domingo, 17 de agosto de 2008

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade: (Itabira, 31/10/1902 - Rio de Janeiro, 17/08/1987) foi um contista, cronista e essencialmente um extraordinário poeta. Para muitos é o maior poeta brasileiro.

Drummond, como os modernistas, proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação poética à margem das convenções usuais. Segue a libertação proposta por Mário de Andrade; com a instituição do verso livre, acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo (impulso rítmico). Se dividirmos o Modernismo numa corrente mais lírica e subjectiva e outra mais objectiva e concreta, Drummond faria parte da segunda, ao lado do próprio Mário de Andrade.

Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estreias modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um modernista. De facto herda a liberdade linguística, o verso livre, o metro livre, as temáticas quotidianas. Mas vai além. "A obra de Drummond alcança — como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da História, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo Bosi (1994). (Wikipédia online)

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
.

.
Segredo

A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
.
Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.
.
Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.
.
Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
.
Deus triste

Deus é triste.

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.

.
Dorival Caymmi
(Salvador, 30/04/1914 — Rio de Janeiro, 16/08/2008):
Dorival Caymmi e Chico Buarque




http://br.geocities.com/edterranova/drummondpoe.htm

1 comentário:

Anónimo disse...

Drummond provavelmente é o maior poeta brasileiro, ele esmiuçou as vias do cotidiano com um sentimentalismo típico, tropical...
Quando tinha 13 anos e li o poema Morte do Leiteiro, que ainda hoje ecoa em mim; daí despertei para o gosto da poesia.