sábado, 28 de março de 2009

Rotas Reinventadas II

.................................Imagem de MIUKI

Cérebro quando poesia
.....................Tive de descrever a tua grandeza, ó meu cérebro,
.....................corola macerada pelo poder da cultura.
................................Fiama Hasse Pais Brandão


.água poesia da largura em si mesmo
a estuar o animal das línguas dos balidos
como espáduas ambas em seu perfil único
de margem flanco poesia outra para corpo,

coração do fragmento ao longo das lascas
palavras nervura que se desfralda frontes
o equilíbrio fugidio das actínias feições
contra o pó poesia entre pedra e silêncio,

abelha ofusca desnuda sombra no tronco
muro poesia ou hortos alvuras dos campos
extensos um olhar do detrás pulsos de luz,

deus usurpando o verbo inicial de Platão
espaço se pétalas e madrugada de astros
geme a magnólia poema em murcha sílaba,

demónios nus do cosmos das comparações
místicas chamas da barbárie a nova ordem
no círculo aberto como se única contrição,

poesia flor - uma como cérebro do eco, poços
ou uma força inacessível em secretos cicios,
odores em distâncias mortas vincadas hélices,

centelhas nuas – mas que dobram áleas, poesia
e nas costas do metal uma figura nova desova,
animais que só procriam a activação das forças,

hoje, da não promessa pragas de eternidade sob
o diluído âmago de profundos centros, a poesia
de múltiplas mortes, gotas do renascer acto pó
formas de fluidas formas da sentença – quando,

em si mesmo da largura poesia água – silêncio.
João Rasteiro
.................................
Blind Zero - Tree

5 comentários:

Gabriela Rocha Martins disse...

um poema mais do que perfeito
descrito

escrito
como se POESIA fosse



.
um beijo

Anónimo disse...

o poeta rasteiro em si mesmo. ou de como a poesia tem múltiplas vidas. gostei muito, joão. um grande beijinho.

Gabriela Rocha Martins disse...

de passagem



.
um beijo

Luís Costa disse...

Estimado João,

devo dizer que o admiro e que gosto da sua poesia,

a qual tenho vindo a seguir com grande curiosidade.

No entanto digo, criticamente, que há, em muitos dos seus poemas ,

a meu ver, um preciosismo formalista ( barroco talvez ) em demasia.

O uso de “ fórmulas “ demasiado complicadas

um tanto ou quanto Herbertianas, mas sem o lado violento, selvagem e visceral desse

poeta, e também uma obsessão um tanto ou quanto perfeccionista, levam a

que muitos dos seus poemas se tornem, claro, aos meus olhos,

demasiado correctos, artificiais e “ lisos “.

A poesia, João, não pertence só ao domínio da perfeição.

Por vezes uma certa imperfeição ( sujarmos mesmo as mãos no barro e nos vermes da terra ),

bem como e um certo estado fragmentário, ajudam.

Mas isto , claro, é o meu modo de ver as coisas, o meu gosto pessoal,

nem mais nem menos.

Um abraço:

L.C.

João Rasteiro disse...

Caro Luís, muito obrigado por estar/continuar atento ao que vou escrevendo. Por vezes, é possível que o tal "preciosismo formalista" possa emergir, ou pelo menos suscitar essa impressão. De qualquer forma, os meus poemas/a minha poesia, continua a navegar em dois processos antagónicos: por um lado, a palavra alastrando mundos através da linguagem (poema tentando reflectir o real(?) e /ou os mundos; e por outro, a palavra multiplicando-se palavra, reemergindo da própria linguagem, a palavra tentando ser(?) a linguagem em si mesmo. E claro, será no equilíbrio da ponte em que nas suas extremidades se situa estes meus dois caminhos/processos que espero, talvez indefinidamente, qua a palavra se acenda sílaba, que o fogo alimento a boca, que o silêncio nos permita escutar o eco, a POESIA. Infelizmente é apenas esta explicação que tenho para lhe dar.
Um grande abraço,

João Rasteiro