domingo, 24 de fevereiro de 2008

Antologia "Palavra do mundo"

Corsino Fortes na antologia Palavra do Mundo:
O poema “Não há fonte que não beba da fronte deste homem”, de Corsino Fortes acaba de ser publicado em Havana (Cuba), numa cerimónia que teve lugar na sede da União de Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC), como parte da antologia de poesia Palavra do Mundo, um dos mais representativos da poesia vanguardista e contemporânea.
Conforme noticia a agência noticiosa AngolaPress, que cita os organizadores, o livro, editado sob a chancela da Colecção Sul, traz obras de poetas de diversas línguas, geografias e culturas, tendências estéticas e filosóficas, dinâmicas geracionais e maneira de assumir a poesia e o acto poético.
São os porta-vozes do mais genuíno pensamento literário contemporâneo em defesa da humanidade, tais como Ernesto Cardenal (Nicarágua), Thiago de Melo (Brasil) Miguel Barnet (Cuba)), Eugeni Entushenko (Rússia), Dario Alvisio (Itália) Elena L. Popescu (Roménia), Fernando Aguiar (Portugal), Benjamím Prado (Espanha), Tito Alvarado (Chile), António Gonçalves (Angola).
Corsino Fortes nasceu em São Vicente, em 1933. Formou-se em Direito em Lisboa em 1966. Ali, após a independência de Cabo Verde em 1975, tornou-se Embaixador por certo tempo. De 2003 a 2006 foi presidente da Associação dos Escritores de Cabo Verde.
Tem vários livros publicados: “Pão & Fonema”, “Árvore & Tambor”, “Pedras de Sol” e “Substância”, reunidos na trilogia “A Cabeça Calva de Deus”. Os seus textos fazem parte de várias outras antologias em língua inglesa, brasileira, francesa, italiana, holandesa, entre outras.
De acordo com o poeta português João Rasteiro, na poesia de Corsino Fortesa insularidade de Cabo Verde aflora numa sintaxe fragmentária e em síncopes”. Nisso, continua Rasteiro, “há a expressão directa e o coloquialismo, ao lado, às vezes, de um tom alto, sempre contrastado por inflexão brutal, vigorosa”. E assim, conclui o poeta luso, Corsino Fortes consegue que nos seus poemas habitem “os arquipélagos por fora e por dentro
”.
TSF
A semana online - Cabo Verde

7 comentários:

Anónimo disse...

Metaplasmos... "Orgasmos"?

Anónimo disse...

O problema é que não tem orgasmos quem quer...mas, naturalmente quem pode!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Um cházinho poético faz sempre bem.

Anónimo disse...

Obrigad. Muito obrigado Sr. João R (JR)
É assim que trata as suas haplologias mentais, poéticas e criativas?
viva Cuba livre... Já se esqueceu da ditadura

Anónimo disse...

Por falar em questões mentais ("viva Cuba livre... Já se esqueceu da ditadura")e outra mais!!!!!!!!!
Estávamos a falar de orgasmos poéticos, e vem falar em política - apesar de há muito eu pugnar pela liberdade em Cuba, a bela Cuba do poeta e amigo Pedro Marques d`Armas -, mas o que é anda atomar?
Sinceramente por hoje, abraços poéticos.

Anónimo disse...

Para o apolítico (tadinho é tão neutral quando fala dos outros e das outras...)

Sr. JR:


Invidia rumpantur ut ilia Codro3.( 3INVIDIA CODRO Para que se rompam de inveja os flancos de Codro.)
Virg., Éclogas,

(...)
Tu, de cérebro pingue, e pingue face
Farisaica ironia em vão rebuças
Com que a penúria ao desvalido exprobras:
Que tem coa Natureza o que é da Sorte?
Ou dá-me o plano de atrair-lhe as graças
(Mas sem que roje escravo) ou não profanes
Indigência e moral, quais tu não citas.

Pões-me de inútil, de vadio a tacha,
Tu, que vadio, errante, obeso, inútil,
As praças de Ulisseia à toa oprimes,
Ou do bom Daniel na térrea estância
Peçonhas de invectiva espremes d'alma,
Que entre negros chapéus também negreja,
E ante o caixeiro boquiaberto arrotas,
Arrotas ante o vulgo a enciclopédia;
Fadas, agouras o esplendor, que invejas,
Arranhas mortos, atassalhas vivos,
Insultas a grandeza, a imunidade
Do eterno Mantuano, e dás a Estácio
Um grau, que entregue ao deus, que ardendo em estro
De Tebas o cantor tentar não ousa,
Quando a Musa da morte enfreia os voos,
E quer que a Eneida cá de longe adore.
Continua.
Afinal, o Sr. JR tem memória cubana.

Aspirina.

Anónimo disse...

Para informar que para esse peditório já dei, por isso da minha parte encerrou "a loja", repiro ENCERROU (mas apareça que é bem-vindo a este espaço.
Seu, J.R.

"CARTA A MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA"

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso,
É possível, tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós,
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse "com suma piedade e sem efusão de sangue"
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irresponsável que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente
quanto haviam vivido ou suas cinzas dispersas
para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que não são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecia em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia,
um dia - mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objeto
que não fruiram, aquele gesto
de amor, que fariam "amanhã".
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

JORGE DE SENA

Anónimo disse...

Para JR recitra antes de dormir em conci*encia apolítica



A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.

Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço. ƒÉs cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não


Jorge de Sena


um chá?