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os queridos lugares de Silves
e diz-me se deles a saudade
é tão grande como a minha.
(...)
Mas se retirava as vestes
grácil detalhe mostrando,
era ramo de salgueiro
que me abria o seu botão
para ostentar a flor.
Al-Mutamid - o rei poeta
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(POESIA,LITERATURA e a CULTURA em geral)»»»»»»»»»»»»»»»» "Só existe o tempo único. Só existe o Deus único. Só existe a promessa única, e da sua chama e das margens da página todos se incendeiam. Só existe a página única, o resto fica, em cinzas. Só existem o continente único, o mar único – entrando pelas fendas, batendo, rebentando correndo de lado a lado". __________ Robert Duncan
Iniciação
A cidade dobrou-se para o rio
e o seu útero irrompeu
sobre as águas
rosa a rosa
apoiada por bilhas vivas
auríferas
sopro a sopro
prenhes.
Soube-se então que renascia violenta
entre mandíbulas alagadiças
como a inflexibilidade
da borboleta
acerba.
Em agonia precipitaram-se sobre as casas
e coseram-se com a cal
pelo coração irreconhecível da pedra.
Era uma cidade como um sismo
ininterrupto
atada às víboras do milagre
extremo
incandescente e granítico.
A cidade meteu-se toda para dentro
o sexo descoberto
transformada em réptil de hálito branco.
João Rasteiro
2008
P.S. - link anexado em 23/2/08.
cólera
sem dúvida essa fadiga que entardece
é mais forte do que o vento
o vento que não é da família dos chacais
e me procura com uma lente invisível
.
o vento que racha as paredes
e atravessa a pintura
.
o vento que atravessa a pintura
e diz que os decibéis
das flores que lhe oferto
estão em anomalia
TURVAÇÃO
o homem sórdido não é feito
de palha e milho — colchões de catre sim
são de palha capim e paina
madeira desenhada a nós
mas o homem sórdido é sorumbático
até o fundo vertiginoso da alma
não toma banho
apenas as mãos os olhos os pés
lava antes do sono
o homem sórdido espantou avoantes
dormiu no pomar e ficou silvestre
e não coloriu as íris de arco-
íris
.
atlas
nem one nem um nem eins nas mãos
nem two nem dois nem zwei nos pés
nem three nem três nem drei nos pés
nem four nem quatro nem vier nos pés
nem five nem cinco nem fünf nos pés
nem six nem seis nem sechs nos pés
nem seven nem sete nem sieben nos pés
nem eight nem oito nem acht nos pés
nem nine nem nove nem neun nos pés
nem ten nem dez nem zehn nos pés
cem eleven cem onze cem elf mil mãos cem mil pés
Wilmar Silva
http://www.germinaliteratura.com.br/wilmar_silva.htm
http://virtualbooks.terra.com.br/entrevistas/wilmar/wilmar1.htm
As Madrugadas Esculpidas
♠
este era o coração esculpido da chama
compartilhada no lume reaberto da espiral
profanada no gesto obsceno da lâmina
sobre a linha transparente das águas,
no útero da madrugada os espasmos
da finitude das veias que não cessam
como se de pedra negra o amor inicial.
♠♠
a construção é um espaço descoberto
o movimento lapidado das formas
difusas cicatrizes onde o amor flutua
mastigando as águas como unguento,
as crias dormem com as mãos acesas
fogueiras aprendendo a rota do voo
que reúne em si o vazio e a plenitude.
♠♠♠
no esplendor absoluto do silêncio
dobrado lume sobre lágrimas
amadurecidas veias sobre o nome
Inês que traça o seu próprio curso,
eis o crepitar acelerado do assombro
fincado ao centro o êmbolo puro
que quis decifrar o destino da sílaba.
♠♠♠♠
na noite profunda dormem fundidos
corpos uníssonos na unidade mítica
coroação descascada em uivos densos
atravessados reflexos dos ventos alísios,
o corpo sôfrego do amor sobre a terra
fechada a paisagem obstinada acocorada
na miragem das raízes a boca de Pedro.
♠♠♠♠♠
para acender outra vez aqueles olhos
de lava as águas fecundas do Mondego
sublimam a distância fronteira do golpe
cru o espectro entre as paixões da carne,
a memória álgida no excesso das artérias
filiais as bocas no odre do sangue antigo
com uma lâmina felina e subtil de vigor.
João Rasteiro