
Porque o sangue incendeia-se topázio
algures e amadurece mel sustendo o fôlego
da demência. Talvez a água – a menstruação
de deuses em roseirais abruptos de melancolia.
João Rasteiro
................Andrea Bocelli - Canto Della Terra

4 comentários:

Gabriela Rocha Martins disse...

respiro.me.TE

POESIA

de+



.
um beijo

Helena Figueiredo disse...

A intensidade das palavras,
o seu eplendor.

Luís

Anónimo disse...

belo!

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Como já nos habituaste....
»...Mas eu não
conheço o coração ,
estremeço apenas com
o sabor da argila.... »
Abraço
_____________ JRmarto